domingo, novembro 07, 2010

Contenção de despesas afecta desfavorecidos (4)

MIRADOURO

Por Arlindo Oliveira

O Governo deste país que se chama Moçambique, propala de viva voz e a bom som, que está preocupado em reduzir as assimetrias nos diferentes estratos sociais, sobretudo na camada laboral. Aqui, não se diferencia o assalariado empresarial e o coitado do funcionário público, o famoso funcionário ou agente do Estado.
Ora, se entre o que se diz e o que se faz vai uma diferença abismal, uma diferença de dia para noite, como é que o Executivo quer que os visados e a sociedade acreditem nele? De jeito nenhum, de forma alguma.
Dizia eu nos textos anteriores, que os meses de Setembro e Outubro são de muitas adversidades políticas e sociais. Isso porque os últimos levantamentos populares ocorreram em Setembro último. Depois, seguiu o mês de Outubro em que algumas cabeças do topo do poder governativo rolaram. Infelizmente, eu não espero melhorias nenhumas, pois movimentar as mesmas pedras e no mesmo rectângulo de jogo, poucos têm sido os resultados positivos esperados. Trata-se, pura e simplesmente, de um exercício de fazer rodagem às pedras, para ver em que lugar um jogador pode ser melhor aplicado.
E como cá entre nós reina a corrupção, é só para que possam aperfeiçoar as técnicas, nos diferentes sectores públicos, para que não se caia na inércia, até ao ponto de um ministro ir buscar dinheiro de uma empresa sob sua tutela para custear as despesas com os estudos dos seus dependentes, que não têm nada a ver com o poleiro que o seu progenitor ocupa.
Naturalmente, o povo vai chuchando o dedo, vai acalentando a esperança de que dias melhores virão, só que sempre sonhando com um futuro que sempre continuará futuro, um futuro incerto, um futuro que não é próximo.
Como resultado da revolta popular contra a subida do preço do pão, o Executivo optou em deliberar a favor dos manifestantes, só que, de forma aparente, pois, na prática, nada da redução de preço se verifica. Pode ser que tenha sido isso que catapultou que o ministro dos comerciantes caísse, pois enganava as pessoas. Que explicação encontrava António Fernando para abandonar o seu gabinete para inspeccionar as balanças? Senhores, um ministro andar de mercado em mercado, andar de padaria em padaria para ver se as suas orientações estão sendo acatadas e cumpridas!
Isto, só em Moçambique! Que eu saiba, qualquer ministério, qualquer instituição, pública ou privada, tem o sector inspectivo. E para o ministério da Indústria e Comércio, os inspectores há aos montes, que até podemos exportar para os nossos vizinhos. Como as visitas ministeriais são previamente anunciadas, os padeiros manietam o grande chefe, à sua maneira. Tem-se duas balanças, a convencional e a viciada. Chegou o ministro, tira-se a balança não viciada e pronto, tudo está em ordem.

Fonte: Jornal Notícias - 04.11.2010

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