Em Moçambique, o líder do MDM condena os
ataques contra o líder da RENAMO e exige uma investigação para se apurar os
autores. Daviz Simango acha que por detrás disso há um problema de ódio e
vingança.
Na sexta-feira (25.09), a coluna em que
viajava o líder da RENAMO, de Manica a Nampula, foi alvo de uma emboscada – o
maior partido da oposição alegou que se tratou de um atentado de forças do
Governo. Afonso Dhlakama saiu ileso, mas segundo relatos morreram várias
pessoas. Mais tarde várias viaturas da comitiva de Dhlakama foram queimadas. E
ainda relatos de outros confrontos ao longo do fim de semana.
A DW África conversou com o edil da Beira, Daviz Simango, que é também o líder do segundo maior partido da oposição do país, MDM – Movimento Democrático de Moçambique.
A DW África conversou com o edil da Beira, Daviz Simango, que é também o líder do segundo maior partido da oposição do país, MDM – Movimento Democrático de Moçambique.
DW África: Como classifica o ataque?
Daviz Simango (DS): Há
dias houve um atentado contra o líder da RENAMO, e nós como MDM protestamos.
Mas temos de dizer isso à polícia, à justiça e à Procuradoria que investiguem,
quem foi e em que circunstâncias aconteceu. Então, nós temos de condenar o
ataque em si, mas alguém tem de nos dizer quem o fez, não podemos adivinhar
quem foi. É verdade, haverá relatos da RENAMO, haverá relatos das forças [armadas],
mas quem foi? Então, exigimos que as autoridades investiguem. E depois desses
incidentes foram queimadas viaturas muito mais tarde e a polícia diz que foi a
população, mas nós dizemos que não é a população, é uma pura mentira. Como a
população vai queimar as viaturas, ou como a RENAMO queima as suas próprias
viaturas? Também penso que aqui há um problema de ódio e de vingança. Penso que
não podemos construir uma democracia com ódio e é altura de nós os moçambicanos
apendermos a trabalhar em democracia na diversidade. E tem de haver espaço, é
verdade que não concordamos que haja partidos armados, não concordamos que haja
violência, não concordamos que haja ameaças, exigimos o respeito das leis e da
Constituição da República, mas também os governantes têm de ter a capacidade de
respeitar as leis, a Constituição da República e serem humildes o suficiente
para seguirem o povo e não os interesses privados.
DW África: Tem medo que
aconteçam distúrbios como os que aconteçeram na Munhava com relatos de
recrutamento forçado de soldados para servirem as forças armadas?
DS: Com a arrogância que se vive me Moçambique
tudo é possível, mas este não pode ser o nosso desejo. O que nós queremos é
que, de facto, o moçambicano saiba onde e quais são os seus direitos e obrigações
como cidadão, e que também os governantes o saibam respeitar e que prestem
contas a quem governa. O que está a acontecer em Moçambique é que ainda
persiste muita arrogância, não há liberdade de imprensa. Nós ontem tolerávamos
todo processo e aparecia a Rádio Moçambique a dizer que o MDM condenava o
ataque. O MDM não condena o ataque da RENAMO, o MDM condena quem a atacou.
Agora cabe as autoridades dizerem, de facto, provas, estudos, investigações que
foram feitos. E essa investigação tem de ser feita integrando os homens da
RENAMO para a gente descobrir a verdade; a RENAMO tem de dizer como aconteceu
isto e o exército tem de dizer o que aconteceu, mas numa investigação coletiva.
E o que ela nos traz? A verdade. Porque não podemos permitir que haja atentados
contra seja quem for. Este atentado podia visar o líder da RENAMO. Porque se
quer matar o líder da RENAMO? Ele é moçambicano, é nosso irmão, tem de viver
conosco, tem de fazer política conosco. É importante que a FRELIMO entenda que
a oposição não é para ser combatida fisicamente. Este ato nos cheira a
interferência de pessoas ligadas à FRELIMO. Então, por isso pedimos uma
investigação para não fazermos acusações falsas.
Fonte: Deutsche Welle – 28.09.2015
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