Por Mouzinho de Albuquerque
REZEI por inspiração, não porque estivesse vazio de ideias para escrever esta crónica, mas sim, por ser um assunto que considero como sendo daqueles que possa não ser suficientemente entendido, tendo em conta a sua complexidade política e de alguma “provocação” com que tento “imprimir”. É a política estúpida? Ou a estupidez é dos nossos políticos?
Por conseguinte, fico muito contente por saber que há muita gente neste país que percebe ou “descobre” a razão das minhas imensas dificuldades na abordagem deste tipo de temas, que mexem com a sociedade, incluindo o poder político instituído.
Até porque a psicologia evolutiva diz-nos que, apesar de vivermos num mundo moderno, estamos ainda programados para resolver os problemas como faziam os nossos antepassados. Acontece que não se pode comparar o incomparável. As épocas não são as mesmas, hoje é preciso prever e assumir os riscos, por exemplo de uma manifestação de contestação disto ou daquilo.
Embora tudo dependa do ponto de vista de cada um, mas é do domínio comum que em África, dum modo geral, convive-se mal com a democracia multipartidária e se todas as manifestações que são organizadas pelos partidos da oposição em alguns países do nosso continente fossem previsíveis, em termos de prejuízos humanos que causam, não passariam dos estágios iniciais.
Do que se sabe e acompanho é que as manifestações de protestos contra má governação, fraude eleitoral ou regime ditatoriais que ainda prevalecem em África têm levado a morte de muitas pessoas com as respostas violentas ou repressivas que os poderes políticos optam.
Na verdade, no nosso planeta, em que o nosso país não é excepção, há muito com que as pessoas possam contra-atacar, por motivações políticas, mas não vejo que seja coerente morrer-se numa manifestação de protesto político, neste caso resultado das eleições, num país de pluralidade democrática. É nestas e outras fervuras políticas que gosto de voltar a lembrar do que deve ou devia ser claro para toda a gente sobre o perigo destas manifestações.
Não me parece que preciso de muito tempo, a imaginar a intenção ou o processo de decisão que leva as pessoas a organizarem uma manifestação e a polícia a atirar a matar, mesmo que elas (manifestações) sejam pacíficas, mas uma força política que se queira destacar das outras de grandeza e inserção no seio do povo, como a Renamo, tende de começar (embora tarde demais) a lançar para cá fora suas estratégias que não façam com que se conclua que ela nunca pensou que a vida política é uma actividade de riscos quando se fazem manifestações mesmo que, como está dito, não atinjam contornos perturbadores.
A pergunta sobre a realização de uma manifestação política, neste caso da Renamo, não é se ela é válida ou inválida, mas se apanharam ou não matéria incriminatória ou será que somos obrigados a lutar constantemente contra nós mesmos para nos manter fiéis eternamente aos partidos políticos? Meditemos profundamente sobre as consequências nefastas que trazem esse tipo de protestos.
Seja qual for o desfecho que será dessas propaladas manifestações que o partido Renamo quer organizar, que logo à partida, apelo que não sejam realizadas se primamos pelo bom senso político de que é necessário evitar o pior, haverá sempre o antes e depois de se saber que elas foram mais um motivo da violência política, que nunca precisamos no nosso país.
É que ficamos chocadíssimos com as mortes dos nossos pais, tios, sobrinhos, avós, vizinhos, colegas de serviço, crianças e outras pessoas que acontecem nessas manifestações que caracterizam o momento menos bom da nossa democracia multipartidária.
Por isso saibamos, como moçambicanos, construir caminhos de paz, de diálogo permanente em prol da maturidade democrática na nossa pátria, e esse caminho passa pela existência do espírito de ponderação e compreensão mútua no tratamento de casos “quentes” como este de manifestações de contestação dos resultados das eleições.
É que está provado que a violência não se resolve com a violência. Não precisamos que haja manifestações em cada pleito que se realiza no país. É que mesmo sendo pacíficas as mortes acontecem na mesma e os autores tanto das manifestações como dos disparos continuam impunes. Sendo assim, apelo à consciência da Renamo para evitar mortes dos moçambicanos inocentes nas suas manifestações. Que também as pessoas não adiram a essas manifestações.
Fonte: Jornal Notícias (03.11.2009)
Sem comentários:
Enviar um comentário