O OBSERVATÓRIO Eleitoral, uma organização nacional que, entre outros, se dedica ao estudo da democracia e dos processos eleitorais no país, considera que a pobreza urbana terá sido, eventualmente, a grande causa das manifestações ocorridas nas cidades de Maputo e Matola nos dias 1 e 2 do mês em curso. Segundo o sheik Adbul Carimo Sau, porta-voz da delegação do Observatório Eleitoral que ontem foi recebida em audiência pelo Presidente da República, Armando Guebuza, muitas pessoas, maioritariamente jovens, fizeram-se à rua nos dias 1 e 2 de Setembro para expressar o seu descontentamento devido à crescente carestia de vida consubstanciada pela galopante subida dos preços dos produtos básicos, nomeadamente o pão, energia e água.
Acrescentou que, de início, as manifestações pareciam querer exprimir uma mera contestação à alta de preços, mas, paulatinamente, acabaram se assumindo como que uma revolta popular à ordem estabelecida. Assim, criou-se um ambiente de grande tensão social, caracterizado por violência física de parte-a-parte, entre os agentes da Polícia e os manifestantes.
De acordo com a fonte, à medida que a onda de contestação foi crescendo, infra-estruturas públicas e privadas tornaram-se alvos dos manifestantes, sendo exemplo disso o “saque” de produtos no interior de alguns armazéns e vandalização de instalações de fornecimento de energia e de combustível.
Parafraseando a Constituição da República, o Observatório Eleitoral, que se reuniu extraordinariamente para, entre outros reflectir sobre o acontecimento, considera que todos os cidadãos têm direito à liberdade de reunião e manifestação nos termos da lei. Porém, segundo aquela organização, o procedimento para a realização da manifestação poderá não ter observado os trâmites previstos, provavelmente devido ao medo e receio dos promotores sofrerem represálias, incluindo a não viabilização da mesma. Considera que já era público, principalmente das autoridades policiais, de que no dia 1 de Setembro de 2010 iria decorrer uma manifestação de contestação à alta de preços, facto comprovado pelo porta-voz do Comando-Geral da Polícia, ao declarar que a sua realização não seria tolerada.
No entender do Observatório Eleitoral, esta atitude das autoridades da lei e ordem, ao invés de acalmar os ânimos, poderá ter atiçado a vontade resoluta dos manifestantes de se fazerem à rua. O resultado do exacerbamento de posições por parte das autoridades policiais, por um lado e, por outro, dos manifestantes foi a perda de vidas humanas, maior parte das quais inocentes, dentre as quais uma criança de 11 anos, atingida por uma bala quando regressava da escola.
“Queremos deixar expressos os nossos votos de louvor e apreço ao Governo pelas medidas de contenção de preços, de despesas públicas e de austeridade na atribuição de regalias aos dirigentes, anunciadas no dia 7 de Setembro de 2010. Apelamos para um diálogo real, tolerância e inclusão social, virtudes que devem caracterizar o acto de bem servir e governar e que devem ser usados pelos governantes para se aproximarem mais dos governados em todos os níveis da governação”, lê-se no comunicado distribuído à Imprensa momentos após a audiência com o Chefe do Estado.
No mesmo documento, o Observatório Eleitoral encoraja as forças vivas da sociedade para adoptarem formas mais eficazes de educação e formação das crianças e jovens de modo a se interessarem por coisas boas e invulneráveis a actos e acontecimentos de maldade.
A organização diz estar consciente de que as medidas tomadas pelo Governo, embora positivas, não resolvem em definitivo a situação de penúria e fome das populações. Assim, apela ao Executivo para que em permanente articulação com a sociedade tome uma postura mais preventiva de crises e adopção de políticas mais inclusivas tendentes ao maior envolvimento dos cidadãos, independentemente da sua filiação partidária, para o aumento da produção e produtividade e benefício das oportunidades económicas, num clima de maior confiança entre governantes e governados.
O sheik Abdul Carimo Sau disse que o Presidente da República falou, na ocasião, sobre as estratégias que estão a ser traçadas em relação à pobreza urbana. Afirmou que o Governo também está preocupado com as estratégias a serem tomadas depois do mês de Dezembro, prazo-limite decretado para vigorarem as medidas de contenção do custo de vida e de despesas públicas anunciadas pelo Executivo.
“Neste momento, (o Governo) está a reflectir profundamente e a auscultar as várias sensibilidades. Sua Excelência o Presidente da República apresentou uma mensagem de muita esperança. Ele, pessoalmente, está muito esperançado de que a situação melhorará e é necessário que nós eliminemos o défice de comunicação que existe entre o Governo, entre a sociedade pensante no nosso país com as populações. É importante que se criem mecanismos para uma comunicação mais eficiente para que todos estejam incluídos neste processo de desenvolvimento do nosso país”, disse.
Segundo a fonte, o Presidente da República também disse que é possível aos moçambicanos humanizarem cada vez mais o seu país, a sua economia, bem como todos os seus processos de desenvolvimento.
Fonte: Jornal Notícias - 16.09.2010
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Há 54 minutos
10 comentários:
Caro Neves, eu acho que é bom deixarmos que cada um veja o problema do seu ângulo e depois conjuguemos todas as visões.
1.Alguns(Pacheco incluso) acham que não há problema algum. Bandidos, vândalos,movidos por uma mão externa foi a causa das manifestações.
2.Alguns(Carlos Serra incluso) acham que o governo anda ausente caso contrário perceberia o impacto negativo que aqueles aumentos todos teria na vida do cidadão.
3. Alguns acham que o governo é insensível aos problemas das populações.
4.O Observatório Eleitoral acha que pobreza absoluta é a causa.
O caro Neve oque acha?
Não achará nada.
Quando se tem uma ideia formatada não há desvios de pensamento.
A isto chamo de preconceito.
O Neves sofre disso.
Zicomo
Viriato,
O Neves esta falar assim porque sabe que Sheik Abdul Carim Sau esta em observacao,
Se fosse Brazao Mazula a falar, ele ia concordar logo, ate bater palmas, e dizer que foi decobrimento do ano.
Estao atentar infiltrar-se nas Rolas,
Acho que ate guebuza ja quer jogar na Rolas,
So que pra jogar nas Rolas, tem que se pensar, tem ter massa cinzanta,
Nao nao queremos problemas de QI Baiximo na Seleccao.
Neves
Definitivamente digo-te. Se vens aqui para falar mal de pessoas, elimino os teus comentários.
Neves que crie o seu blog.
Caros
1. Nem que fosse Brazão Mazula a dizer isso esse NEVES que se multiplica chamar-lhe-ia de crianca, ao menos que ele não fizesse o servico deles e chamasse de vândalos, bandidos os manifestantes. O problema esta no Observatório Eleitoral tentar agir como uma verdeira organizacão da Sociedade Civil.
2. O Neves que se multiplica, sabe que cada um tem o seu ponto de vista e o debate só pode ser para conjugar as visões (não insultos, sublinho). Mas quando ele vem dizer o que disse é porque ele tem um objectivo definido. Fazer deste blog o seu local de insultos. Esse multiplo Neves é do grupo de choque.
3. Enquanto o múltiplo Neves não se identificar não o permitirei insultar no meu blog.
4. Admiro bastante que os Neves não dizem o que dizem nos locais mais comentados como no País.
Concordo Reflectindo,
Mas tens um brazao que defende a idologia, como defesa de tese dele pra doutoramento, teve uma actuacao desgracada e pouperrima nas ultimas eleicoes e que lhe valeu de presente um cadeia no concelho de estado,
Enquanto que Abdul Carim Sau, foi uma das unicas pessoas que nas legislativas disse que visto fraude, e que estava em condicoes de identificar a mesa e a pessoa que fez,
Eu acho que pretende-se dar uma ar mais credivel 'ao observatorio, usando o Abdul Carimo Sau,
E por essa razao, quero mesmo observar a actuacao do Abdul Carimo Sau, que tambem representa o Conselho Islamico de Mocambique,
Obviamente que na estrategia ideologica que exclui, o mbs e simbindicuss sao um passivo, se bem que nunca representaram os muculmanos, embra sempre fossem promovidos como representantes dos muculmanos.
Caro Reflectindo,
Há outras teorias sobre a causa das manifestações contra a subida dos preços dos produtos básicos. Na Mauritânia os preços do arroz dobraram nos primeiros três meses de 2010 (disse a PMA). No mesmo período, o preço do milho subiu 59% no Zimbabué e 57% em Moçambique. Na República Democrática do Congo, o preço de um saco de arroz dobrou. Quando governo russo proibiu as exportações de cereais até o fim do ano, o preço de trigo no mercado futuro subiu mais de 70% em trinta dias. No nível mundial em um ano, o preço do trigo subiu 75%. Houve manifestações contra a subida dos preços igualmente no Egipto, na Mauritânia, no Senegal, na Índia e na Rússia. Uma tendência que levou a PMA a marcar uma reunião de emergência para 24 de Setembro. Mas se cremos os EUA, não há necessidade de se preocupar. De acordo com o relatório do Departamento de Agricultura de 12 de Setembro de 2010, as estimativas das reservas de trigo são acima do esperado pelos mercados. Mesmo segundo a PMA, as reservas mundiais de grão (incluindo aquelas de trigo) superam aquelas de 2008 por 25%.
O que pode significar que grande parte da subida do preço de trigo (e das manifestações) foi provocada pela especulação nos mercados financeiros. Porque os especuladores não procuravam trigo, na realidade procuravam lucros rápidos. Adicionalmente os biocombustíveis roubam de terrenos agrícolas aos alimentos. Adicionalmente o Banco Central (BCM) utilizou a sua impressora de dinheiro para pagar pelos excessos da burocracia, o crónico défice orçamental e as dívidas produzidas pelo governo. Para acalmar a fúria dos revoltados, ainda continuam imprimir dinheiro, aumentando assim cada vez mais a inflação de preços dos produtos básicos. O que significa, não há um só culpado pelas manifestações! Porque fome e pobreza absoluta sempre têm múltiplas causas.
Um abraço
do Oxalá
Oxalá
Obrigado por este comentário sob o teu ponto de vista. Por apresentares um outro ângulo sobre os motivos da subida dos preços dos produtos básicos, vou criar um post do seu comentário. Estou procurando o título.
Mas uma coisa é como se contorna a procura de lucros rápidos? Parece-me que sempre é assim tanto para produtos alimentares como para o petróleo. Por exemplo, para mais lucros e rápidos, a OPEC até decide em reduzir a produção do petróleo o que muitas vezes penaliza os países sem sua reserva.
Caro Reflectindo,
A questão foi: Mas uma coisa é como se contorna a procura de lucros rápidos?
A especulação com os preços dos alimentos é um problema grave para governos de países emergentes, países em desenvolvimento ou países importadores de alimentos como Moçambique. Os maiores protagonistas da especulação são fundos hedge e fundos especiais (por exemplo do Deutsche Bank ou do Paribas BN), que diariamente investem bilhões de dólares em contratos de compra e venda de grãos nos mercados futuros de Nova Iorque, Chicago, Londres, Paris, Amesterdão e Frankfurt. Os preços futuros do trigo naquelas bolsas especiais não têm nada a ver com a oferta e a demanda real, nem com as estimativas de colheita dos governos e das organizações internacionais, como a PMA. Plantar trigo não interesse os protagonistas da especulação. Os contratos futuros não necessitam de trigo, necessitam de dinheiro. Somente 2% dos futuros agrícolas negociados envolvem uma operação com mercadorias reais, uma compra ou venda física. 98% dos contratos futuros de alimentos basicos são pura especulação e servem para o enriquecimento rápido.
Por isso, em relação aos mercados futuros, não basta contornar a procura de lucros rápidos. Para evitar a repetição das manifestações contra a subida dos preços de produtos básicos, precisamos de uma estratégia a nível internacional de forma a regular rigidamente os mercados futuros de alimentos (incluindo o trigo). No nível mundial deve ser impedido qualquer especulação com a nossa comida. É a tarefa dos G-20 (grupo que reúne 20 das maiores economias do mundo), de proteger os pobres e famintos. A especulação selvagem com os alimentos básicos é uma violação do direito humano fundamental à alimentação, que requer medidas drásticas do G-20 no âmbito político dos Direitos Humanos. O G-20 integra, entre outros, a África do Sul, Egipto, Nigéria, Tanzânia e Zimbabué, países que tem uma co-responsabilidade pela especulação selvagem e as recentes manifestações.
Um abraço
do Oxalá
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