MARCO DO CORREIO
Por Machado da Graça
Olá meu caro Macuácua
Como vai a vida, meu amigo? Do meu lado vai tudo bem, felizmente.
Resolvi hoje escrever-te por causa do que se vai passando neste nosso pobre país.
Pobre país sim, mas não país pobre, porque são duas coisas bem diferentes.
Mas eu explico-te o que quero dizer.
Sempre que se diz que é necessário fazer isto ou aquilo, que precisamos de mais isto e mais aquilo, a resposta imediata é que o país é pobre e não nos podemos dar a esses luxos.
Ainda recentemente, durante a campanha eleitoral, quando os candidatos da oposição prometiam realizar alguma coisa, logo apareciam umas tantas vozes a perguntar onde iria o tal candidato buscar dinheiro para cumprir a sua promessa. Estranhamente essa pergunta nunca era feita em relação às promessas dos candidatos da FRELIMO, mas isso é já outro assunto...
Mas o certo é que existe a ideia de que Moçambique é um país pobre, que não pode fazer muito pelos seus cidadãos porque não tem meios para isso.
Só que agora estamos a ouvir, diariamente, histórias de milhões de dólares a serem desencaminhados de uma empresa pública para bolsos privados.
Milhões de dólares desses verdinhos que os americanos imprimem.
E, aparentemente, essa sangria não afectou a saúde financeira da empresa. As novas instalações, grandiosas, que está a construir em Maputo, não parecem nada estar a ser afectadas por falta de dinheiro.
Portanto, a Aeroportos de Moçambique parece ter dinheiro para um funcionamento com grande prosperidade e, ainda por cima, para permitir uma roubalheira desenfreada feita pelos seus dirigentes.
E, se não fosse um deles ter dado com a língua nos dentes, provavelmente nunca ninguém teria dado pela falta daquele dinheiro todo.
Ora, se acreditarmos que coisas do mesmo género estão a acontecer em muitas outras empresas públicas e ministérios de tutela, e eu acredito, podemos calcular quantos mais milhões de dólares estão a ser abarbatados por trás das nossas costas.
E digo por trás das nossas costas porque aquele dinheiro, que está a ser roubado, é nosso. É meu, é teu, é de todos os moçambicanos.
As empresas públicas não são umas ilhas independentes. Têm dono. São propriedade do Estado, de todos nós.
Os seus rendimentos servem para garantir o seu próprio funcionamento, com a devida eficiência. Mas, se gerarem lucros, esses lucros devem ser entregues aos seus donos, como em qualquer outra empresa privada. E, neste caso, os donos somos nós, representados pelo Orçamento do Estado.
Era para lá que deviam estar a entrar os milhões de dólares desviados. Para ajudar a melhorar os salários dos funcionários públicos, dos professores, dos enfermeiros. Para construir novas escolas e novas barragens, melhores estradas e hospitais.
Só que, em vez disso, o dinheiro foi para comprar casas e terrenos ao senhor Cambaza, pagar os estudos dos filhos do senhor Munguambe, para pagar salários indevidos e o casamento do senhor Bulande, para reabilitar instalações do partido FRELIMO, de que muito provavelmente todos eles são membros, e por aí adiante.
Isto é, para o senhor Cambaza ter várias moradias de luxo, quantos outros moçambicanos vão ter que continuar a viver em casas sem as mínimas condições? Para os filhos do senhor Munguambe terem estudos de qualidade, feitos fora do país, quantos jovens moçambicanos vão continuar a receber um ensino de má qualidade ou mesmo ficar sem ensino nenhum? Para que o senhor Bulande poder ter um salário mensal de quase 2 mil dólares, sem fazer nada, quantos outros funcionários moçambicanos vão continuar a ter salários de fome? Para que o mesmo senhor Bulande tenha tido um casamento de luxo, quantos jovens moçambicanos tiveram que casar quase às escondidas por não terem meios para organizar uma festa condigna? Para o Partido FRELIMO ter instalações bem equipadas para se organizar e concorrer, com força, às eleições, quantos de outros partidos vão ter que continuar a vegetar, sem meios para poderem desenvolver o seu trabalho político?
São todas estas perguntas, meu caro Macuácua, que devem estar na nossa cabeça, sempre que lermos ou ouvirmos notícias deste julgamento.
E, já agora, há que perguntar o que está a fazer naquele banco dos réus uma pessoa que, aparentemente, não roubou nada e cuja honestidade e competência foram fartamente elogiadas nas declarações de quem a conhece bem, o Eng. Viegas, da LAM?
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 04.12.2009 retirado do Mocambique para todos
5 comentários:
Muito bom artigo; como sempre sao as crónicas do Machado da Graça.
Boa Pergunta
E daí? Os corruptos e parceiros de corrupção terão consciência?Acho que não.
De facto aqui esta o grande Machado da Graca a quem idolatro bastante. A quele dinheiro eh de todos mocambicanos, pelo que na minha opiniao, caso seja provado que naquele tribunal estao a ser julgados ladroes, penso que toda corja deve ser punida severa e exemplarmente com uma pena maxima. O lugar do corrupto tem de comecar a ser na cadeia e nao nos ministerios, empresas publicas, parlamentos, governos provinciais e distritais onde roubam e fingem estar comprometidos com a causa do povo.
Tendo em conta o prsente caso, penso que é chegada altura para se fazer uma inspecção séria em todas as empresas publicas que temos, para se averiguar se estão ou não com o mesmo problema que este. Penso que não devemos esperar que surja um outro descontente para que casos desta natureza sejam revelados. Mas aqui surge um outro problema: Quem irá descobrir se neste país os Inspectores não inspeccionam?
Ana Paula,
Quantos corruptos e parceiros da corrupção temos em Moçambique. Quem são os líderes da corrupção? São capazes de terem a consciência?
Patriota,
Achas que serão todos os ladrões do Caso Aeroportos que a serem julgados e punidos? Muitos dos ladrões não permanecerão apenas como declarantes? Muitos dos que conheciam o jogo não serão emsobrados?
Gata
Quem põe o guiso ao gato? O governo? O partido no poder? O Tribunal Administrativo? A Procuradoria Geral da República?
Já viste quantos e quem exigem uma inspecção? Quantos são mesmo na blogosfera? A que se deve o silêncio, tomando em conta as declarações na Francisco Manyanga?
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