-Defende Graça Machel
Por Emídio Muchine
A onda de intolerância e ódio contra os estrangeiros na África do Sul é uma clara resposta dos cidadãos mais pobres deste país para com a exclusão social a que estão votados devido ao fraco impacto das políticas governamentais, defende Graça Machel, Presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade.
Falando durante a Conferência Internacional sobre a Xenofobia na África do Sul, realizada ao longo do dia de ontem, terça-feira, em Maputo, Graça Machel fez uma análise exaustiva e académica sobre este fenómeno que está a afectar sobremaneira cidadãos de vários países do continente que lá residiam ou trabalhavam. «Acordámos de um momento para o outro sujeitos à onda de ódio, intolerância e brutalidade que à primeira vista era injustificada, dada a aparente harmonia e relativa calma que sempre existiram nas zonas mais pobres», afirmou.
Para Graça Machel, a violência terá começado nas cidades onde os mais pobres atacam os também mais pobres que vivem em condições desumanas. «O Governo Sulafricano não sabe sequer o número de pessoas que afluem às cidades, provenientes das zonas rurais».
Estimou em cerca de três milhões o número de Zimbabweanos que entraram na RAS no período de um ano, acrescentando que devido à política de integração regional e abolição de vistos de entrada, que visa a livre circulação de pessoas e bens, o afluxo de moçambicanos na chamada terra do rande sofreu um grande incremento, razão por que a situação atingiu contornos dramáticos, difícil de controlar pelas autoridades locais, devido ao excessivo número de imigrantes. Para piorar a situação, cidadãos dos países da região dos grandes Lagos usam o território nacional como trânsito para a África do Sul. «Entram desordenadamente e sem serem registadas, tornando a sua absorção impossível. A subida do preço do pão nos subúrbios, onde a pobreza é dramática, faz com que estas pessoas que vivem em condições desumanas usem o seu ódio contra os estrangeiro, como forma de revolta contra a sua marginalização».
Crítica a regimes políticos
Graça Machel criticou o sistema de governação praticado pelos regimes políticos dos países afectados, que leva as pessoas a viverem em condições deploráveis, o que faz com que se revoltem. Deu exemplo de casos ocorridos no Ruanda, Quéniatambém em Moçambique, no dia 05 de Fevereiro.Afirmou que os cidadãos que regressaram aos seus países de origem poderão, num futuro muito breve, se não forem devidamente reintegrados no campo produtivo, rebelar-se contra o respectivo Governo, por desespero acentuado, citando o exemplo dos somalis que ameaçaram suicidar-se em massa nos campos de refugiados onde estão albergados.
A finalizar, a Presidente da FDC disse que teve a iniciativa de realizar esta reunião como forma de as diversas organizações e entidades nacionais e internacionais, particularmente da região, terem uma abordagem comum para lidar com este fenómeno, a fim de evitar o envenenamento das relações entre os países, que estão a ficar profundamente divididos. «Esta abordagem terá como vector comum a solidariedade entre os mais pobres, garantindo-lhes acesso á habitação condigna, comida e fontes de rendimento aceitáveis à condição humana».
Fonte: Matinal, edicão de 11 de Junho de 2008
A Conferência sobre as manifestações de xenofobia na RAS foi coorganizada pela FDC e pela Southern Africa Trust, uma organização independente regional, sediada na África do Sul
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