Por Linette Olofsson*
Foi com grande entusiasmo e apreço que participei no passado dia 17 Outubro nas celebrações de mais um aniversário do passamento físico de André Matadhi Matsangaice, o fundador e primeiro líder da Resistência Nacional Moçambicana, na Vila de Gorongosa.
Sendo eu membro da Liga da Mulher da Renamo, integrada neste movimento após o Acordo Geral de Paz, algo vindo do fundo da minha alma me dizia que era importante e oportuno eu ir a Gorongosa, a Marringwe, para conhecer in loco os testemunhos ali deixados pelo comandante André, a história da Renamo e também como juntar-me a seus familiares , antigos guerrilheiros e, porque não? Às pessoas mais importantes que são as populações que deram no passado o seu apoio para que a Renamo se tornasse um partido poderoso, com raízes profundas no seio nas massas.
A presença da Mãe do Comandante André, nas celebrações deste ano, é algo a louvar. Foi uma oportunidade de, em conjunto, comemorarmos e valorizarmos a luta pela conquista da democracia; foi como que a renovação das nossas almas. Foi um momento de profunda reflexão para todos nós.
Pisar Gorongosa, Marringwe, e de lá sairmos com ideias totalmente opostas à visão, que o Partido Frelimo, através do actual governo, tenta passar por via dos média partidarizados; uma visão maléfica, inflamatória desta região do País, como se dali partissem os grandes problemas que a Nação atravessa.
Alguém tem de por fim a toda esta campanha de propaganda que tem servido de bode expiratório nas campanhas eleitorais como menu principal do Partido Frelimo.”Guerra”, “homens armados”, “insegurança”, “instabilidade”, entre outros males, estão certamente presentes na mente de quem os fabrica, mas nunca na das populações desta região.
Homenagear André Matadhi Matsangaice, foi para nós, ou alguns de nós, como que retomar o que no passado não era claro ou mesmo não entendíamos após os primeiros anos da Independência Nacional.
Sentíamos que algo não estava bem, mas não sabíamos e nem tínhamos ainda a capacidade de análise sobre o que era a realidade politica de então. Pertencíamos à geração nascida com a independência, ou que foi apanhada na transição para a independência, Vivíamos no meio de todo um processo assaz tumultuoso que inflamava almas e recalcava sentimentos, impedindo, por vezes, de vermos com clareza a realidade concreta que se ia formando à nossa volta.
Reviver André é chegar perto dos valores e causas da sua, da nossa luta; da luta de todos nós. É também encontrar as respostas que eu e muitos jovens naquela altura necessitávamos de ter.
Hoje podemos dizer categoricamente que o país saiu de uma ditadura salazarista e passou directamente para uma outra tão má ou pior, em que para muitos comunismo é considerado igual ao Nazismo. O mesmo cortejo de mortes, de acção violenta e repressiva sobre as pessoas; os redutos da morte erguidos em nome de soluções finais, as perseguições de índole religiosa, cultural, política; o atentado contra a dignidade humana, enfim toda uma série de abusos e atrocidades estão bem presentes nos dois sistemas.
A falta de liberdades e direitos universais consagrados nos estatutos dos Direitos Humanos. A falta de liberdade de pensamento, expressão, respeito pelos direitos Humanos, o de professar uma religião de acordo com a nossa consciência entre outros valores universais foram violados pelo regime comunista instalado em Moçambique após a Independência Nacional.
Reviver André é homenagear um jovem de 20 e poucos anos, jovem determinado e dedicado a uma causa justa que arrastou milhares de Moçambicanos do Rovuma ao Maputo na luta contra o regime totalitário imposto à Nação por um partido que tinha em Samora Machel a sua expressão física mais óbvia.
André tombou em pleno combate na vila da Gorongosa, mas a sua luta continuou, solidificou-se em todo o País e o mais curioso neste percurso é a analise que faço dos resultados das primeiras eleições livres na história do Pais. A poderosa inserção da Renamo no centro e norte de Moçambique, demonstrou que o nosso movimento não era um grupo de bandidos armados, mas sim de uma guerrilha bem estruturada, bem dirigida e apoiada pelas massas.
Bandos armados, não têm estrutura política, e muito menos disciplina militar; não são guiados por ideais políticos. A guerrilha da Renamo lutou e sacrificou-se por um ideal inquestionável: o do estabelecimento dum regime verdadeiramente democrático assente na vontade popular. O regime totalitário não capitulou perante uma quadrilha de assaltantes ou de representantes do crime organizado. A capitulação, negociada em Roma, teve como contraparte os representantes de um movimento fortemente implantado à escala nacional. A tentativa de se contornar a luta da Renamo, mediante a adopção da constituição cosmética de 1990, teve como base os ideais que foram sempre defendidos pelo nosso movimento: o multipartidarismo, o respeito pela dignidade humana, o fim das perseguições a que atrás me referi, e a garantia dos direitos universalmente consagrados. A Frelimo descobriu esses valores através da luta da Renamo. Não eram valores que existiam nas ditas zonas libertadas. Não foram valores trazidos pela Frelimo por ocasião da Independência Nacional. Foram valores pelos quais o Comandante André se bateu e deu a vida. Mas hoje dizemos: valeu a pena! Daí a razão da nossa homenagem ao Comandante em cada 17 de Outubro.
Mostrámos ao mundo a outra face da moeda. O Mundo ignorou-nos e ainda nos ignora; mas chegara o dia do juízo final, poderá tardar, mas chegara.
MARRINGWE é um mito de conflito fabricado pela FRELIMO e fomentado pelos órgãos de comunicação Social partidarizados.
As celebrações alusivas ao primeiro Comandante da Segunda Luta de Libertação Nacional de Moçambique, deram oportunidade a muitos membros e alguns órgãos de comunicação social visitar um local que ‘e para a Renamo um santuário, a base da nossa luta e de onde se traçavam as grandes decisões do então movimento de guerrilha da Segunda Luta de Libertação Nacional.
Marringwe é para a Renamo o que Nachingweia é para a Frelimo.
A nossa luta, o nosso sonho para um Estado democrático não nasceu no estrangeiro, nasceu no berço que se chama Gorongosa situado na Província de Sofala..
Ao chegarmos à Gorongosa, onde foi o lançar das comemorações, a chegada do Presidente da Renamo e da comitiva que o acompanhava, foi tão comovente que mexeu com os espíritos dos antepassados e dos vivos. A alegria e a euforia estavam patentes. Artistas tradicionais, com a suas espectaculares batucadas e marimbas da etnia shona alegraram a festa.
Aquela população após 26 anos do desaparecimento do Comandante André e 13 anos depois da assinatura AGP confirmou o grande enraizamento do partido Renamo naquele local histórico bem como a importância marcante da figura de Afonso Dlakhama.
Tão importante é Afonso Dlakhama e a Renamo que moveram o governador de Sofala, o médico Alberto Vaquina sua esposa, a comemorarem qualquer coisa na Casa Banana e que poderia ser comemorada em qualquer outra parte da Província, sem haver necessidade de nos cruzarmos.
O que comemorou Vaquina em Casa Banana? O advento da democracia – resultado da luta da Renamo – ou o fim da ditadura, consequência dessa mesmíssima luta?
Vaquina, o governador partidário, lançou um desafio político que poderia ter-lhe saído um pouco caro. Tentou desviar o impacto das comemorações do 17 Outubro e da presença do líder da Renamo no berço da democracia moçambicana; mas não conseguiu atingir os seus objectivos. Casa Banana significa a derrota militar do regime totalitário pois teve de recorrer à intervenção de forças estrangeiras para debelar a luta daqueles que eram considerados como maltrapilhos, sem ideais políticos, sem base social de apoio, sem programa de acção definido. Foi isso que Vaquina foi lá celebrar.
Estamos em democracia, lutamos por ela, os espaços são livres não há dúvida, mas em minha opinião, foi um acto político meramente baixo e ao mesmo tempo atrevido e desnecessário por parte do Governador de Sofala.
Vimo-los a passar, a população ignorou-os pois aguardavam desde muito cedo a presença da Renamo. Vimos também a PIR, verdadeira milícia ao serviço dos plutocratas da nova Frelimo, no seu vai-vem , na sua soberba ostentação.
Também os ignoramos e continuamos na preparação dos festejos com muita alegria e determinação dançado e cantando com a população.
Lamento que a TVM convidada a testemunhar o acto das celebrações, tenha-o ignorado, preferindo fazer a cobertura da visita do Vaquina à Casa Banana, isto porque a TVM perdeu a grande oportunidade de fazer uma reportagem com a presença do Líder, delegados, ex-desmobilizados, população e até com a guarda da Renamo, para assim desmistificar e testemunhar e dar a conhecer a verdadeira realidade actual da vila de Marringwe.
A chegada foi já tardia, apesar de passar pouco mais das 20 horas, havia muita população concentrada, muitos deles com barriga vazia à nossa espera, na zona onde se conduziu as celebrações, nem sequer um tambor de agua existia, teve-se que recorrer uma distancia para se ir buscar este precioso liquido.
O meu espanto vai para a determinação desta população, não trouxemos sacos de arroz, não distribuímos fardos de roupa, não trouxemos dinheiro, não trouxemos muito mais…mas trouxemos o nosso calor, a nossa determinação em continuar e elevar aquelas populações que viveram connosco desde as primeiras horas do inicio da segunda luta de libertação nacional.
Importante referir que o Partido Frelimo através dos seus sequazes, intimidou e desencorajou a população a não participar nas celebrações de 17 Outubro, dizendo de que, haveria sangue e talvez pior que Mocímboa da Praia. Era a repetição dos actos intimidatórios associados aos pleitos eleitorais que têm vindo a ter lugar no País desde 1994.
A PIR lá estava armada até aos dentes a circular, uns fardados outros a civil e nos os festejantes ignoramo-los totalmente, passamos pelos seus degradados aposentos sem saneamento básico adequado, digo isto porque as latrinas ali construídas no já destruído quartel, são vedadas com plásticos de cor preta.
A minha pergunta vai para o comandante em Chefe das Forças Armadas; quanto custara ao Estado Moçambicano manter aqueles homens (PIR) naquele estado? Estão a defender o quê? e quem?
Pelo que tive oportunidade de observar aquela população já por natureza ‘e organizada com uma tradição adquirida durante o conflito armado, pois sendo esta uma das zonas libertadas durante o conflito, existe uma certa estrutura tradicional, social já erguida.
Porque é que a Renamo iria fazer mal a estas populações hoje?
Verifiquei de que não há razões para a presença dos homens da PIR na zona de Marringwe. Eles é que constituem um grande perigo e que tiram o sono aquelas populações de Marringwe.
Foi importante a nossa presença, nós que não fizemos parte do conflito armado e juntamo-nos à Renamo depois do AGP e não só, foi também importante vermos in loco o que é Marringwe, quem são os seus habitantes.
Homens armados? Terroristas? Bandos armados à solta?
Encontramos simples camponeses com as suas famílias, encontro de diferentes gerações, que viveram durante o colonialismo, o comunismo e o multipartidarismo após a assinatura do AGP.
Observei uma vez mais o que se passa em muitos distritos do País onde a Renamo tem grande aceitação popular. Marringwe é mais uma localidade sem apoio nem assistência adequada do Governo desde a assinatura do AGP. As populações, apesar de algumas infra-estruturas ali erguidas, tais como a Administração, hospital rural e uma pensão modesta, com um serviço de qualidade, ainda há muito para se desenvolver e aliviar a pobreza.
Marringwe e a sua população, não constitui um foco de conflito para a Nação, apesar de a maioria ter pertencido à nossa guerrilha. São populações normais, que tem as suas machambas, suas famílias, filhos frequentado escolas com estigma de serem filhos dos “Matsangas”, populações com uma grande e extraordinária capacidade de sobrevivência humana numa zona que é assolada pela estiagem, exclusão política e social.
Olhemos para alguns aspectos importantes como são os direitos humanos, sociais, políticos e económicos.
O que encontramos na realidade?
Encontramos uma realidade diferente daquela espelhada pelos órgãos de comunicação social aliados ao poder da frelimo.
Uma vila tranquila, muito seca por natureza, sem árvores de fruto para se matar a fome, arvores totalmente secas, o que é típico da época, grandes dificuldades de acesso a agua potável entre outros problemas que as nossas populações enfrentam.
Encontrei um cemitério de tanques militares e centenas de invólucros de obuzes e granadas espalhadas pelo chão.
Quem por ali passa não deixa de observar a força da Renamo testemunhada pelas dezenas senão centenas de tanques de guerra queimados pela então guerrilha, tanques que no passado serviram para matar o populações indefesas mas determinadas a lutar contra o regime totalitário da Frelimo.
É tempo do Estado Moçambicano pensar em remover a sucata dos tanques soviéticos do local, vende-los e reverter os lucros a favor da população de Marringwe com projectos simples e sociais e de alivio a pobreza.
Dos tão propalados homens armados da Renamo em Marringwe aos Guardas da Segurança do líder da Renamo e seus quadros, vai uma grande diferença.
Homens armados da Renamo não existem como também não existiram bandidos armados durante o conflito armado entre a Renamo e a Frelimo que levou ao Pais a uma guerra de 16 anos que muito bem poderia ter terminado se não fosse a posição irredutível de um regime que um dia sonhou em arregimentar todo um povo, submetendo-o aos ditames do pensamento comum.
O não querer negociar a paz nos anos 80, só arrastou o País para a destruição total e completa empurrando a família Moçambicana para a degradação da qual nos encontramos hoje.
Ainda, nesta linha de pensamento, quero citar uma passagem do impressionante artigo do Barnabé Lucas Ncomo; da realidade histórica; do mito, ate a morte de um Homem, citava ele:
“ Hasteava-se nas matas de Moçambique a bandeira do Internacionalismo, zimbabweanos, tanzanianos, cubanos e soviéticos entraram desesperadamente no teatro das operações”…. alguns oficiais do exercito tanzaniano começaram a reclamar: “afinal os senhores chamaram-nos para combater uns bandidos ou para a guerra? Disseram-nos que era uma coisa de dois tempos. Vocês chamam bandido a isto? Isto é Guerra senhores. Não existe bandido algum que faça isto.
Isto para demonstrar de que, a mesma prepotência arrogância ainda persiste nas hoste do partido Frelimo, tentando a todo o custo tapar o sol com a peneira ou empurrar a fúria do vento do deserto com as mãos.
A Frelimo está a tentar uma vez mais fazer desaparecer a Renamo como se de bandidos se tratassem. É só escutar os discursos vergonhosos carregados de ódio, rancor por parte da bancada parlamentar da Frelimo. Nota-se uma intenção clara, uma vontade indiscutível do partido Frelimo em neutralizar a maior força da oposição para governar à vontade, sem prestar contas a ninguém, sentado à mesa do orçamento como se de manjedoura tratasse.
Tive o ensejo e oportunidade ímpar de conversar com alguns ex guerrilheiros que conheceram o comandante André e que até hoje estão determinados como muitos de nos, a lutar por ideias que André Matadhi Matsanagaice e muitos outros dentro da primeira luta de Libertação Nacional acreditaram ser válidos para um grande país como Moçambique, um estado democrático e livre de qualquer totalitarismo.
Um ex-guerrilheiro, de nome Luís Manuel de 58 anos natural de Cheringoma, filiou-se na Renamo em 1983. Vivia então na Gorongosa. Esteve na frente de Tete e mais tarde, em1989, na frente de Niassa. Disse-me o seguinte:
“Queremos a democracia, sem a força das armas e sem perseguições. A Frelimo caça a Renamo como se fossemos animais, abatem membros da Renamo como se abatem animais selvagens.
Eles são Moçambicanos como nós, acha que o povo está unido? O País não esta em guerra, mas está doente, a frelimo não consegue desenvolver a democracia, existe alta perseguição, a titulo de exemplo no dia 13 de Setembro um colega de nome “Sangulane natural de Tete vivia em Inhaminga, ele tem a machamba fora da vila, segundo os testemunhos não sabem o que lhe deu para ir a vila de Inhaminga, sabendo este de que a PIR caça a Renamo como se caça bandidos. Segundo eles, o que lhe levou à vila, foram as saudade pela família. Pelo caminho foi interceptado pela PIR foi baleado mortalmente. O outro que o acompanhava, de nome Jorgito, foi capturado e neste momento encontra-se a viver numa dependência como forma de ser controlado pela PIR. Está impedido a regressar a sua machamba.
A maioria dos ex-desmobilizados da Renamo não consegue fazer as suas machambas. Se forem encontrados a circularem são presos e mortos, andam fugitivos e perguntam-me: Que democracia é esta? Ainda não há real implementação do acordo de paz. Nós queremos atingir o objectivo final que é a liberdade. Ainda não a vimos nem a vivemos!
Muitos dos ex-desmobilizados, temendo represálias por parte da Frelimo e PIR, são obrigados a viver nas matas impedindo assim a assistências a suas famílias e aos filhos; muitos deles com idade escolar, muitos destes filhos são tratados de uma forma discriminatória, são chamados na escola de filhos dos Matsangas alguns deles abandonaram as escola e andam à deriva, atitudes a condenar dentro de um estado de direito. As esposas são ameaçadas pela Frelimo.
Assistimos aqui a uma desintegração forçada destas famílias. Algumas esposas chegaram a abandonar os seus maridos por andarem fugidos, como é o exemplo da esposa do senhor Muanza que se refugiou algures no mato e até hoje não regressou ao lar.
Segundo eles nesses locais não existe guerra e quem está a trazer a guerra ‘e a frelimo.
Existe sim uma grande tensão e confrontação com a frelimo.
Abordaram a falta de cumprimento do AGP, exigem igualdade, gostariam de ver aproveitados os antigos administradores e professores da Renamo, e que os mesmos fossem integrados de igual modo como os outros na sociedade.
Reclamam o incumprimento capítulo V, n. 8 do AGP, a falta de integração na policia da Republica e no exercito.
A PIR comete desmandos, viola a lei; mas desde a assinatura AGP nunca um ex desmobilizado ou da guarda presidencial da Renamo matou alguém .”
Foi-me reportado ainda de que em Inhaminga a PIR agrediu à catanada 3 pessoas, nomeadamente Marcelino, Albano, e Brisito. Para além das catanadas, a PIR saqueou os bens dessas pessoas indefesas. Durante a fuga, um dos elementos da PIR deixou cair uma fotografia. Os civis apanharam a fotografia e entregaram-na à policia e esta simplesmente ignorou-os.
Porém, alguns por mim entrevistados juraram de pés juntos de que nunca vão recuar! Lutaram e estão prontos a lutar para ver o fim que ainda não chegou. Preferem morrer do que viver assim.
Os macacos segundo eles, ainda são mais livres do que eles.
Clamam por justiça social e inclusão.
Quem semeia o terror não são os homens da Renamo, mas sim a PIR. As armas do governo são mais perigosas do que as da guarda Presidencial da Renamo. Essas armas já
Mataram em Montepuez, Mocímboa da Praia, Inhaminga, na cidade de Maputo, já tiraram a vida a Félix Lima, saudoso Jornalista Carlos Cardoso, grande e saudoso economista Siba Macuacua, cantor popular Langa, ex director da B.O Issufo, ainda esta semana, o director da cadeia Central da Machava, Miguel Francisco Microse e muitos mais outros anónimos pelo pais fora, crimes ainda por se esclarecerem.
Onde está o perigo?
A Minha Chamada de Atenção
É necessário que académicos, juristas, historiadores, sociólogos, a Liga dos Direitos Humanos, a comunidade nacional e internacional levem a sério este foco de conflito. Há que debelar à nascença um mal que ameaça alastrar-se um pouco por todo o País. De nada valerá tentar-se depois encontrar uma explicação, um justificativo além fronteiras para um problema que é nosso, que está a ser gerado no seio da sociedade moçambicana, sob o olhar impávido e sereno dos que devia ser os primeiros a chamar as coisas pelos seus próprios nomes. É um imperativo denunciar-se à nascença o monstro da ditadura que vai crescendo à nossa volta.
Convém recordar que na primeira legislatura multipartidária a Renamo apresentou um projecto de lei sobre o reconhecimento dos ex-Desmobilizados dentro do AGP. Esse projecto de lei foi rejeitado pela bancada da frelimo por não ter tido enquadramento na antiga constituição.
Na segunda legislatura multipartidária a frelimo apresentou o projecto dos antigos combatentes da primeira luta de libertação Nacional. Esse projecto passou porque a Frelimo detém hoje a ditadura do voto.
A nova constituição já reconhece os combatentes da luta pela democracia. Os excelentíssimos deputados, devem urgentemente avançar com um projecto de lei que regulamente a questão da integração social deste grupo pois abrange os ex desmobilizados tanto da Renamo como da Frelimo.
De fazer-se um estudo de direito comparado em países que passaram por situações semelhantes à nossa e escolher a melhor experiência e adapta-la a nossa realidade. Estes homens, muitos deles ainda são jovens em idades produtivas, são chefes de família e necessitam de uma solução urgente dos seus problemas.
Tendo Marringwe como pano de fundo, recordo a Cimeira Mundial para o Desenvolvimento Social realizada em Copenhaga em 1995, cujo lema era a pobreza, o desemprego, e a exclusão social.
Por varias vezes durante o exercício do meu mandato na última legislatura, chamei e ainda chamo a atenção para o facto de Moçambique ser um dos Países que corre para assinar compromissos internacionais, sem reflectir se é capaz de cumpri-los na íntegra no âmbito de uma agenda nacional.
Recordo uma das passagens do discurso do antigo Secretário Geral da ONU, Boutros Boutros–Ghali, durante a conferência em 1995 Copenhaga . Dizia ele que “não se poderia tolerar que uma sociedade, que caminhar a passos cada vez mais largos para o progresso, abandone à beira do caminho e no mais completo desespero mais de mil milhões de homens, mulheres e crianças.”
A cimeira realizada em Copenhaga, em Março de 1995, teve por objectivo colocar em debate a questão social como ponto fulcral das estratégias de desenvolvimento e da paz mundial.
A POBREZA, DESEMPREGO, EXCLUSÃO SOCIAL foram temas altamente debatidos.
Cimeira de Copenhaga, proporcionou informações e conhecimentos sobre a realidade sócio-economico-política Mundial em que vivemos e indirectamente, contribuiu para aprofundamento da consciência pessoal e colectiva de todos ali presentes.
A lição que recebemos de todos os intervenientes na cimeira foi de que, se queremos preparar o futuro, precisamos de objectivos claros e não obscuros, ambição e decisões.
A palavra-chave foi a solidariedade, que implica poder politico, económico, e crescimento sustentado, usados de maneira correcta.
A questão não ‘e saber se podemos consegui-lo; ‘e uma questão de determinação.
Nesta matéria, todos nós sabemos de que não existe um modelo único ou uma resposta já preparada. Mas podemos definir aquilo que vou chamar de “objectivos prioritários” e o que podem, parece-me concretizar-se em 3 exigências:
.Proteger o indivíduo social
.Favorecer a integração social
.Assegurar a paz social
Estes 3 objectivos, ainda são um calcanhar de Aquiles para os Moçambicanos “habitantes do Pais real”; arrisco-me até de dizer que será uma utopia até às próximas gerações se nada fizermos.
Há inquietações agudas de situações de exclusão social e de marginalização na sociedade e marcante nas zonas tradicionais do eleitorado da Renamo.
Com efeito, é preciso recordar de que existe uma interacção evidente entre as questões políticas e as questões sociais.
Por um lado, é claro que um ambiente político estável é a condição necessária para um desenvolvimento social harmonioso.
Uma das finalidades da política, é oferecer uma realidade palpável às aspirações sociais.
Mas por outro lado, é igualmente claro que um ambiente social dinâmico (a que estamos ainda muito longe de atingir) é uma das condições da própria estabilidade politica.
Um Estado sujeito a desigualdades e a privilégios, está potencialmente exposto às mais graves perturbações sociais.
Um Estado, que não permite uma satisfatória integração social e cria numerosos excluídos deve recear as mais imprevisíveis explosões sociais.
E afirmamos com clareza:
De que a tranquilidade política vem a par com o bem estar social
É preciso também, salientar a importância que se atribui nesta perspectiva, ao imperativo democrático.
Porque a democracia é uma garantia de paz e porque o desenvolvimento social sustentado é inimaginável sem democracia.
Aqui, interessa repetir as palavras de um ex guerrilheiro, hoje camponês, que muito me impressionou lá em Marringwe pela sua capacidade de análise. Nosso povo é iletrado, mas não é ignorante.
Dizia ele:
Democracia? Só no papel e só para Eles. Nós, ainda não vivemos não a sentimos essa grande conquista pela qual lutamos durante estes 16 anos.
Em minha modesta opinião, não podemos falar de democracia, direitos do Homem ou alargamento de mercados, enquanto se considerar normal o perpetuar de certas situações dramáticas provocadas pela pobreza desemprego e exclusão social a que estamos sujeitos no nosso dia a dia.
Fico muitas vezes apreensiva quando oiço nos discursos do Presidente da Republica e de alguns dirigentes do seu governo dizerem; Vamos acabar com a Pobreza; como se acabar com a pobreza fosse realmente uma tarefa fácil e como se a solução fosse via discursos e atitudes populistas e ate exageradas; o populismo radical, nunca resolveu nada, senão entreter os mais distraídos na nossa sociedade.
Por isso, sugiro a expressão de alívio a pobreza, pois parece-me uma terminologia mais realista e muito utilizada em países que já tiveram sucessos nos programas da luta contra a pobreza.
Programas anti-pobreza não bastam! A participação democrática, inclusão ‘e necessária para garantir o acesso às oportunidades aos serviços públicos e à vida política.
Em resumo, devemos dar mais poder a todos para que se tornem verdadeiros colaboradores no desenvolvimento da sociedade que queremos construir para este grande País e não limitá-lo apenas a nomenclatura Frelimista.
As acções devem falar mais alto para o real combate a estes e muitos outros males que constituem uma pedra no calcanhar de Aquiles para os moçambicanos, ‘e preciso sonharmos com um horizonte que nos leve a um caminho para atingirmos plenamente o que se denomina “trilogia do bem-estar” que se alia estabilidade politica em democracia, crescimento sustentado no quadro de uma economia aberta para o exterior e politicas sociais garantindo a todos igualdade de oportunidades.
Não nos deixemos enganar…tal como disse em tempos o romancista Arthur Koestler; as estatísticas não sangram, os números não captam a angústia e o desespero de milhares de cidadãos.
O futuro, não será uma dádiva. Ele será uma realização uma conquista.
*Linette Olofsson
Deputada Suplente
Círculo Eleitoral da Zambézia
ZAMBEZE – 27.10.2005
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