O académico Brazão Mazula avisou na passada terça-feira, na cidade da Beira que "as balas militares só matam pessoas inocentes e não matam a crise", apelando para a paz e que não se subestime a actual crise política.
"Estamos a viver uma crise que não deve ser menosprezada e minimizada, e todos devemos fazer tudo para evitarmos as balas militares que só matam pessoas inocentes e não matam a crise", afirmou na cidade da beira o antigo reitor da Universidade Eduardo Mondlane, durante uma conferência alusiva aos 20 anos da Universidade Católica de Moçambique.
Brazão Mazula recordou o Acordo Geral de Paz, assinado em 1992 pelo Governo e pela oposição da Renamo e que colocou fim a 16 anos de guerra civil, inaugurando um período que se esperava de uma paz duradoura.
"O adjectivo duradouro transmite uma mensagem de uma paz sem limite, portanto permanente, e não paz às cambalhotas", observou o académico, que foi o primeiro presidente da Comissão Nacional de Eleições, lamentando que, duas décadas mais tarde, as duas partes continuem a atirar as culpas para cima do outro.
"Se assumiram esse compromisso, por que então a instabilidade permanente com ameaças de retorno a guerra? Porque não são consequentes com o acordo que assinaram", questionou, defendendo que a paz é "uma vivência quotidiana".
Brazão Mazula considerou que, em 1992, Governo e Renamo "perceberam que o método de diálogo e de colaboração entre si podem garantir ao país uma paz duradoura", que apresenta como "fundamental para desenvolver o país" e convidou a Universidade Católica de Moçambique a renovar os esforços de reconciliação e pacificação entre as partes, tal como vem fazendo desde a sua fundação.
"O povo moçambicano está cansado de guerra, quer paz, realcem o elemento humano, por favor não nos matem como moscas, nem como galinhas, queremos paz", apelou o académico, considerando que as culturas moçambicanas têm "formas e mecanismos de resolução e mediação de conflitos", apesar de a experiência recente do país demonstrar que "a gestão de conflitos é de pouca dura".
Sob o lema "O papel da Universidade no processo de pacificação, Reconciliação, Democratização e Desenvolvimento da Sociedade", a Universidade Católica de Moçambique realiza a partir de hoje um congresso internacional de dois dias, que reúne académicos e elementos da sociedade civil moçambicana e estrangeira.
"Não se resolve a contradição com a sua eliminação e nem se resolve uma contradição criando outra contradição", declarou Brazão Mazula, na comunicação inaugural do congresso, alertando que se Moçambique não resistir à tendência de solucionar conflitos por via da guerra.
A guerra, disse ainda, "não resolve mas complica mais, não constrói mas destrói, não salva mas mata".
O líder da Renamo não reconhece os resultados das últimas eleições gerais e exige a governação nas províncias onde reclama vitória, sob ameaça de tomar o poder pela força.
Nas últimas semanas, o diálogo de longo prazo entre as duas partes foi rompido pelo líder da Renamo, que recusou um convite para discutir a situação política com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, até obter garantias de cumprimento dos entendimentos de paz já existentes.
Dhlakama recusa também desarmar os militares do seu partido e que se têm envolvido em confrontações com as forças de defesa e segurança moçambicanas em Tete, além de ter anunciado novos quartéis na província da Zambézia e a criação de uma polícia própria.
No sábado, uma coluna em que seguia o presidente da Renamo foi emboscada no sábado, na província de Manica, num ataque que Dhlakama imputou à polícia e à Frelimo.
As duas entidades visadas já negaram o seu envolvimento no ataque, testemunhado pela Lusa, e que permanece por esclarecer.
Fonte: LUSA – 16.09.2015
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