A batalha de Coolela, ou seja, de Gwaza Muthine, é tida como a mais emblemática e arrojada dos moçambicanos contra a dominação portuguesa, conforme o relevo que anualmente o Governo lhe tem conferido. Procurando entretecer as várias linhas e iluminando-as às zonas de penumbra, o Púnguè apurou que à escolha sobrepõe-se razões puramente tribais.
“O nacionalismo ( chamemos – lhe antes proto- nacionalismo ) brotou no Centro e Norte, antes do Sul.
Nunca vi esta tese defendida pelas oficinas de História oficiais”, segundo uma entrevista do falecido escritor moçambicano, Aníbal Aleluia, ao também escritor nacional Nelson Saúte, a qual consta no livro “Os Habitantes da Memória” (de Saúte).
Segundo Aleluia, esse escritor culto, “o berço da resistência antiportuguesa não é Gaza, como se convencionou oficialmente por razões que me parecem tribais, mas Angoche onde desde do tempo de Mogossurima, no século XVII, até ao sultanado de Farley, já no limiar deste século, os sultões cotis, de origem quiloana, puseram-se à Cruz”.
A personagem central é Mu bin- aufo- Suahib, Namuli de seu nome de guerra. Um Mcóti para as gentes da praia, o Mussa, conforme Aleluia.
“Muçá derrotado pelos Macololos e pelos Vaz – dos –Anjos aliados a muzungos Mpassue (João Bonifácio Alves da Silva), no regresso do noroeste saqueia aringas do Errive e Bajone do prazo do João Bonifácio, arrasando tudo. O Prazeiro, seis anos depois invade Angoche e encontra a morte durante a travessia da vau de Quíloa, mas Mussa perde a batalha”, disse Aleluia.
O comandante do exército Magangeiro, Mateus o Grande, aprisiona a esposa, quatro filhos e a irmã caçula do sultão e leva-os para a Ilha de Moçambique , cujo o governador os vende aos esclavagistas das ilhas indicas.
Há ainda, de acordo com os escriba de “M’belele e Outros Contos”, o facto de Muçáter ter aprisionado a guarnição portuguesa de Parapato para fazer reféns a fim de resgatar a família por ter confiado os prisioneiros aos filhos que, no entanto, os manda executar na ausência do pai o qual, ao regressar dando se conta da atitude do jovem submete-o julgamento que condena-o à pena capital “por desobediência”. Mas há mais incidentes.
Ele sustentou que “Muçá foi a principal barreira contra a ocupação da Macuana pelos portugueses, a única força que deteve e reteve no Ibo e na Ilha de Moçambique durante muitos anos”.
Sobre Gungunhana, há testemunhos que duvidam da sua estatura e heroísmo. Por exemplo, Raúl Bernardo Manuel Honwana, escreve que o rei vatswa tinha três mil soldados quando o aprisionaram em 1895.
Honwana regista a indiferença dos populares à sua detenção: “vai-te embora, seu abutre, que dizimavas as nossas galinhas”.
Enquanto oficialmente Gungunhana é tomado por herói, populares há que o repudiam, como atestaram há alguns anos as cenas de vandalismo ao lugar onde foi erguido um monumento seu em Marracuene, esse várias vezes apeado.
“Do mesmo modo se questiona que o nomeiem herói quando se sabe que este celebrou um acordo com os portugueses, ao qual Portugal lhe pagava dinheiro como militar do seu exército. Assim, se Gungunhana é herói, então Matsangaísse que teve sua retaguarda na Rodésia de Ian Smith há-de sê-lo também. De contrário, é tribalice”, conforme análise de um cidadão identificado por José Félix, professor primário numa escola algures na Beira.
“Numa relação de causa e efeito Matsangaísse seria herói mais por mérito próprio do que por conveniência ideológica ou tribal. Como se vê, a história acabou por atribuí-lo a devida razão, isto é, a Frelimo sujeitou-se a sentar com a Renamo à mesa das conversações que culminaram com o AGP em 1992”, palavras de Félix.
Conforme a nossa fonte, o Governo da Frelimo sonega a “Revolta do Báruè, que quanto a mim, é a mais relevante na fase derradeira de ocupação portuguesa a Moçambique”. (Redacção)
PUNGUÈ – 16.02.2006
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