domingo, outubro 01, 2006

Zuma

Por Fernando Lima(*)

Jacob Zuma(JZ) foi mandado em paz pelo tribunal de Pietermaritzburg e as “nomenklaturas” da África Austral respiraram fundo. Um dos seus permaneceu largos meses perante os holofotes da ribalta, mas não por qualquer trivialidade tipo “fama show”.

Em Julho, Zuma foi absolvido num caso de sexo casual com uma amiga de família, agora era o caso de corrupção envolvendo fornecimentos de material militar à África do Sul por parte de uma empresa francesa. Saiu formalmente ileso nas duas situações. Pelo caminho, no entanto, há uma enorme factura de estragos a cobrar, a começar pelas asneiras cometidas pelo próprio ex-vice presidente sul-africano.

Sugerir que um bom banho de chuveiro afasta de algum modo a possibilidade de infecção com o vírus da SIDA foi claramente um mal serviço à cauda do combate à pandemia no país africano mais afectado do continente. As tiradas à macho siciliano tipo “ela estava mesmo a pedir que lhe fizesse o que fiz” não colam bem à originalidade zulu, numa sociedade largamente politizada como o é a sul-africana. Mas a maior parcela da factura ainda está para vir e tem a ver com a sucessão presidencial sul-africana.

De uma assentada, Thabo Mbeki, que terá de abandonar a presidência em 2009, estendeu a carpete vermelha para que Zuma seja o candidato mártir e o candidato que os sindicatos e o Partido Comunista precisavam para confrontar o “establishment” do ANC, confortável no seu capitalismo colorido e massajado por números macro-económicos, que continuam encorajadoramente positivos.

Com antecedentes, negativos como a cabala montada contra Tokyo Sexwale e Cyril Ramaphosa, Thabo deixou praticamente isolado Zuma como “candidato natural” e a sra. Mlambo-Ngcula, a “sua candidata” foi claramente hostilizada no congresso da COSATU (união dos sindicatos) que se realizou este fim de semana.Mbeki, que é suposto liderar externamente alguns dossiers complicados como o Zimbabwe, está literalmente refém da agenda interna, pelo menos até que se clarifiquem as águas no interior do próprio ANC.

Na frente externa contudo, nem tudo são más noticias. Para as“democracias monopartidarias” da região, onde os dirigentes e o seu cortejo de amigos e familiares se continuam a julgar sempre acima da lei, o caso do camarada JZ mostra que na África do Sul o Estado de direito funciona, a sociedade civil continua vibrante como nunca e a imprensa continua a cumprir o seu papel.

Sem precisar de se amolecar em jenuflexões e mãos dadas com o poder político.

(*)Espinhos da Micaia

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