A comissão de inquérito criada em Moçambique para investigar o ataque a tiro ao secretário-geral do maior partido da oposição já tem elementos para esclarecer o caso, anunciou hoje o porta-voz da Polícia moçambicana.
"A nossa equipa já está na cidade da Beira [província Sofala, centro de Moçambique] e já tem elementos para o esclarecimento deste caso", disse Inácio Dina, falando em Maputo durante a conferência de imprensa semanal da Polícia da República de Moçambique (PRM), a propósito do ataque, no dia 20 de janeiro, ao número dois da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Manuel Bissopo.
O porta-voz da PRM sublinhou que a prioridade é deter os autores do crime, reiterando que já existem indícios a partir de testemunhos do atentado contra Bissopo.
"Nós estamos a trabalhar com todos, inclusive a vítima", afirmou Dina, indicando que, em momento oportuno, a polícia terá informações concretos para apresentar à comunicação social.
Segundo António Muchanga, porta-voz da Renamo, Bissopo continuava na segunda-feira internado na África do Sul mas apresentava significativas melhoras.
Na sexta-feira, em entrevista à Lusa, o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, responsabilizou a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) pelo ataque a tiro contra Bissopo, acusando o partido no poder há 40 anos em Moçambique de fomentar "terrorismo de Estado".
A Frelimo, por sua vez, lamentou o incidente, no qual não vê motivações políticas, e insistiu na urgência do desarmamento da maior força política de oposição.
O comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Jorge Khálau, anunciou na sexta-feira uma comissão de inquérito para investigar o ataque contra o secretário-geral da Renamo, lamentando o incidente e condenando os seus autores.
A União Europeia e os Estados Unidos já condenaram o balemaneto de Bissopo e pediram o apuramento de responsabilidades, num contexto de escalada de violência política em Moçambique.
Moçambique vive uma situação de incerteza política há vários meses e o líder da Renamo ameaça tomar o poder em seis províncias do norte e centro do país, onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.
Afonso Dhlakama não é visto em público desde 09 de outubro, quando a sua residência na Beira foi invadida pela polícia, que desarmou e deteve, por algumas horas, a sua guarda, no terceiro incidente em menos de um mês envolvendo a comitiva do líder da oposição.
Nas últimas semanas, Governo e Renamo têm-se acusado mutuamente de raptos e assassínios dos seus membros.
A Renamo pediu recentemente a mediação do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e da Igreja Católica para o diálogo com o Governo, que se encontra bloqueado há vários meses.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, tem reiterado a sua disponibilidade para se avistar com o líder da Renamo, mas Afonso Dhlakama considera que não há mais nada a conversar depois de a Frelimo ter chumbado a revisão pontual da Constituição para acomodar as novas regiões administrativas reivindicadas pela oposição e que só retomará o diálogo após a tomada de poder no centro e norte do país.
Fonte: LUSA – 26.01.2016
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