quarta-feira, julho 18, 2007

A opinião do Damásio Chipande (2)

As aldeias comunais

O Damásio Chipande faz uma boa introdução ao citar Edward Gibson aliás Gibbon, mas mal aplica nisto que o historiador britânico havia dito.

Dizer o Damásio aos jovens que ele é historiador verdadeiro já é mais um factor deturpador da nossa História cheia de lacunas. Por alinhamento partidário, neste caso Frelimo, pode o Damásio Chipande negar o argumento de quem combateu com sucesso a ideologia do seu partido. Isto é normal, mas é apenas uma opinião. O grande mal é conscientemente falsificar os factos, ainda sabendo que a maioria que viveu no período em que eles se passaram está viva.

Assim, quando o Damásio diz que as aldeias comunais surgiram a partir de 1982, julgo cometer conscientemente uma mentira. Uma mentira perigosa porque falsifica a história. Como não conheço dos decretos que ele fala e ele não faz esforço para nos indicar o local onde eles se encontram, fico a entender que os usa para reforçar a falsficação. Ora, se o governo da Frelimo fez um decreto em 1982, suponho, para todos viverem em aldeias comunais ou bairros comunais, foi apenas um reforço do que já fazia desde à altura de independência. Em 1978, eu como professor estagiário em Angoche, fui com os meus colegas trabalhar numa aldeia comunal na localidade de Namaponda. Concluído o curso, em 1979, muitos dos meus colegas foram trabalhar em aldeias comunais.

Quanto às supostas vantagens como início de um desenvolvimento urbanístico, consumindo-se água canalizada, acedendo-se a hospitais, se bem que constituíam apenas boas intenções foram um verdadeiro “bluff” (tudo foi ao contrário), tal igual foi em Tanzânia (ver no livro Geography of the Third World. Second edition by Dickenson, Gould e outros).

Na tentativa de explicar que as aldeias comunais tinham como objectivo de impedir contactos entre guerrilheiros da Renamo e a população, o Damásio está a aprovar a estratégia do governo colonial em obrigar às populações nas zonas atingidas pela guerra em constituir povoamentos ou aldeiamentos. E, isto revela que o governo da Frelimo que ele defende estava consciente que a Renamo tinha apoio da população. Enquanto alguns tentavam não concordar com o estudo do Christian Geffray, foi este provado em eleições, que a Renamo tem um forte apoio nas zonas rurais. Na minha opinião e ao que assisti, uma das razões, é a actuação diferenciada entre as duas forças beligerantes – Frelimo e Renamo durante a guerra civil. Quanto à actuação militar, a Renamo era autêntica protectora das populações nessas zonas enquanto que a Frelimo era agressora e isso era vice-versa nas zonas urbanas.

Continua...

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