Por José Machado
A CRISE do Zimbabwe parece ter atingido o ponto de ruptura e de grande periculosidade. A retirada de Morgan Tsvangirai da disputa da eleição presidencial e a recusa das autoridades em suspender o acto previsto para hoje faz-nos desenhar vários cenários do futuro do país.
As consequências dessa crise, como se sabe caem também sobre todos os vizinhos do Zimbabwe, mas, paradoxalmente, desde o início do problema, pouco se viu da acção dos líderes regionais para debelar o problema.
Assentes na política da não-ingerência, os líderes da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento de África Austral) adoptaram ao que chamam de "diplomacia silenciosa", que resultou, na prática, no arrastamento do problema até o actual estágio.
É ponto aceite, em muitos meios diplomáticos, que Moçambique e África do Sul (e também Angola) teriam (têm) força para fazer "vergar" Mugabe. Porém, quer um quer outro, têm, pelo menos publicamente, assumido posições de compadre. Aliás, num cínico puritanismo político, o chefe de Estado sul-africano, Thabo Mbeki, mesmo na qualidade de mediador, sempre se recusou a empregar o termo de crise para qualificar a situação zimbabweana.
A crise entra hoje, caso se realize a eleição, numa nova e perigosa etapa. Porém, a preocupação imediata que se põe, não é tanto com os vários futuros por que o Zimbabwe pode seguir após a votação, mas a legitimidade do já definido vencedor. Com a retirada do seu adversário, Robert Mugabe poderia ser proclamado automaticamente eleito. O regime quer, no entanto, as urnas para uma auto-sustentação moral dessa validade política.
Mas tal legitimidade assenta sobre uma base de valores antidemocráticos. A violência contra partidários da oposição e, mais grave, as declarações das chefias das forças de segurança segundo as quais não aceitariam outro vencedor que não Mugabe e a afirmação deste, a 12 de Junho, de que os veteranos de guerra (seus correligionários) pegariam em armas caso ele perdesse, são razões suficientes para levar qualquer um a desistir.
A SADC pediu quarta-feira o adiamento da eleição. Se Harare avançar com o escrutínio será tempo da organização regional assumir uma postura de firmeza.
Recentemente, alguns dos seus membros - Angola, Botswana, Suazilândia, Zâmbia - afirmaram ser altura da SADC "mostrar os dentes". Em nossa opinião, uma maneira de mostrar esses dentes é questionar a validade da eleição de Mugabe.
A Grã-Bretanha e EUA apelaram ao não reconhecimento do novo velho regime. Mas apesar de todo o seu poder económico-financeiro, o Ocidente tem poucos meios de pressão sobre Mugabe. O peso da responsabilidade para a resolução da crise cai sobre a UA e a SADC em particular.
O apelo para a não aceitação do regime de Harare, deve ser assumido por todos membros da SADC e, consequentemente, pela União Africana, não como resposta ao chamado de Londres ou de Washington, mas como assumpção das suas responsabilidade para garantir a estabilidade regional.
O que queremos dizer que é caso se realize a eleição, o Zimbabwe deve ser suspenso quer da SADC quer da UA, até que se encontre uma plataforma para a estabilização do país.
Não é a hostilização ou a diabolização do regime de Harare que defendemos, mas simplesmente que cada Estado-membro seja coerente com os princípios democráticos que adoptou ante o seu povo e o mundo. Ou será que todos têm telhados de vidro?
Fonte: Jornal Notícias online
A CRISE do Zimbabwe parece ter atingido o ponto de ruptura e de grande periculosidade. A retirada de Morgan Tsvangirai da disputa da eleição presidencial e a recusa das autoridades em suspender o acto previsto para hoje faz-nos desenhar vários cenários do futuro do país.
As consequências dessa crise, como se sabe caem também sobre todos os vizinhos do Zimbabwe, mas, paradoxalmente, desde o início do problema, pouco se viu da acção dos líderes regionais para debelar o problema.
Assentes na política da não-ingerência, os líderes da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento de África Austral) adoptaram ao que chamam de "diplomacia silenciosa", que resultou, na prática, no arrastamento do problema até o actual estágio.
É ponto aceite, em muitos meios diplomáticos, que Moçambique e África do Sul (e também Angola) teriam (têm) força para fazer "vergar" Mugabe. Porém, quer um quer outro, têm, pelo menos publicamente, assumido posições de compadre. Aliás, num cínico puritanismo político, o chefe de Estado sul-africano, Thabo Mbeki, mesmo na qualidade de mediador, sempre se recusou a empregar o termo de crise para qualificar a situação zimbabweana.
A crise entra hoje, caso se realize a eleição, numa nova e perigosa etapa. Porém, a preocupação imediata que se põe, não é tanto com os vários futuros por que o Zimbabwe pode seguir após a votação, mas a legitimidade do já definido vencedor. Com a retirada do seu adversário, Robert Mugabe poderia ser proclamado automaticamente eleito. O regime quer, no entanto, as urnas para uma auto-sustentação moral dessa validade política.
Mas tal legitimidade assenta sobre uma base de valores antidemocráticos. A violência contra partidários da oposição e, mais grave, as declarações das chefias das forças de segurança segundo as quais não aceitariam outro vencedor que não Mugabe e a afirmação deste, a 12 de Junho, de que os veteranos de guerra (seus correligionários) pegariam em armas caso ele perdesse, são razões suficientes para levar qualquer um a desistir.
A SADC pediu quarta-feira o adiamento da eleição. Se Harare avançar com o escrutínio será tempo da organização regional assumir uma postura de firmeza.
Recentemente, alguns dos seus membros - Angola, Botswana, Suazilândia, Zâmbia - afirmaram ser altura da SADC "mostrar os dentes". Em nossa opinião, uma maneira de mostrar esses dentes é questionar a validade da eleição de Mugabe.
A Grã-Bretanha e EUA apelaram ao não reconhecimento do novo velho regime. Mas apesar de todo o seu poder económico-financeiro, o Ocidente tem poucos meios de pressão sobre Mugabe. O peso da responsabilidade para a resolução da crise cai sobre a UA e a SADC em particular.
O apelo para a não aceitação do regime de Harare, deve ser assumido por todos membros da SADC e, consequentemente, pela União Africana, não como resposta ao chamado de Londres ou de Washington, mas como assumpção das suas responsabilidade para garantir a estabilidade regional.
O que queremos dizer que é caso se realize a eleição, o Zimbabwe deve ser suspenso quer da SADC quer da UA, até que se encontre uma plataforma para a estabilização do país.
Não é a hostilização ou a diabolização do regime de Harare que defendemos, mas simplesmente que cada Estado-membro seja coerente com os princípios democráticos que adoptou ante o seu povo e o mundo. Ou será que todos têm telhados de vidro?
Fonte: Jornal Notícias online
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