O líder do MDM (Movimento Democrático de Moçambique), terceiro maior partido moçambicano, acusou hoje o Conselho Constitucional de dividir o país e mergulhá-lo num "mundo de incertezas", ao validar os resultados das eleições gerais de 15 de Outubro.
"Dirijo-me aos compatriotas numa altura em que a soberania que reside no povo foi simplesmente usurpado pelo Conselho Constitucional, negando aos moçambicanos os direitos constitucionais", declarou Daviz Simango, numa mensagem divulgada a propósito do Dia dos Heróis, que se assinala hoje em Moçambique.
Ao validar os resultados eleitorais, que os dois principais partidos de oposição consideram fraudulentos, o Conselho Constitucional lançou "um mundo de incertezas" no país, "dividindo os moçambicanos e pondo em causa a paz, o amor ao próximo, as instituições que deviam estar fortes e livres das amarras partidárias", afirmou o presidente do MDM.
Os moçambicanos, de acordo com Simango, também presidente do município da Beira, segunda maior cidade do país, "já não suportam a exclusão, a discriminação, a falta da verdade, a apropriação da soberania que reside no povo, a violação dos direitos humanos e a mutilação do estado do direito".
No Dia dos Heróis, que assinala igualmente o 46.º aniversário do assassínio de Eduardo Mondlane, fundador e primeiro presidente da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, no poder desde a independência), o líder do MDM coloca o foco naqueles que "quebraram o braço de ferro do monopartidarismo, instalando um círculo de eleições periódicas", e nos que "tudo fizeram para mudar a bipolarização política".
"Temos que tudo fazer para lutar contra a indiferença, o país é nosso e não de uns, por isso os moçambicanos não podem continuar a viver com suas vidas amarradas por temerem represálias", afirmou Simango, reivindicando "uma nova ordem política e livre do clube que se declara proprietário das mentes, manipulando tudo, até ao ponto de não dar valor às consequências dos seus actos".
O MDM elegeu 17 deputados para o parlamento, mais nove do que na anterior legislatura, e o seu candidato, Daviz Simango, ficou em terceiro lugar nas presidenciais, atrás de Filipe Nyusi, da Frelimo, e de Afonso Dhlakama, líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), segundo os resultados validados a 30 de Dezembro pelo Conselho Constitucional.
"Os resultados não são credíveis, com inúmeros relatos de irregularidades documentados por nós e conhecidos por toda a sociedade, e que foram apontados pela imprensa independente e pelos organismos de observação eleitoral", afirmou na ocasião Daviz Simango.
Apesar dos protestos e das reclamações apresentada pelo partido nas instâncias judiciais, todas recusadas, os deputados do MDM tomaram posse nas assembleias provinciais e na Assembleia da República, ao contrário dos eleitos da Renamo.
O MDM lidera quatro municípios em Moçambique, três dos quais são grandes cidades (Beira, Nampula e Quelimane), conquistados nas autárquicas de 2013 e que a Renamo boicotou.
Afonso Dhlakama não reconhece os poderes políticos que resultaram das eleições gerais de 15 de Outubro e ameaça criar uma região autónoma nas regiões centro e norte, da qual ele próprio seria presidente, em províncias que coincidem com os municípios controlados pelo MDM.
Em plena crise política entre Governo e Renamo, o Presidente da República, Filipe Nyusi, declarou hoje, à margem da cerimónia do Dia dos Heróis em Maputo, estar pronto para dialogar com Dhlakama, reiterando que o seu Governo tenciona ser inclusivo.
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