terça-feira, dezembro 27, 2005

Ponte sobre o ZAMBEZE, o corredor de Moçambique!

Editorial

O lançamento da primeira pedra para a construção da ponte sobre o rio Zambeze é um acontecimento de vulto, pois se candidata a mudar radicalmente o figurino económico e social do País, após a conclusão da gigantesca obra.
[12/27/2005]

Trata-se da maior obra de engenharia a ter lugar no País depois da Independência Nacional e trata-se de uma mãe das maiores infra-estruturas sócio-económicas erguidas neste País nos últimos trinta anos.

Há tempos atrás, lemos de um veterano da Luta de Libertação Nacional um vasto texto acusando os seus inimigos políticos de terem destruído a ponte que agora se projecta construir. Tal acusação só pode ser resultado do pouco conhecimento da Geografia do País por parte do veterano, uma vez que a ponte ligando Caia, em Sofala, e Chimuara, na Zambézia, nunca foi antes construída, pelo que os adversários políticos do veterano nunca a podiam ter destruído porque inexistente no passado. Se, ao menos falasse da ponte Dona Ana, no mesmo rio....a conversa seria outra.

Orçada em cerca de 80 milhões de dólares, a construção da ponte sobre o rio Zambeze é produto da confiança da comunidade internacional nos esforços desenvolvidos pelo governo de Moçambique, no sentido de puxar este território para patamares cada vez mais altos de desenvolvimento sócio-económico e cultural.

Financiada pela União Europeia, Itália, Suécia e Japão, a construção da ponte sobre o Zambeze vai acabar com o pretexto das assimetrias regionais entre o Sul e o Norte e vai requerer uma nova visão estratégica do desenvolvimento do País.

Com a ponte concluída, em 2009, será possível a agricultores de Ribáwè venderem o seu milho na Macia; será possível a agricultores de Nicoadala venderem o seu abacaxi no Inchope e a agricultores de Gondola colocarem a sua banana em Quelimane.

Com a ponte concluída será possível alguém matabichar na Maxixe, almoçar na Gorongosa e jantar em Quelimane. Enquanto isso, outro moçambicano estará a matabichar em Alto-Molócuè, almoçar em Nicoadala para jantar em Muxúnguè.

Queremos, com isso, sublinhar a força globalizadora da vida em Moçambique que a ponte sobre o rio Zambeze vai ter para a mudança radical da vida de todos nós. Trata-se de um autêntico corredor de Moçambique, o mais importante de todos os corredores de desenvolvimento até aqui idealizados.

A ponte sobre o rio Zambeze, ao mesmo tempo que é boa coisa para todos nós, é também um grande desafio para a capacidade empresarial moçambicana, já que a sua consumação encerra uma vastidão de oportunidades de negócios ao longo da Estrada Nacional Sul-Centro/Nordeste, oportunidades essas que, na ausência da necessária agressividade empresarial, nem sempre serão aproveitadas por moçambicanos, o que, por seu turno, poderá constituir outro foco de problemas.

Sendo a ponte sobre o Zambeze um gigante distribuidor de oportunidades para todos, apelamos aos moçambicanos individual e/ou colectivamente para se prepararem, quanto antes, para a verdadeira maratona de aproveitamento de oportunidades empresariais que vai já arrancar em Junho de 2006, com as obras de construção, mas que terá o seu pico por aí, em 2010, quando o movimento de viajantes nacionais e estrangeiros atingir o seu pico em usufruto absoluto das facilidades providenciadas pela ponte.

Nessa altura, o discurso de assimetrias, que hoje até é aproveitado para justificar coisas que não têm nada a ver com assimetrias, terá de ser substituido por uma visão mais dinâmica do crescimento e desenvolvimento sócio-económico de Moçambique.

Quer dizer, o rítmo de desenvolvimento de Moçambique, a partir de 2009/10 exigirá um outro tipo de discurso acompanhante, não se compadecendo com o actual recurso abusivo à estorieta de “difícil acesso a certas regiões do País” para justificar uma certa concentração de oportunidades de investimentos em certas regiões, em detrimento doutras, do mesmo País.

Neste momento, o nosso apelo vai para os governantes moçambicanos para que sejam muito exigentes em termos de seriedade dos empreiteiros envolvidos na obra. Não vá repetir-se a vergonhosa história do empreiteiro do troço Maxixe-Massinga que, ao fim de um ano de trabalho, cavou mais buracos na via do que reparou, causando, desse modo, prejuízos incalculáveis aos utentes da via, sem nenhuma indemnização!

Outro apelo vai para os empreiteiros moçambicanos, que, naturalmente serão sub-contratados, para que sejam sérios no cumprimento dos contratos de empreitada, pois da sua seriedade depende, também, a boa imagem que o País projecta lá para fora, para além de visíveis vantagens materiais para os próprios empreiteiros sérios, que ganham confiança dos contratantes, podendo chamá-los para outras obras, dentro e fora do País.

Em suma, gostariamos de apelar a todos os moçambicanos para que se envolvam duma ou doutra maneira na construção e aproveitamento das oportunidades derivadas da ponte sobre o rio Zambeze. Apela-se, especialmente, aos governantes para que sejam os facilitadores principais do envolvimento de todos os moçambicanos na edificação do seu futuro, através da construção da ponte sobre o Zambeze.

Gostaríamos que ao fim da construção da ponte, as estatísticas indicassem uma drástica redução dos índices de pobreza das populações vivendo ao longo da estrada Inchope-Caia e Chimuara-Nicoadala. Mas, isso passa, necessariamente, pelo dinamismo dos governos distritais de Caia, Marromeu e Gorongoza, do lado de Sofala, e dos distrito de Mopeia, Chinde, Nicoadala e Namacurra, do lado da Zambézia, na incentivação e negociação de oportunidades de envolvimento das suas populações nas obras da ponte.

Só assim, estará a ser dado o primeiro passo seguro, rumo à edificação do verdadeiro corredor de Moçambique, coluna vertebral para o resto do desenvolvimento sócio-económico e cultural de Moçambique, para os próximos cem anos!

Bem-haja o lançamento da primeira pedra para o arranque das obras da ponte sobre o rio Zambeze, ponte que vai unir, em termos efectivos, Moçambique do Rovuma ao Maputo, a verdadeira ponte da Unidade Nacional, a ponte que estabelece, inequivocamente, o verdadeiro Corredor de Desenvolvimento de Moçambique.

Salomão Moyana

http://www.zambeze.co.mz/zambeze/artigo.asp?cod_artigo=168609

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