sábado, agosto 07, 2010

Duma denuncia tentáculos da revisão

Da Constituição da República
- Miguel Mabote é um balão de ensaio

Por Armando Nenane

A caminho de mais uma revisão da Constituição da República de Moçambique, o jurista Custódio Duma analisa, em entrevista ao SAVANA, os cenários da coisa. Denuncia o surgimento de tentáculos da revisão constitucional, aqueles balões de ensaio como Miguel Mabote, presidente do Partido Trabalhista, que vão surgindo, amiúde, para medir a pulsação da opinião pública a favor do partido no poder. Duma, defensor acérrimo dos direitos humanos, não duvida que a Frelimo tende para o exercício de um poder absoluto.

Segue-se a entrevista.

A Frelimo está a auscultar sensibilidades com vista à revisão da Constituição da República de Moçambique. Como encara este momento?

Acho que sempre temos que partir do ponto de vista legal. É um mandato que a Constituição determina. É bom que assim seja. Há determinadas matérias que de momento a momento precisam de ser revistas. É um exercício legítimo para adequar a Constituição ao contexto actual. Todas as leis devem seguir a Constituição. Se estiver desajustada, as outras leis também estarão desajustadas. É legítimo. A Constituição não é uma lei pequena, é mãe de todo o ordenamento jurídico. Mas, por outro lado, há limites, materiais e formais, que visam proteger que essa revisão não seja a bel-prazer de quem entender fazê-la. Deve reflectir a vontade dos moçambicanos, protegendo os direitos fundamentais dos cidadãos. São necessários dois terços para que isso aconteça. São limites formais para que não haja um pequeno grupo a fazer isso.

Fora as questões de ordem formal, o que lhe oferece dizer, olhando para o contexto político actual?

Olho e vejo dois cenários importantes. Se os deputados da Frelimo enveredarem pelos conhecimentos jurídicos que têm, pela lealdade ao Estado de Direito, teremos uma Constituição que representa as necessidades do país. Se puderem se despir da lealdade política, teremos uma revisão representativa. Mas há outra hipótese, que é a de fazerem uma revisão que serve aos interesses do partido em nome do respeito pela disciplina partidária. Ora, não existe nenhuma proibição legal para que isso aconteça, porque o partido têm a maioria no parlamento.

Quais são os grandes riscos da opção pela disciplina partidária?

As grandes preocupações dos cidadãos são as garantias fundamentais, a imobilidade das correspondências, os segredos, o recurso aos tribunais, a liberdade de reunião, os direitos à greve e à manifestação. Foi para proteger estes direitos que a Constituição surgiu. A separação de poderes é a segunda preocupação. Qual será a definição dos órgãos. A separação de poderes implica que o parlamento tenha autonomia, assim como o governo e o judiciário. Depois, o tipo de governo, se parlamentar, presidencial, semi-presidencial, entre outros modelos. As formalidades, se o presidente é eleito, depois os mandatos. Os mandatos são importantes, pois pode sobressair a possibilidade de outros candidatos concorrerem. Depois, a questão, se calhar menos relevante, dos símbolos nacionais.

Qual é a tendência da revisão na sua óptica?

É complicado especular agora. Se os deputados quiserem vão mandar o Presidente para mais um mandato. Ou então decidirem que passe a ter 10 mandatos. Podem fazer isso sem ninguém poder fazer nada contra. Eles têm a maioria no parlamento. Sobre o sistema de governo, também podem fazer, mas tem que ser por via de uma auscultação pública.

Miguel Mabote, do PT, “representante oficial da oposição”, lançou a ideia da adopção de um sistema parlamentar, em que o PR é eleito pelo parlamento…

Os balões de ensaio sempre existiram e esse indivíduo é um deles. Desde quando propuseram um terceiro mandato para Guebuza, começaram a surgir balões de ensaio. Mabote é um tentáculo da Frelimo. Através dos seus tentáculos, que são tantos, a Frelimo está a tentar ver se é momento certo para avançar com certas decisões, algumas das quais podem custar muito aos moçambicanos. Mesmo a nível dos artigos na imprensa, dos debates nas rádios e na internet, nota-se que a intenção é medir a pulsação da opinião pública. Os cidadãos não podem fazer nada, senão consumir tudo.

A Frelimo pode fazer o que entender…

O legislador pensava que os dois terços eram representativos, que neles caberiam os partidos políticos e que não seriam absorvidos por um único partido, para o bem da democracia. Em democracia, se o povo não decide, os escolhidos vão escolher por todos. Só através da participação política é que se reverte o cenário.

De que depende a participação política?

Depende do fortalecimento dos partidos políticos, das instituições da sociedade civil, entre outros. Mas neste momento os partidos políticos estão numa situação obsoleta. Estão mais preocupados com agendas de sobrevivência como partidos e não como instrumentos de oposição. Não têm uma agenda própria e tendem a transformar-se em tentáculos de um partido maior, num cenário em que um grande partido domina todos os espaços.

Há saídas?

A menos que surjam partidos novos para renovar a situação. Mas também passa pela capacidade de todos os moçambicanos perceberem a necessidade de participarem na vida política do país, não pela via da repetição do discurso político do dia, do discurso da auto-estima, entre outros. Há necessidade de um levantamento de consciência, não partidária, mas em termos de cultura de cidadania.

A tendência é o partido assumir maior prepotência?

Estamos numa situação em que caminhamos para um maior engrandecimento do partido Frelimo. Isso é notável pelos grandes discursos que têm acontecido, as campanhas de presidência aberta, as chamas da unidade, relembrando o papel histórico do partido. Tudo isso é um engrandecimento absoluto do partido. Mariano Matsinhe mostrou, em entrevista recente à STV, que a Frelimo é e quer ser superpoderosa. Há um elevado nível de clientelismo por causa disso, a grande parte dos jovens não acredita que pode se realizar fora do partido, não acredita em si própria fora do partido. Isso é fruto de como as coisas são colocadas. Nos debates, as pessoas têm receio de serem conotas, não dizem as verdades, não criticam. Este cenário não é bom e têm como consequência a destruição de todo um Estado de Direito, que passa a ser autoritário e ditador. Isso é perigoso, pois quanto menos liberdade de participação as pessoas tiverem, procurando outras formas menos ortodoxas.

Há quem diga que o caso da Beira também é uma demonstração de poder da Frelimo.

É mais uma forma de ditadura do mais forte. Só o facto de o processo não ter chegado ao Supremo, não ter tido efeito suspensivo, é sinal de ditadura. O Daviz Simango reclama com as garantias constitucionais, mas mesmo assim a decisão do tribunal só tem efeito devolutivo. O direito é cristalino, não pode deixar zonas nebulosas, de penumbra, tal como está a acontecer na Beira. Quem não entende a decisão do tribunal, tem que ser explicado. O juiz explica a sentença ao réu porque o réu não é jurista. Tende a se instalar um clima de medo, é preciso pensar duas vezes antes de intentar uma acção contra a Frelimo.

Fonte: Savana in Diário de um sociólogo - 06.08.2010

15 comentários:

Abdul Karim disse...

O banco Suplentes:

- Duma
- Quiteria
- Joscelina
- Anonimo

Tem ser 18, existem 3 vagas, sao candidaturas abertas, talento 'e criterio.

Depois Equipe Tecnica e Tribuna Honra,

A Seleccao Nacional vai comecar jogar.

V. Dias disse...

Disse coisas com "nzimo" ou seja, com sentido em língua nhungue e eu gostei "maningue".

Concordo com ele em algumas partes senão em toda a entrevista, em outras penso que faltou afunilar ainda mais. Nada errado. Insisto que não é com o surgimento de mais partidos que o cenário político vai mudar, temos partidos e políticos que bastem para fazer a diferença, muito menos consciencializar as massas.

Em nenhuma parte do mundo as massas tomou o poder. E se tal aconteceu não durou meia dúzia de anos. Ela deve vir da classe média, das elites, da sociedade civil activa, estes sim é que mandam. O voto? Dirão! É o resultado de descontentamento dessas eleites que fazem empurrar o povo ao "poder" (voto) e nunca o contrário.

A sociedade é feita de vencido e vencedores. Veja o caso de Lula, um sindicalista que mal chegou ao poder as classes burguesas do Brasil obrigaram-no a mudar de rumo. Samora idem. Etc, etc, etc.

Há sempre uma solução, governar em função do estômago do povo, e é o que Lula, finalmente, está a tentar fazer, corrigindo os erros dos primeiros anos do seu mandato.

Voltando a questão da oposição. Dizia que a nossa oposição não sabe aproveitar esses cenários. A crise, a corrupção, a alta de preços, etc fazem muda a nossa oposição, não devia ser.

Outra coisa, aí está o problema das democracias improvisadas. Eu não gosto nada deste sistema. Nem de outras democracias. Nada mesmo. Em qualquer país onde a maioria impera no parlamento verifica-se a ditadura de votos que é mais dura do que a outra, porque tem a protecção da lei.

Enfim, gostei da análise que ele, Duma, faz em relação a Mabote, etc. Penso que foi feliz na autópsia. A Frelimo sempre usou esses pequenos partidos para materilizar as suas acções, são cobaias. A própria Renamo, sem se aperceber disso, já prestou esses serviços.

Zicomo

Abdul Karim disse...

Viriato, Mano.

Isto esta um Espectaculo.

Eu gostaria de ver em 3D.

V.Dias disse...

Hoje quero descansar. Quero beber um bom vinho com a familia. Chega de politica.

Zicomo

Abdul Karim disse...

Viriato,

Ja comecaste com tuas brincadeiras,

Nao esquece projecto da Ilha De Mocambique,

Aquilo tem que ficar muito bonito.

Reflectindo disse...

Bom fim de semana, manos!

Unknown disse...

Simplesmente inaceitavel, a ser verdade.
Vi varios artigos de imprensa que reportavam que o senhor PR tinha dito que nao ia se candidatar. Sera que ele nao estava a dizer a verdade? Ou a imprensa esta apenas a fazer ondas de um assunto ja ultrapassado, querendo vender mais?

Reflectindo disse...

De facto, vamos ver no que vai dar a revisão da Constituicão da República.

Abdul Karim disse...

Reflectindo,

A Constituicao da Republica, vai dar aquilo que o Concelho Cientico do CEA decidir.

TORRES disse...

Gostaria de contribuir para o debate em torno da intenção da FRELIMO de alargar o tempo dos mandatos, de 05 para mais anos (07 anos?).

Comecemos pela definição: um mandato não é nada mais do que um contrato entre o povo (mandatário, aquele que detêm o poder) e o mandatado (Governo, municípios) para que estes últimos façam a gestão da coisa publica. Logo, deduz-se daqui que ambos têm direitos e deveres. O Governo e os municípios têm a obrigação de cumprir o mandato, dentro das condições impostas pelo povo, e recebendo instruções do povo. A aprovação dos programas de governação pelas Assembleias da Republica ou Municipal resultam desses pressupostos.

Por conseguinte, um mandato remete para um tempo, que é o período em que um órgão ou instituição do Estado deve trabalhar, implementando os programas de que se predispôs a cumprir. Ademais, o volume e a complexidade de trabalhos que os partidos apresentam em seus manifestos eleitorais são da inteira responsabilidade desses partidos, pois o povo não os obrigou a alistarem tais actividades. Um mandato pressupõe “cumprimento” ou “não-cumprimento”, devendo neste último caso resultar em sanções por parte do eleitorado.

Numa democracia, a lógica dos mandatos é justamente para dar ao povo a oportunidade de avaliar o grau de implementação das actividades dos titulares dos órgãos. Logo, se em 05 anos um partido que forma Governo não consegue trabalhar, demonstra que não cumpriu com o contrato. Assim, o que deve fazer é dar espaço aos outros actores políticos para formarem governo, e não solicitar mais tempo. É para isso que temos uma democracia multipartidária!

Solicitar um alargamento do tempo de mandato é um contra-senso na medida em que deixa transparecer que o Governo planificou mal as suas actividades, descuidando-se do tempo. E planificar significa tomar em conta também questões imprevistas, como crises económicas, de combustível, de alimentos, cheias, sismos, tsumanes, epidemias, etc. Um governo responsável avalia cuidadosamente (e com regularidade) os vários cenários e acautela-se.

Ademais, o alargamento de mais anos não garante, em si, que os programas serão cumpridos. O actual Presidente da Republica já repreendeu muitas vezes funcionários públicos que diziam não ter cumprido as actividades que planificaram porque não tiveram tempo. O Presidente da Republica afirmava que era necessário planificar tendo em conta o tempo de implementação. É esta mesma lógica que exigimos que seja levada em conta pelos proponentes do alargamento.

De resto, para quem conhece a realidade moçambicana vai concordar comigo quando afirmar que os órgãos eleitos só têm trabalhado nos últimos 06 meses dos seus mandatos. Quando faltam poucos meses de eleições, temos visto estradas asfaltadas, ruas em manutenção, escolas a serem construídas, etc. Ao longo dos 05 anos o que acontece tem sido um autêntico esbanjamento de tempo: muitas reuniões que não produzem nada; “presidências abertas” que tem paralisado as actividades dos locais visitados; o caso da “tocha” que paralisava as actividades nos locais por onde passava e, recentemente, o caricato caso de Alto-Molucue em que, por ocasião da visita de um governador provincial, os comerciantes foram obrigados a encerrar o comércio.

Tudo isso só ilustra que o que temos demais é tempo para trabalhar. O que os proponentes do alargamento devem fazer é instruírem ao Governo para trabalhar mais, dia e noite, e madrugada, se for necessário. Porque solicitar que se estenda o tempo de trabalho é simplesmente abusar da confiança do povo moçambicano.

TORRES disse...

Gostaria de contribuir para o debate em torno da intenção da FRELIMO de alargar o tempo dos mandatos, de 05 para mais anos (07 anos?).

Comecemos pela definição: um mandato não é nada mais do que um contrato entre o povo (mandatário, aquele que detêm o poder) e o mandatado (Governo, municípios) para que estes últimos façam a gestão da coisa publica. Logo, deduz-se daqui que ambos têm direitos e deveres. O Governo e os municípios têm a obrigação de cumprir o mandato, dentro das condições impostas pelo povo, e recebendo instruções do povo. A aprovação dos programas de governação pelas Assembleias da Republica ou Municipal resultam desses pressupostos.

Por conseguinte, um mandato remete para um tempo, que é o período em que um órgão ou instituição do Estado deve trabalhar, implementando os programas de que se predispôs a cumprir. Ademais, o volume e a complexidade de trabalhos que os partidos apresentam em seus manifestos eleitorais são da inteira responsabilidade desses partidos, pois o povo não os obrigou a alistarem tais actividades. Um mandato pressupõe “cumprimento” ou “não-cumprimento”, devendo neste último caso resultar em sanções por parte do eleitorado.

Numa democracia, a lógica dos mandatos é justamente para dar ao povo a oportunidade de avaliar o grau de implementação das actividades dos titulares dos órgãos. Logo, se em 05 anos um partido que forma Governo não consegue trabalhar, demonstra que não cumpriu com o contrato. Assim, o que deve fazer é dar espaço aos outros actores políticos para formarem governo, e não solicitar mais tempo. É para isso que temos uma democracia multipartidária!

Solicitar um alargamento do tempo de mandato é um contra-senso na medida em que deixa transparecer que o Governo planificou mal as suas actividades, descuidando-se do tempo. E planificar significa tomar em conta também questões imprevistas, como crises económicas, de combustível, de alimentos, cheias, sismos, tsumanes, epidemias, etc. Um governo responsável avalia cuidadosamente (e com regularidade) os vários cenários e acautela-se.

Ademais, o alargamento de mais anos não garante, em si, que os programas serão cumpridos. O actual Presidente da Republica já repreendeu muitas vezes funcionários públicos que diziam não ter cumprido as actividades que planificaram porque não tiveram tempo. O Presidente da Republica afirmava que era necessário planificar tendo em conta o tempo de implementação. É esta mesma lógica que exigimos que seja levada em conta pelos proponentes do alargamento.

De resto, para quem conhece a realidade moçambicana vai concordar comigo quando afirmar que os órgãos eleitos só têm trabalhado nos últimos 06 meses dos seus mandatos. Quando faltam poucos meses de eleições, temos visto estradas asfaltadas, ruas em manutenção, escolas a serem construídas, etc. Ao longo dos 05 anos o que acontece tem sido um autêntico esbanjamento de tempo: muitas reuniões que não produzem nada; “presidências abertas” que tem paralisado as actividades dos locais visitados; o caso da “tocha” que paralisava as actividades nos locais por onde passava e, recentemente, o caricato caso de Alto-Molucue em que, por ocasião da visita de um governador provincial, os comerciantes foram obrigados a encerrar o comércio.

Tudo isso só ilustra que o que temos demais é tempo para trabalhar. O que os proponentes do alargamento devem fazer é instruírem ao Governo para trabalhar mais, dia e noite, e madrugada, se for necessário. Porque solicitar que se estenda o tempo de trabalho é simplesmente abusar da confiança do povo moçambicano.

TORRES disse...

Gostaria de contribuir para o debate em torno da intenção da FRELIMO de alargar o tempo dos mandatos, de 05 para mais anos (07 anos?).

Comecemos pela definição: um mandato não é nada mais do que um contrato entre o povo (mandatário, aquele que detêm o poder) e o mandatado (Governo, municípios) para que estes últimos façam a gestão da coisa publica. Logo, deduz-se daqui que ambos têm direitos e deveres. O Governo e os municípios têm a obrigação de cumprir o mandato, dentro das condições impostas pelo povo, e recebendo instruções do povo. A aprovação dos programas de governação pelas Assembleias da Republica ou Municipal resultam desses pressupostos.

Por conseguinte, um mandato remete para um tempo, que é o período em que um órgão ou instituição do Estado deve trabalhar, implementando os programas de que se predispôs a cumprir. Ademais, o volume e a complexidade de trabalhos que os partidos apresentam em seus manifestos eleitorais são da inteira responsabilidade desses partidos, pois o povo não os obrigou a alistarem tais actividades. Um mandato pressupõe “cumprimento” ou “não-cumprimento”, devendo neste último caso resultar em sanções por parte do eleitorado.

Numa democracia, a lógica dos mandatos é justamente para dar ao povo a oportunidade de avaliar o grau de implementação das actividades dos titulares dos órgãos. Logo, se em 05 anos um partido que forma Governo não consegue trabalhar, demonstra que não cumpriu com o contrato. Assim, o que deve fazer é dar espaço aos outros actores políticos para formarem governo, e não solicitar mais tempo. É para isso que temos uma democracia multipartidária!

Solicitar um alargamento do tempo de mandato é um contra-senso na medida em que deixa transparecer que o Governo planificou mal as suas actividades, descuidando-se do tempo. E planificar significa tomar em conta também questões imprevistas, como crises económicas, de combustível, de alimentos, cheias, sismos, tsumanes, epidemias, etc. Um governo responsável avalia cuidadosamente (e com regularidade) os vários cenários e acautela-se.

Ademais, o alargamento de mais anos não garante, em si, que os programas serão cumpridos. O actual Presidente da Republica já repreendeu muitas vezes funcionários públicos que diziam não ter cumprido as actividades que planificaram porque não tiveram tempo. O Presidente da Republica afirmava que era necessário planificar tendo em conta o tempo de implementação. É esta mesma lógica que exigimos que seja levada em conta pelos proponentes do alargamento.

De resto, para quem conhece a realidade moçambicana vai concordar comigo quando afirmar que os órgãos eleitos só têm trabalhado nos últimos 06 meses dos seus mandatos. Quando faltam poucos meses de eleições, temos visto estradas asfaltadas, ruas em manutenção, escolas a serem construídas, etc. Ao longo dos 05 anos o que acontece tem sido um autêntico esbanjamento de tempo: muitas reuniões que não produzem nada; “presidências abertas” que tem paralisado as actividades dos locais visitados; o caso da “tocha” que paralisava as actividades nos locais por onde passava e, recentemente, o caricato caso de Alto-Molucue em que, por ocasião da visita de um governador provincial, os comerciantes foram obrigados a encerrar o comércio.

Tudo isso só ilustra que o que temos demais é tempo para trabalhar. O que os proponentes do alargamento devem fazer é instruírem ao Governo para trabalhar mais, dia e noite, e madrugada, se for necessário. Porque solicitar que se estenda o tempo de trabalho é simplesmente abusar da confiança do povo moçambicano.

Reflectindo disse...

Caro Torres

Não sei se me permite, mas eu gostaria de publicar o seu comentário como uma postagem independente. Já que esta postagem é antiga e está agora na terceira página, é difícil que muitos leitores, sobretudo os que não recebem por e-mail, possam ler o seu excelente comentário.

Reflectindo disse...

Caro Torres

A minha proposta para o títuto do seu artigo é: Reflectindo sobre a intencão de alargamento do mandato do Presidente da República.

Abraco

Torres disse...

Tudo bem, pode publica-la