O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, anunciou hoje que a sua reivindicação de uma região autónoma no centro e norte de Moçambique, será decidida no parlamento, esperando que o partido maioritário respeite os entendimentos alcançados com o Governo.
"O Presidente entendeu [as exigências] e a Renamo tem de apresentar um anteprojecto, que será submetido à Assembleia da República, no compromisso de que as bancadas terão de levar a sério, porque não será um anteprojeto normal em que a oposição apresenta e a bancada maioritária chumba", disse o líder do maior partido de oposição, após uma nova ronda negocial com o Presidente, Filipe Nyusi.
Dhlakama sublinhou que "é importante que as bancadas saibam que há entendimento entre o Governo e a Renamo, à semelhança do que aconteceu com a lei eleitoral, que foi negociada fora [em 2014 com o anterior Presidente Armando Guebuza, antes das eleições gerais de 15 e Outubro], e as bancadas, que já tinham orientações dos partidos, aprovaram".
Após uma primeira reunião no sábado, num hotel em Maputo, para ultrapassar a crise entre Governo e oposição, resultante das últimas eleições, que a Renamo não reconhece, os dois líderes voltaram a encontrar-se hoje no mesmo local, sem avisarem previamente os órgãos de comunicação social.
Ainda assim, aceitou falar sobre a evolução das negociações e voltou a prometer o fim do boicote dos 89 eleitos da Renamo para a Assembleia da República e outros 294 para as assembleias provinciais, prometendo novidades nos próximos dias.
"Daqui a um dia ou dois dias os deputados vão tomar posse e os membros das assembleias provinciais também", assegurou o presidente da Renamo, falando ao lado de Filipe Nyusi.
"Já que vou fazer o projecto [da região autónoma, o projeto tem que entrar na Assembleia da República e, ao entrar, não serão os deputados da Frelimo [Frente de Libertação e Moçambique, no poder, com maioria absoluta no parlamento] que o vão ratificar sozinhos, é preciso que seja a Frelimo, a Renamo e o MDM [terceira força parlamentar], porque a questão já esta colocada", prosseguiu.
Num tom mais contundente do que aquele que usou no sábado, Dhlakama avisou que, se for enganado pelo Governo ou pela maioria da Frelimo, "as consequências serão para o Presidente, porque ele não vai poder governar bem" e inclusivamente poderá ser derrubado por acção popular.
"Eu não quero ver o meu irmão a cair", disse o líder da Renamo, sempre ao lado de Filipe Nyusi, que ouviu também Dhlakama denunciar movimentações militares em zonas próximas dos homens armados da oposição, alegando que se trata de uma violação do acordo de paz assinado a 05 de Setembro, com o ex-Presidente Armando Guebuza, no fim de 17 meses de confrontações militares na região centro o país.
"Eu não sou escravo deste país, embora seja um bom líder que consegue dar orientações para os outros cumprirem", afirmou o líder da oposição, referindo um caso concreto na província da Zambézia, em que as forças armadas foram colocadas a dez quilómetros dos seus homens.
"Para quem foi militar, o seu adversário não pode aproximar-se a dez quilómetros", referiu, acrescentando que só a sua liderança impediu que os militares da Renamo tivessem atacado o exército e mencionando ter pedido "por favor" a intervenção de Nyusi como comandante-chefe das Forças Armadas e que ele "prometeu investigar".
Para o presidente da Renamo, não é possível falar com o adversário "com uma arma apontada", como aconteceu, lembrou, no ataque à sua base na Gorongosa, em Outubro de 2013. "Se não morri foi sorte".
O presidente da Renamo espera também ver avanços na implementação do acordo de cessação de hostilidades, assinado com Guebuza a 05 de Setembro, num momento em que o diálogo de longo-prazo, focado na integração do braço armado do partido de oposição nas Forças de Defesa e Segurança, se encontra bloqueado ao fim de 93 rondas negociais.
Segundo Dhlakama, este não foi o último encontro com Nyusi, tendo repetido, sempre na presença do Presidente da República, que foi roubado nas últimas eleições e que vai criar um grupo de trabalho com urgência para elaborar o anteprojecto a submeter à Assembleia da República.
Fonte: LUSA – 09.02.2014
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