Por Pedro Nacuo
Em Novembro de 2006 um menino de 16 anos de idade, de nome Bonga Issa Agostinho, levantou-se em pleno comício orientado pelo então governador da província de Cabo Delgado, Lázaro Mathe, na sede do distrito de Macomia e colocou um problema sério. Era por causa dos exames em que dos 86 alunos que haviam frequentado a Escola Comunitária de Macomia-sede, 45, portanto mais de metade, tinham perdido o ano. Chumbaram!
Bonga que nem sequer fazia parte do grupo de colegas reprovados, pois havia passado para a décima classe, disse que não gostaria de deixar de apresentar o problema que ninguém do distrito queria levantar. Disse que havia indícios suficientes para duvidar, se bem que, por exemplo, três mulheres de professores e um sobrinho de um deles que, na sua opinião, haviam sido péssimos. Apresentou os nomes dos professores.
Contou a história com um domínio espectacular. O governador, em resposta, pediu que um professor presente explicasse publicamente o que havia acontecido. Explicou assim-assim. O aluno voltou a falar em termos convincentes. O director distrital dos Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologia, chamado a explicar o facto na mesma reunião, disse que o problema se encontrava na direcção provincial do sector. O representante daquele pelouro, que fazia parte da delegação do governador, igualmente chamado a esclarecer deixou muitas penumbras, recorrendo àquilo que se achava como solução, nomeadamente a orientação de que aqueles estudantes deveriam, excepcionalmente, ter o direito de participar nos exames da segunda época.
Bonga insistiu pedindo que a questão não terminasse com o simples recurso aos exames da segunda época, pois havia razões mais que suficientes para duvidar seriamente e estancar o mal pela raiz. Optou-se pelo mais prudente.
Na verdade, era preciso que imediatamente se formasse uma comissão que em pouco tempo desse a resposta a tudo o que Bonga havia posto publicamente em jeito de denúncia. O estudante por ordens do governador foi nomeado membro integrante da referida comissão, mais um popular, para além daqueles que faziam parte do sector acusado.
Bonga parecia um jovem “doutro tempo” principalmente quando disse que sentia que se estava numa clara situação que, querendo, se poderia pensar em corrupção e daí a necessidade de investigar para se saber se há ou não essa prática na Educação. Fê-lo sereno, respeitoso na sua explanação, sem chocar a quem quer que fosse, mas muito contundente. Na altura, sem exagero, consideramo-lo um líder em miniatura.
A atitude de Bonga, infelizmente considerada ingénua por uma boa parte, sobretudo entre os dirigentes do distrito que não gostaram da apresentação pública do problema, porque lhes punha numa situação de coniventes, hoje é vista como precisamente a que falta entre os cidadãos, dirigentes aos diferentes níveis, para que um dia termine o ciclo de mentiras que vem em relatórios, intervenções públicas de quem fá-lo para defender o seu pão. Mentindo! E afinal, Bonga tinha razão, a comissão concluiu o seu trabalho e descobriu-se que os professores, exactamente aqueles apontados pelo menino, eram culpados.
Fizeram-se os competentes processos disciplinares, as respectivas defesas e interpretações, mas chegou-se a uma conclusão muito evidente: houve pelo menos duas palavras que Bonga havia usado na reunião que não faltaram na atitude dos professores: corrupção e nepotismo. Agora estamos a saber, por via do informe da administração do distrito, que foram expulsos dos quadros da Educação. Eram, na verdade, daninhos!
P.S. Está a ser difícil trabalhar com os directores provinciais de Eliseu Machava. Combinei com seis deles, entre 7 e 10 de Dezembro, que fizéssemos a avaliação do seu desempenho em 2008. Ninguém negou, mas até hoje ninguém no dia indicado se dispôs a aceder à entrevista prometida. Razões? Muitas, mas que não explicam a ausência do dever de prestação de contas ao público a quem se diz servir!
Fonte: Jornal Notícias online (27-12-08)
Em Novembro de 2006 um menino de 16 anos de idade, de nome Bonga Issa Agostinho, levantou-se em pleno comício orientado pelo então governador da província de Cabo Delgado, Lázaro Mathe, na sede do distrito de Macomia e colocou um problema sério. Era por causa dos exames em que dos 86 alunos que haviam frequentado a Escola Comunitária de Macomia-sede, 45, portanto mais de metade, tinham perdido o ano. Chumbaram!
Bonga que nem sequer fazia parte do grupo de colegas reprovados, pois havia passado para a décima classe, disse que não gostaria de deixar de apresentar o problema que ninguém do distrito queria levantar. Disse que havia indícios suficientes para duvidar, se bem que, por exemplo, três mulheres de professores e um sobrinho de um deles que, na sua opinião, haviam sido péssimos. Apresentou os nomes dos professores.
Contou a história com um domínio espectacular. O governador, em resposta, pediu que um professor presente explicasse publicamente o que havia acontecido. Explicou assim-assim. O aluno voltou a falar em termos convincentes. O director distrital dos Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologia, chamado a explicar o facto na mesma reunião, disse que o problema se encontrava na direcção provincial do sector. O representante daquele pelouro, que fazia parte da delegação do governador, igualmente chamado a esclarecer deixou muitas penumbras, recorrendo àquilo que se achava como solução, nomeadamente a orientação de que aqueles estudantes deveriam, excepcionalmente, ter o direito de participar nos exames da segunda época.
Bonga insistiu pedindo que a questão não terminasse com o simples recurso aos exames da segunda época, pois havia razões mais que suficientes para duvidar seriamente e estancar o mal pela raiz. Optou-se pelo mais prudente.
Na verdade, era preciso que imediatamente se formasse uma comissão que em pouco tempo desse a resposta a tudo o que Bonga havia posto publicamente em jeito de denúncia. O estudante por ordens do governador foi nomeado membro integrante da referida comissão, mais um popular, para além daqueles que faziam parte do sector acusado.
Bonga parecia um jovem “doutro tempo” principalmente quando disse que sentia que se estava numa clara situação que, querendo, se poderia pensar em corrupção e daí a necessidade de investigar para se saber se há ou não essa prática na Educação. Fê-lo sereno, respeitoso na sua explanação, sem chocar a quem quer que fosse, mas muito contundente. Na altura, sem exagero, consideramo-lo um líder em miniatura.
A atitude de Bonga, infelizmente considerada ingénua por uma boa parte, sobretudo entre os dirigentes do distrito que não gostaram da apresentação pública do problema, porque lhes punha numa situação de coniventes, hoje é vista como precisamente a que falta entre os cidadãos, dirigentes aos diferentes níveis, para que um dia termine o ciclo de mentiras que vem em relatórios, intervenções públicas de quem fá-lo para defender o seu pão. Mentindo! E afinal, Bonga tinha razão, a comissão concluiu o seu trabalho e descobriu-se que os professores, exactamente aqueles apontados pelo menino, eram culpados.
Fizeram-se os competentes processos disciplinares, as respectivas defesas e interpretações, mas chegou-se a uma conclusão muito evidente: houve pelo menos duas palavras que Bonga havia usado na reunião que não faltaram na atitude dos professores: corrupção e nepotismo. Agora estamos a saber, por via do informe da administração do distrito, que foram expulsos dos quadros da Educação. Eram, na verdade, daninhos!
P.S. Está a ser difícil trabalhar com os directores provinciais de Eliseu Machava. Combinei com seis deles, entre 7 e 10 de Dezembro, que fizéssemos a avaliação do seu desempenho em 2008. Ninguém negou, mas até hoje ninguém no dia indicado se dispôs a aceder à entrevista prometida. Razões? Muitas, mas que não explicam a ausência do dever de prestação de contas ao público a quem se diz servir!
Fonte: Jornal Notícias online (27-12-08)
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