O mais recente acidente aéreo na Nigéria, que causou cerca de 150 mortos no
dia 3, agravou as desconfianças em relação à aviação de passageiros em África. Nos
últimos quatro anos, foram dez graves acidentes aéreos no continente, que
causaram mais de 600 mortos.
A queda da
aeronave da companhia nigeriana Dana Airlines, que chocou contra prédios
residenciais em Lagos, é reflexo também de um dado preocupante: o nível de
segurança no continente africano está muito abaixo ao das outras regiões do
mundo.
Actualmente, a África representa apenas 3% do
tráfego aéreo mundial. Ainda assim, em 2010, 14% do total mundial de acidentes
aconteceram naquela região, segundo dados do último relatório da Organização
Internacional de Aviação Civil (ICAO, na sigla em inglês), de 2011.
O documento mostra ainda que viajar de avião no
continente africano é cinco vezes mais perigoso que na América do Norte, na
Europa e até mesmo na Ásia.
Em 2010,
a cada 1 milhão de aviões que descolaram em África, 16,8
sofreram algum tipo de acidente. Na América do Norte, na Europa e na Ásia, esse
número foi de aproximadamente três acidentes para cada milhão de voos. Na
Oceania e na América Latina, os índices foram 4,8 e 5,4, respectivamente.
A alta porcentagem de mortes causadas por
desastres aéreos em África pode ser explicada pela frágil adopção de medidas de
segurança nos países africanos.
De acordo com um estudo do Programa de Auditorias
Universais de Supervisão da Segurança Operacional (USOAP), que analisa o nível
de segurança adoptado ao redor do mundo, a África apresenta um baixo nível de
segurança: apenas 41%.
Na avaliação da auditoria, a América Latina e
Caribe adoptam 64% das medidas de segurança, enquanto a Europa fica em 72%.
Já a América do Norte, que tem o transporte aéreo
mais seguro do mundo e também o tráfego mais intenso, tem um nível de segurança
operacional avaliado em 93%.
A auditoria avalia, entre outros pontos:
legislação aeronáutica e regulamentos da aviação civil; treinamento de pessoal;
acidentes de avião e investigação de incidentes; controladores de voo.
Aeronaves antigas e falhas de manutenção
Para José Antônio
de Freitas, especialista em Prevenção e Investigação de Acidentes Aeronáuticos,
a frota antiga e os problemas na manutenção são as principais razões para a
falta de segurança na aviação africana.
“Toda a sucata do mundo vai para a África. São
aeronaves que, quando não dá mais para voar em canto nenhum, mandam para lá. Além
disso, a preparação dos técnicos de manutenção é facra”.
Freitas explica que algumas aeronaves russas que
voam no continente africano são tão antigas que não existem mais peças de
reposição, o que complica ainda mais a manutenção preventiva, que é considerada
por ele o mais importante aspecto da segurança aérea. Além disso, os custos são
muito altos, relata Freitas.
“Comprar uma aeronave todo mundo compra. Manter
que é o problema”.
Lista negra
Além dos
problemas de manutenção das aeronaves antigas, alguns países africanos também
possuem uma infraestrutura precária, com aeroportos a funcionar muitas vezes
sem energia eléctrica.
Por essas razões, África lidera o número de
companhias consideradas inseguras pela Comissão Europeia, que elaborou uma
“lista negra” e proibiu companhias de operar no espaço aéreo europeu. Confira a
lista.
Angola, República do Congo, Moçambique, Serra
Leoa, Sudão e outros países possuem empresas nesta relação.
De acordo com relatório da Associação de
Companhias Aéreas Africanas (AFRAA), a República do Congo concentra mais da
metade dos acidentes aéreos ocorridos em toda a África: o número chega a 55%.
É seguro viajar?
Apesar dos
riscos, as estatísticas comprovam que o transporte aéreo continua a ser uma
opção muito segura, mesmo em África.
De acordo com o Conselho Nacional de Segurança
(NSC) americano, durante uma vida inteira, a chance que uma pessoa tem de
morrer num acidente de carro é de 1 em 85. No caso do transporte aéreo, esse
número cai para 1 em 5.862.
Segundo a ICAO, o número de acidentes em todo o
mundo não tem se modificado significativamente nos últimos anos. Em 2005, 824
pessoas morreram em desastres aéreos. Em 2010, esse número diminuiu: foram 707
mortes.
Enquanto isso, o tráfego aéreo vem crescendo:
passou de 28 para 30 milhões de voos nos últimos cinco anos. Apenas em África,
o crescimento no número de descolagens foi de 9,7%.
Esse aumento no número de voos pode tornar os
acidentes menos raros, mas a AFRAA tem tentado mudar essa situação, insistindo
na correcta manutenção das aeronaves e, principalmente, na aposentadoria de
aeronaves muito antigas.
Fonte: Rádio Moçambique
-10.06.2012
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