Por Jeremias Langa
10/08/2007
A Renamo está, esta semana toda, concentrada no seu burgo, na Beira, a fazer aquilo que poucas vezes fez nestes 17 anos todos em que se transformou em partido político: revisitar os seus processos, estratégias e preparar-se para os grandes embates que a esperam. Dir-se-ia, em outras palavras, que a Renamo finalmente compreendeu que os seus sucessivos desaires eleitorais não surgem por acaso. Mais importante ainda, a Renamo parece perceber, agora, a dimensão das suas responsabilidades no xadrez político nacional.
É um sinal encorajador para a nossa democracia este súbito despertar da Renamo, porque é um partido com uma base de apoio considerável no país e, apesar das suas fraquezas estruturais, é o pilar que faz o contraponto ao quase hegemónico poder da Frelimo. Quer queiramos, quer não, temos que aceitar que com uma Renamo enfraquecida, a democracia fica permanentemente em perigo em Moçambique.
A Renamo habituou-se a culpar a Frelimo pelas suas derrotas. Perdeu eleições? É porque a Frelimo fez fraude; os seus membros desertaram? A Frelimo aliciou-os. Todas as coisas menos boas da Renamo aprenderam a ter um e único rosto: a Frelimo. Dito de outro modo: a Renamo nunca assumiu as suas fraquezas e responsabilidades no seu próprio insucesso. Eles foram sempre culpa dos outros. Este foi sempre o maior inimigo da Renamo.
O Conselho Nacional que realizou na Beira, esta semana, e a reunião da sua Comissão Política marcam uma viragem importante na forma de ser e de estar da Renamo, que ameaçava se transformar num partido monárquico, onde o presidente quer, pode e manda ante o olhar impávido e sereno dos órgãos e militantes do partido! Mas as reuniões da Beira foram apenas o começo. De agora até 16 de Janeiro de 2008, a Renamo tem que provar até que ponto os seus militantes são capazes de pôr em prática as estratégias definidas nos encontros de Chiveve. Aliás, as eleições provinciais são uma excelente oportunidade para o maior partido da oposição testar o seu grau de popularidade junto do eleitorado.
Mas um conselho nacional não substitui um congresso. O congresso é o órgão máximo em qualquer formação política e a ele cabe tomar as decisões de fundo do partido, como a estratégia eleitoral. Sobretudo num ciclo de eleições como o que vamos ter, a Renamo devia ter feito tudo o que estava ao seu alcance para realizar o seu 5º congresso antes de ir a eleições, mas não fez. A desculpa de que não tem dinheiro não chega para justificar (mais um) adiamento. Num congresso, os militantes têm, através dos seus delegados, a oportunidade de escolher quem acham que melhor os pode dirigir, e uma liderança partidária legitimada pelo voto do congresso é uma liderança fortificada para atacar as eleições.
Para além das provinciais, próximo ano também haverá eleições autárquicas, pelo que um congresso na última semana de Junho pode não ser uma boa opção estratégica para a Renamo. Primeiro, porque terão passado seis meses após a realização das “provinciais”, isto é, será tarde demais para analisar o que se terá passado nestas eleições e, a partir dos erros, perspectivar-se a sua correcção tendo em vista as autárquicas e gerais. Segundo, o congresso pode “cair em cima” das eleições autárquicas, não dando muitas chances ao congresso de engendrar uma nova estratégia.
Por tudo isso, creio que, não conseguindo realizar o seu congresso antes das eleições provinciais, a Renamo o deveria ter agendado para logo a seguir a estas eleições. Mas os militantes da Renamo sabem melhor que eu com que linhas se cose o seu partido.
Fonte: País online
Voto de desconfiança
Há 1 hora
3 comentários:
Está certo que o artigo em causa data de um tempo já passado, mas o seu conteúdo é um tema actual. Sobretudo neste momento em que simpatizantes, admiradores e meros observadores procuram ver na Renamo e outros partidos da Oposiçao, posturas e atitudes que os façam deitar nos citados a força do seu voto.
É deveras lamentável ao que se assiste quanto a figura do lider do maior partido da Oposição. Nem parece que tem acessores ou pessoas com as quais trabalha. É um treinador que vai ao campo e no lugar de orientar é ele quem chuta a bola, faz de guarda-redes, etc, etc. Mas no momento de imputar responsabilidades pela derrota, atribui a mesma ao adversario ao invés de olhar para as suas proprias chuteiras, tecnicas de jogo e dizer: perdi porque joguei sozinho!
Obrigado Ximbitane. Bem, algumas pessoas são capazes de me perguntarem do porquê eu trouxe este artigo que parece velho. Para mim uma ideia nunca é velha se ela ainda vale e é importante. Portanto, o que Jeremias Langa disse em Agosto passado ainda é muito válido para o nosso maior partido da oposicão, este que tem que trabalhar com um certo afinco para resolver os problemas criados pela Frelimo ou que ela, a Frelimo, não os resolve.
Ora porquê o artigo do Jeremias Langa é ainda muito válido para mim? Para mim é ele muito válido por ser a verdadeira, clara, objectiva, coerente e pública assessoria à liderança da Renamo. Todos nós sabemos o que Langa disse e supomos que toda a liderança, isto é, o próprio presidente da Renamo, o secretário-geral, os membros do secretáriado-geral, os membros da comissão política, do conselho nacional, os membros do governo-sombra, muitos membros e simpatizantes simples da Renamo. Se alguns não o leram proporciono-os mais uma possibilidade. Jeremias Langa, como qualquer que fosse, por deixar o seu elogio, a sua crítica e sugestão à Renamo públicamente é para mim o melhor conselheiro, o conselheiro irrefutável e provado ao que ele merece respeito. Ao contrário disto, há ainda tanto receio em Moçambique sobre a função de conselheiros, o que se prova por estarmos a assistir atropelos e paralisia total, tanto no governo como nos partidos políticos. No fim, se conclui que os ditos assessores estão lá para mordomias ou por outra porque pelos bosses, foram vistos como os mais fracos, tímidos, bajuladores e melhores especuladores das vontades dos supostos assesserados – dizem o que lhes agrada e não factos.
Uma das coisas que Jeremias Langa me disse a alertar à Renamo é sobre a importância da realização do seu congresso agora e antes das autárquicas. Se a Renamo não fizer isto, está logo a praticar um suicídio político, pois independentemente do crescimento do descontentamento no país à governação da Frelimo, os eleitores podem escolher a terceira alternativa - abstencão. Portanto a Renamo tem que trabalhar arduamente e mostrar ao eleitorado esse trabalho, a sua coesão, organização e prática de princípios democráticos.
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