É surpresa o que se passa hoje na África do Sul? Para muitos assim parece, mas para mim o que me surpreende é o silêncio manifestado por aqueles que já deviam ter reagido a tempo de evitar uma crise vergonhosa como a que se vive actualmente. Podemos até imaginar quem se ri de nós.
Uma das coisas que me surpreende é que, enquanto que em África se ignoravam os sintomas da xenofobia na África do Sul, na Europa, mais concretamente, na Suécia, houve quem publicava isso como grande preocupação. Em Outubro passado, postei aqui um texto falando de um artigo dos Grupos África da Suécia (GAS). Introduzi-o em português, prometendo traduzi-lo, mas porque não senti algum interesse, optei por cancelar. Não notei a falta de interesse por não ter tido comentários no meu blog, algo pelo qual não me importo, podendo ficar aqui registado como uma das seis coisas que não me importam. Notei isso porque eu já tinha dado comentários falando da xenofobia na África do Sul, em particular contra os milhões de zimbabweanos refugiados naquele país no Imensis e dois outros blogues muito frequentados, sendo um deles de académico da praça. Sobre isto ninguém comentou senão apenas uma manifestação contra ou a favor de Mugabe. Mas isto é uma das consequências da política do Robert Mugabe.
Qualquer analista de problemas de refugiados na região podia até lembrar-se do que aconteceu aos moçambicanos no Malawi durante a guerra civil em Moçambique. A situação no Malawi não atingiu estes níveis por duas razões: a primeira porque os malawianos não podiam acusar os refugiados moçambicanos de lhes roubar o emprego: o Malawi não tem indústrias como a África do Sul! A única acusação era de que os moçambicanos ocupavam as terras férteis. Segundo, porque quando os malawianos ficaram saturados, o conflito armado estava a terminar e o ACNUR agiu com rapidez na repatriação dos nossos refugiados e paradoxalmente contra a vontade do governo moçambicano.
Na verdade o que acontece hoje na África do Sul precisa de uma análise profunda posto que a diplomacia silenciosa à crise zimbabweana é uma das responsáveis. Os governos da região nunca quiseram aceitar que a crise atingiria aos seus países e a esta proporção. Tenho dúvidas se os milhões de zimbabweanos na África do Sul têm estatuto de refugiados. E se não têm a que se deve? Como é que eles devem ser considerados? Ilegais, não é um bom termo? E sendo ilegais como se espera que eles sejam tratados? O mesmo podemos perguntar sobre os zimbabweanos em Moçambique que fugiram do regime ditatorial do Mugabe.
Os governantes da região querem fazer-se de heróis, mas eles são os grandes responsáveis por estes acontecimentos. Eles são os grandes xenófobos.
Uma das coisas que me surpreende é que, enquanto que em África se ignoravam os sintomas da xenofobia na África do Sul, na Europa, mais concretamente, na Suécia, houve quem publicava isso como grande preocupação. Em Outubro passado, postei aqui um texto falando de um artigo dos Grupos África da Suécia (GAS). Introduzi-o em português, prometendo traduzi-lo, mas porque não senti algum interesse, optei por cancelar. Não notei a falta de interesse por não ter tido comentários no meu blog, algo pelo qual não me importo, podendo ficar aqui registado como uma das seis coisas que não me importam. Notei isso porque eu já tinha dado comentários falando da xenofobia na África do Sul, em particular contra os milhões de zimbabweanos refugiados naquele país no Imensis e dois outros blogues muito frequentados, sendo um deles de académico da praça. Sobre isto ninguém comentou senão apenas uma manifestação contra ou a favor de Mugabe. Mas isto é uma das consequências da política do Robert Mugabe.
Qualquer analista de problemas de refugiados na região podia até lembrar-se do que aconteceu aos moçambicanos no Malawi durante a guerra civil em Moçambique. A situação no Malawi não atingiu estes níveis por duas razões: a primeira porque os malawianos não podiam acusar os refugiados moçambicanos de lhes roubar o emprego: o Malawi não tem indústrias como a África do Sul! A única acusação era de que os moçambicanos ocupavam as terras férteis. Segundo, porque quando os malawianos ficaram saturados, o conflito armado estava a terminar e o ACNUR agiu com rapidez na repatriação dos nossos refugiados e paradoxalmente contra a vontade do governo moçambicano.
Na verdade o que acontece hoje na África do Sul precisa de uma análise profunda posto que a diplomacia silenciosa à crise zimbabweana é uma das responsáveis. Os governos da região nunca quiseram aceitar que a crise atingiria aos seus países e a esta proporção. Tenho dúvidas se os milhões de zimbabweanos na África do Sul têm estatuto de refugiados. E se não têm a que se deve? Como é que eles devem ser considerados? Ilegais, não é um bom termo? E sendo ilegais como se espera que eles sejam tratados? O mesmo podemos perguntar sobre os zimbabweanos em Moçambique que fugiram do regime ditatorial do Mugabe.
Os governantes da região querem fazer-se de heróis, mas eles são os grandes responsáveis por estes acontecimentos. Eles são os grandes xenófobos.
22 comentários:
Os governantes da região querem fazer-se de heróis, mas eles são os grandes responsáveis por estes acontecimentos. Eles são os grandes xenófobos
Gostei desta passagem. eles são xenofobos sim. e na verdade a maior percentagem da culpa por tudo o que está a acontecer é dos nossos governos da região, que se escondem em amizades históricas enquanto o povo chora.
abraço
Caro Reflectindo,
Quem causou explodir o barril de pólvora na Africa do Sul foram Mugabe, o silêncio cúmplice de Mbeki e a passividade dos “muito bons amigos” perante a crise e o grande fluxo dos refugiados do Zimbabué para Africa do Sul e outros países da região. Tudo isso resultou e continua a resultar em graves consequências económicas, sociais e políticas para todos nos. A violência xenófoba na Africa do Sul não me surpreendeu. Já no 26 de Marco escrevi no Imensis: “Quem vão pagar são os Estados que têm fronteiras com o Zimbabué. Uma segunda onda de refugiados vai inundar os países da região.” Os responsáveis e co-responsáveis pelos efeitos da tirania e ignorância hoje preferiram lavar as suas mãos na inocência. Aqueles que choram lágrimas de crocodilo sobre as crueldades na Africa do Sul, já desde anos ignoram a as crueldades de Mugabe. Quem paga o preço pelos “muito bons amigos” são os Povos da Africa Austral. Os problemas por detrás os acontecimentos na Africa do Sul estão longe de serem resolvidas. Igual se no pais de Mbeki, no Zimbabué ou em Moçambique. Partilho claramente a opinião do amigo Desmond Tutu, o que culpou os nossos “famosos” dirigentes pelo sofrimento dos imigrantes e refugiados.
Um abraço
Oxalá
Fernando Fazenda, o embaixador de Mozambique na RSA considerou que esta e' uma situação, de facto, dramática por que passamos e provavelmente poderemos voltar a passar.
Mas o que nos aborrece a no's e' a maneira leviana e nao viva como o nosso governo trata este assunto. Penso que a posicionamento, se e' que ouve, do Governo de Mozambique nao foi forte de maneiras a que a Africa do Sul reconhecesse este mal perante o nosso estado.
Quanto eu saiba houve desculpas de Tutu (arcebispo) e do Mbeki mas que nao se dirige especificamente a mocambicanos. O nosso governo nem sequer pensou que o se perderam na Africa do Sul foram vidas humanas e bens.
Havera' reparos destas percas por parte dos sul africanos, ou vai ser um ciclo vicioso de maltratos xenofobos sem que alguem haja?
Dede'
Caros Jorge Saiete, Oxalá e Dede obrigado pela vossa contribuição
Os nossos governantes nos imaginam enganáveis e pessoas (não cidadãos) sem visão. E aí está, escondem amizade enquanto o povo chora. Ora vejamos, que sinais há quanto à situação no Zimbabwe, quando o candidato presidencial vencedor das eleições e muitos dos membros do seu partido também vencedor vão ao exílio, fugindo do ditador derrotado? Como vêem os sul africanos a segunda volta das eleições presidenciais no Zimbabwe? Não é apenas para produzir ainda um número elevado de refugiados e coroar Mugabe? Porquê os governantes da região não reconhecem o vencedor das eleições no zimbabwe? Não é por Tsvangirai e o seu partido serem estranhos no clube? E isso não é Xenofobia?
Lamento que haja gente, em particular jornalistas, que não tem punho de os encostar à parede. Porquê não perguntar a esses governantes se isto aqui constitue surpresa para eles?
Não há dúvidas, Oxalá: quem paga sobre a crise zimbabweana somos nós. Entretanto, acho que a nota atingirá o máximo se não tomarmos uma cautela imediata.
caro amigo,
os zimbabweanos ilegais na áfrica do sul não podem ser considerados refugiados devido à uma pequena "tecnicalidade": não há crise no zimbabwe. a linguagem é um artefacto arranjado para que não se dê o auxílio devido aos zimbabweanos. se reparaste, mbeki recusou-se a dizer que havia crise no zimbabwe. é que sabia de antemão que se o fizesse, abria uma lata de vermes.
Surpresa? De forma nenhuma! O que nos deveria surprender era uma atitude contraria.
A situação que hoje se vive é do agrado de muitos sobretudo dos sul-africanos que fazem uma "limpeza" na sua terra.
Apenas me pergunto, e agora?
Exactamente, amigo Bayano, são este pormenores que não devem nos escapar quando analisamos a crise de hoje na África do Sul. Temos que ir até ao que implica viver ilegalmente num país. No caso dos zimbabweanos não trata de dezenas ou centenas, mas milhões. Os nossos governantes não têm que ser heróis por uma situacão que criaram.
Essa "limpeza" para que e' o elemento que pode muito bem justificar a "apatia" das autoridades sul-africanas em conter o fenomeno! E concordo que, "if there is someone to blame, is all the "without balls" bunch of SADC leaders!"
Essa "limpeza" parece que e' o elemento que pode muito bem justificar a "apatia" das autoridades sul-africanas em conter o fenomeno! E concordo que, "if there is someone to blame, is all the "without balls" bunch of SADC leaders!"
Caros Ximbitane e Jonathan, hoje mais do que deixarmos os responsáveis desta crise, os promotores da xenofobia na África Austral virem com lágrimas de crocodilo é necessário dizer-lhes com frontalidade que são os culpados. Para mim, é lamentável ouvir pessoas adultas e académicas como essa que vai para o painel a dizerem asneiras em apoio ao responsáveis enquanto adolescentes foram capazes de confrontar directamente à Pereira e ao Comiche após o 5 de Fevereiro. Será que é aquela geracão que assumirá as mudancas
PS: Os mineiros pagavam impostos de seguranca, não é?
Sinceramente, não compreendo o que move o povo moçambicano. Frustou-me ver os regressados a aplaudirem as palmadinhas que lhes eram dadas nas costas pelo presidente. Que garantias futuras dão as palmadinhas?
Frustrou-me também ver o ministro dos Negocios Estrangeiros a ombrear com o secretario do Partidao num discurso diante dos acantonados. Alias frustra-me ver Governo e Partidao juntos, ainda que um seja outro, pois a meu ver Governo é pelos moçambicanos e não por um partido.
Neste momento talvez eles não tenham outra alternativa que baterem as palmas aos nossos governantes hipócritas. O que assistimos pode ser uma atitude externa, pois no interior deles ninguém sabe o que há. Se conseguíssemos conversar com cada um ou eles em pequenos grupos, ficariamos ainda surpreendidos porque aí, muitos se atreveriam em dizer o que lhes vem da alma. De facto, o moçambicano sabe como dizer ou fazer coisas por conveniência. Li sobre este tipo de comportamento num artigo duma sueca que trabalhou numa das nossas instituições superiores, mas prova-se no estudo: Formação de voto e comportamento eleitoral dos moçambicanos em 2004 por Luís de Brito et al., um dos meus elos aqui à direita.
Todavia, pode ser por ingenuidade de muitos a saber que o partidão tem os seus comissários lá na terra do rand. Porém, eles vão a tempo de sentirem tudo na carne e osso como os magermanes o fizeram e fazem. Isto aqui até pode nos fazer descobrir muita coisa e por isso comecei a pensar das taxas de segurança dos que trabalham nas minas da África do Sul.
Também pode ser que muitos agem racionalmente, pois os que viviam ilegalmente na África e as vezes sem trabalhar, podem aproveitar-se da situação para receberem assistência. Esses podem ser os que mais batem as palmas.
E tu (Ximbitane) levantas uma questão muito importante. Sempre tenho suposto que o partidão faz as coisas para nos chatear e a partir daí boicotarmos as eleições. O partidão é consciente que este tipo de comportamento de levar um seu membro da Pereira dos Lagos para uma brigada governamental nos chatea muito e a mim enjoa para bem dizer. Contudo, é o que eles vão fazer sempre embora não precisem, pois todos nós sabemos que o Balói e os mais achegados no MNE são do partidão. Então, qual é a necessidade de levar o Paúnde que nem membro do Conselho de Estado é? Isto chama-se provocação.
E nesse lenga lenga, vamos continuar a ouvir a frase que detesto " o governo esta a trabalhar"
Hiii, Nelson, estas traumatizado e imaginos quantos mais (eu incluida).Eu gostaria é de saber o que a lei diz sobre essa postura do Partidão
Reflectindo disse...
Caros Nelson e Ximbitane, concordo convosco que nessa lenga lenga viveremos anos e anos com discursos vazios. Porém, há que lembrarmo-nos que o partidão nunca deixará esses métodos que muitas vezes lhe permitem continuar a enganar-nos. E nós que já sabemos que essa "musculidade" do partidão é apenas um papão; que abestencões são estimuladas pelo partidão para ganhar com um boa margem, que fazemos? Vamos continuar a beneficiar os mesmos? Não concordo com a ideia de que se vota ao partidão ou se abste porque não há alternativa em Mocambique. Enquanto formos cidadãos mocambicanos todos temos a responsabilidade de mundaca. Essa alternativa só pode ser constituida por quem a clama, isto é os que clamam por uma alternativa devem fazer algo para que ela se dê. Assim, evita-se os que auto-avaliam com melhores pontos e desqualificam os outros como os piores.
O que aqui se passou só pode ser surpresa para os menos atentos ou os que acreditam nas mentiras perpetuadas pelos (des)governos da região.
Mais do que procurar entender as causas desta catástrofe, o importante é que os culpados sejam denunciados.
Parabéns a todos pelas excelentes análises!
Isso José, os culpados são os que nunca aceitaram reconhecer que a fuga dos zimbabweanos para os países vizinhos constituia crise do Zimbabwe e da região em geral.
Élamentavel que o governo sul-africano se mostre impotente para estancar a onda de Xenofobia porque é o governo com a polícia melhor treinada e apetrechada da região.
Caro Luís Uamusse,
Desculpe-me só agora descobre o seu comentário. Agradeco-lhe, muito pela contribuicão. De facto o governo de RSA não está surpreendido, mas o nosso tbém. Um dos grandes problemas é dos governos não contarem muito com o cidadão comum. Esparemos que tenham tomado disto uma licão. Abraco
Aló reflectindo!
gostei tanto do debate que levanta neste sitio, mas ha uma outra questão que aparece no Diário de Um Sociólogo, a carta do Mdelelwa para o velho Mandela de facto porque tanta indiferênça impavidez dos chamados "obreiros da africanidade"? desculpe pela minha entrada tardia tenho andado fora do plano.
Pense comigo
Aló reflectindo!
gostei tanto do debate que levanta neste sitio, mas ha uma outra questão que aparece no Diário de Um Sociólogo, a carta do Mdelelwa para o velho Mandela de facto porque tanta indiferênça impavidez dos chamados "obreiros da africanidade"? desculpe pela minha entrada tardia tenho andado fora do plano.
Pense comigo
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