Deputado Mascarenhas assassinado na Beira
Mais um crime a desvendar
* Renamo e sua bancada na Assembleia da República reúnem, de emergência, em Maputo e Beira, respectivamente.* Afonso Dhlalama, Ossufo Momade já estão no terreno.
(Maputo) O corpo do deputado pela bancada da Renamo e membro da Comissão de Defesa e Segurança da Assembleia da República, José Gaspar de Mascarenhas, foi ontem identificado na morgue do Hospital Central da Beira(H.C.B.). O seu cadáver foi reconhecido às primeiras horas da manhã por amigos e correligionários, entre os quais o secretário-geral do seu partido Ossufo Momade. Informações obtidas pelo «Canal de Moçambique» na principal unidade de saúde da capital da província de Sofala, círculo pelo qual o malogrado foi eleito, indicam que o cadáver deu entrada na morgue na segunda-feira, tendo estado ali até ontem sem que fosse identificado.
O corpo de José Mascarenhas foi removido pela Polícia de Investigação Criminal (PIC) das imediações das ruínas do que em tempos foi a esplanada «O Veleiro» na Praça da Independência (ex-Praça da Índia), segundo o pessoal da morgue. “Foi encontrado na segunda-feira, morto, despido, só com meias e sapatos e com marcas de agressão física e perfuração de bala na nuca”.
O repórter «free-lancer» José Chitula disse ao «Canal de Moçambique», a partir da morgue, que o cadáver apresentava um perfuração única na nuca. Ele estava na presença do corpo do deputado da Renamo quando nos falava e informou-nos de que naquele momento encontrava-se também no local o secretário-geral daquele partido, o general na reserva Ossufo Momade.
José Chitula confirma a versão que circula na Beira sobre as circunstâncias em que o cadáver foi encontrado, mas a Polícia, até ao fecho desta edição, ainda não se pronunciara oficialmente.
Uma fonte médica do Hospital Central da Beira informou o «Canal de Moçambique» que até ontem ao meio-dia ainda não tinha sido feita a autópsia ao cadáver. Era suposto ser feita ontem à tarde pelo único médico legista existente na Beira, um cidadão cubano.
O deputado encontrava-se na Beira há vários dias e não apresentara qualquer justificação ao Parlamento para explicar a sua ausência da sessão que teve início a 1 de Março.
O repórter José Chitula esteve na recepção do Hotel Miramar onde lhe confirmaram que o deputado estivera lá hospedado do dia 2 a 5 de Março. “Pagou e saiu do hotel por volta das 10 horas da manhã de domingo”.
Aquele jornalista informou-nos também que Mascarenhas se despedira dos amigos indicando-lhes que iria partir para Caia e Quelimane “na 2.ª feira”. Não foi possível ainda saber-se onde iria ele pernoitar de domingo para segunda.
José Gaspar de Mascarenhas ia frequentemente a Caia, sede do distrito com o mesmo nome. Em Quelimane era sócio gerente da «ENTRECAMPOS-Cerâmica e Carpintaria da Zambézia, Lda».
Caia era o distrito que José Mascarenhas tinha a seu cargo nas suas actividades partidárias pela Renamo.
Na Beira o deputado assassinado foi visto pela última vez na companhia de Luís Carrelo, irmão de Fernando Carrelo uma figura proeminente da Renamo na Beira que acabaria por cair em desgraça ao entrar em conflito com o seu partido pelo facto deste ter optado por apoiar a candidatura do engenheiro Daviz Simango em vez da sua ao cargo de presidente do Município da capital de Sofala de que este último é hoje o Edil.
A “amizade” entre os Carrelos e o malogrado é referida como sendo “de longa data”. O Hotel Miramar onde estivera hospedado fica a poucas centenas de metros do local em que se diz que o seu corpo foi encontrado “nú e calçado”, na “segunda-feira de manhã”. Estes dados indiciam que ele possa ter sido assassinado entre a noite de domingo e a madrugada do dia em que foi encontrado, mas nenhuma autoridade confirmou até este momento se o crime se deu no local onde o corpo foi encontrado ou se foi ali despejado.
Na morgue o jornalista José Chitula comprovou que o cadáver tem vestígios de areia da praia. A Praça da Independência fica na orla marítima tal como o hotel onde estava hospedado. Para quem conhece a Beira, mesmo fora da orla marítima, na Praça da Independência há bastante areia.
O porta-voz da Renamo disse ao «Canal» que “o partido está em estado de choque e que a chefia da bancada da Renamo estava reunida de emergência à procura dos caminhos que possam levar a um esclarecimento do caso”.
“O estado-maior da Renamo também está reunido na cidade da Beira, onde já se encontra o presidente Afonso Dhlakama”, disse ainda Fernando Mazanga.
José Mascarenhas foi militante das Frelimo depois de ter zarpado de Moçambique na companhia de Felício Zacarias, actual ministro das Orbras Públicas, e de Arnaldo Ribeiro, director do Instituto Nacional do Açucar entre outros, poucos dias após o golpe de Estado em Portugal que viria a pôr termo à colonização. Foi responsável da logística no Serviço Nacional de Segurança Popular (SNASP) onde acabaria por ser preso, juntamente com outros altos responsáveis daqueles serviços de inteligência de Samora Machel, às ordens de Mariano de Aráujo Matsinhe. A alegação na altura é de que estaria a ser preparado um golpe de Estado. Na época o ministro da Segurança era Jacinto Veloso. Acabaria por saltar a fronteira na Ponta do Ouro em fuga bem sucedida para a África do Sul deixando alguns dos seus companheiros do SNASP ou presos ou exilados à força em diferentes pontos do país. Mais tarde apareceria em Lisboa integrado nas fileiras da Renamo. Era um dos homens mais próximos de Afonso Dhlakama que já se encontra na Beira onde é suposto dirigir um congresso da Liga Feminina da Renamo.
A viúva do malogrado falando ontem a um colega aqui do «Canal de Moçambique», em estado de choque, disse apenas: “Mataram o meu marido!”. Ela ainda não sabia pormenores. Disse ao «Canal» que seguiria ontem mesmo para a Beira. Ela é médica do Serviço Nacional de Saúde. (Luís Nhachote)
Fonte Canal de Mocambique, 2006-03-10 07:37:00
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