Fernando Lima(*)
Está para breve a saída do reitor da mais antiga universidade pública moçambicana. Para o bem e para o mal, Brazão Mazula moldou os destinos da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) durante mais de uma década.Longe vão os tempos do ex-sacerdote doutorado no Brasil que conduziu com notável sucesso as primeiras eleições multipartidárias moçambicanas.
Foi com uma auréola de cultura, sabedoria e espírito de tolerância que Mazula chegou à academia, dominada desde a independência pelo mesmo inequívoco sinal político.
Foi provavelmente um presente envenenado o que lhe ofereceram. Mazula ofuscava as figuras de proa do regime, não exibia cartão partidário, nunca se eclipsou da órbita do catolicismo e poderia ser claramente um candidato presidencial independente.
O presente envenenado transformou-se em casca de banana. Embora não estejam ainda hoje claramente definidos todos os contornos das várias contestações estudantis, muito do que foi feito tinha como objectivo o desgaste de Mazula. Maquiavelismos orquestrados pelas mesmas forças que levaram o homem de paz e consensos à reitoria.
O resto, com o decorrer dos tempos, foram tiros nos pés e o inexorável jogo da aranha e da sua teia pegajosa.
Académico que leva a sério o imperativo de publicar, certamente que Mazula não nos deixará de brindar com as suas próprias reflexões sobre a UFICS(Unidade de Formação e Investigação em Ciências Sociais), uma mancha indelével no percurso da UEM, só comparável com o encerramento unilateral da Faculdade de Direito nos anos 70.
Como se a direita revanchista, humilhada no encerramento da Faculdade de Direito se vingasse na UFICS, eliminando um foco de pensamento independente, depois dos sucessivos lampejos intelectuais desde 1975 na Faculdade de Economia, no Centro de Estudos Africanos, no nado morto que foi a Faculdade de Marxismo e que não era suposta de seguir a cartilha ortodoxa dos “mestres” despachados a partir da RDA.
Perdida a honra, o resto são jogos de poder e baixa política. Exonerações arbitrárias, favores a académicos e estudantes, um saco azul disponível para jornais e jornalistas, jogos de cintura para contornar auditorias e inquéritos a fundos mal utilizados, perseguição aos que colocavam reticências em comer à mesa do rei.
Embora tenha sido o punho de Brazão Mazula que exonerou os académicos Eduardo Namburete e Ismael Mussá, este acto de clara intolerância política evidencia os poderosos tentáculos que acabaram por engolir e vitimar o reitor que um dia veio das terras longínquas do Niassa.
Se dúvidas existiam sobre os caminhos aziagos porque corre a democracia minguada de Moçambique, Brazão Mazula e o seu consulado à frente da UEM oferecem-nos inúmeros e multifacetados estudos de caso. Na hora da partida, estou curioso em conhecer o novo Brazão Mazula. O que conheci nos tempos conturbados do Acordo Geral de Paz.
(*) Espinhos da Micaia
Está para breve a saída do reitor da mais antiga universidade pública moçambicana. Para o bem e para o mal, Brazão Mazula moldou os destinos da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) durante mais de uma década.Longe vão os tempos do ex-sacerdote doutorado no Brasil que conduziu com notável sucesso as primeiras eleições multipartidárias moçambicanas.
Foi com uma auréola de cultura, sabedoria e espírito de tolerância que Mazula chegou à academia, dominada desde a independência pelo mesmo inequívoco sinal político.
Foi provavelmente um presente envenenado o que lhe ofereceram. Mazula ofuscava as figuras de proa do regime, não exibia cartão partidário, nunca se eclipsou da órbita do catolicismo e poderia ser claramente um candidato presidencial independente.
O presente envenenado transformou-se em casca de banana. Embora não estejam ainda hoje claramente definidos todos os contornos das várias contestações estudantis, muito do que foi feito tinha como objectivo o desgaste de Mazula. Maquiavelismos orquestrados pelas mesmas forças que levaram o homem de paz e consensos à reitoria.
O resto, com o decorrer dos tempos, foram tiros nos pés e o inexorável jogo da aranha e da sua teia pegajosa.
Académico que leva a sério o imperativo de publicar, certamente que Mazula não nos deixará de brindar com as suas próprias reflexões sobre a UFICS(Unidade de Formação e Investigação em Ciências Sociais), uma mancha indelével no percurso da UEM, só comparável com o encerramento unilateral da Faculdade de Direito nos anos 70.
Como se a direita revanchista, humilhada no encerramento da Faculdade de Direito se vingasse na UFICS, eliminando um foco de pensamento independente, depois dos sucessivos lampejos intelectuais desde 1975 na Faculdade de Economia, no Centro de Estudos Africanos, no nado morto que foi a Faculdade de Marxismo e que não era suposta de seguir a cartilha ortodoxa dos “mestres” despachados a partir da RDA.
Perdida a honra, o resto são jogos de poder e baixa política. Exonerações arbitrárias, favores a académicos e estudantes, um saco azul disponível para jornais e jornalistas, jogos de cintura para contornar auditorias e inquéritos a fundos mal utilizados, perseguição aos que colocavam reticências em comer à mesa do rei.
Embora tenha sido o punho de Brazão Mazula que exonerou os académicos Eduardo Namburete e Ismael Mussá, este acto de clara intolerância política evidencia os poderosos tentáculos que acabaram por engolir e vitimar o reitor que um dia veio das terras longínquas do Niassa.
Se dúvidas existiam sobre os caminhos aziagos porque corre a democracia minguada de Moçambique, Brazão Mazula e o seu consulado à frente da UEM oferecem-nos inúmeros e multifacetados estudos de caso. Na hora da partida, estou curioso em conhecer o novo Brazão Mazula. O que conheci nos tempos conturbados do Acordo Geral de Paz.
(*) Espinhos da Micaia
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