sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Quando o poder é do povo eles têm nomes

Por Pedro Nacuo

EXTRAS - O que é isto?

Está a pegar moda a população correr para uma democracia efectiva. Por outra, quer exercer o poder que se diz pertencer-lhe. Cabo Delgado, desta vez, também está a ser pioneira: só neste ano, primeiro foi em Palma e agora em Meluco. Pede, de dia, em plenos comícios populares, a retirada imediata de administradores. Quer provar até onde vai o seu poder.
Trata-se de um fenómeno que tem a desvantagem de alterar a ordem das coisas, já que, nesta fase do exercício democrático no nosso país, ainda os governadores, administradores e outros, devem ser “impostos” por quem tenha sido eleito. Daí o nepotismo, o amiguismo, em algum momento, um certo regionalismo, que envolveram a utilização do fundo dos sete (agora nove) milhões de meticais, destinados às iniciativas locais.

Quais são as razões que assistem à população de Meluco, que lhe fizeram despir o seu lado tradicionalmente tolerante, para pedir a Eliseu Machava levar consigo o seu administrador, Vitorino Benjamim Chaúque! Que deveria ir, naquele dia, e que se não houvesse lugar nas 10 viaturas da comitiva, se encarregava em localizar uma que se encontrava parqueada na sede do Partido Frelimo?

Chegaram os primeiros sete milhões de meticais. A população disse que não percebeu como se correu a investir numa antena parabólica, um tractor, um carro-aviário, principalmente porque a antena serve apenas ao administrador; o tractor ainda não lavrou; o carro dizem que nem sabe para quê serve, e ainda assim, o furo que constava do programa para aquele lote, dizem que transitou para este ano.

A única transparência que a população facilmente consegue identificar é que o dinheiro foi distribuído entre os membros do governo distrital e outros assalariados dependentes de instituições do Estado. E o povo disse o que disse:

Que José Muchanga, um escriturário da administração local, na companhia de Cabral Anli, é que estão sentados em cima da “mola”, confiados pelo Conselho Consultivo Distrital (?). Só dão dinheiro a quem lhes dá alguma percentagem do valor total, assim como falsificam dados. Recebeu 100 quem recebeu 50 mil meticais!

Que Hermenegildo Matola, agente da PRM, veio transferido de Maputo, directamente para o distrito rústico de Meluco. Sete meses depois já era elegível junto do Conselho Consultivo Distrital e beneficiou de 150 mil meticais. Imediatamente a seguir voltou para Maputo, alegando ir passar férias. Ainda não regressou passam já quatro meses. Desconfia-se que “abriu” de vez. Vinha pegar o “taco” em Meluco.

Que o anterior chefe distrital da Polícia de Investigação Criminal (PIC) de nome Assane, beneficiou de um montante de 50 mil meticais, depois do que foi transferido para Mecúfi, onde se pensa irá aplicá-lo. Tal como Assane, outro indivíduo de nome Gomes, que também trabalhava em Meluco, agora está em Montepuez, onde comprou um “mini-bus” com que está a fazer dinheiro para si, beneficiando não a população de Meluco.

Que Abdul Salimo, funcionário da administração do distrito, recebeu o dinheiro do fundo de investimento das iniciativas locais e foi aplicá-lo em Awasse, localidade pertencente ao distrito de Mocímboa da Praia, sua terra natal. Que, finalmente, o anterior secretário permanente, Jaime Raimundo, beneficiou do fundo e logo foi transferido para Ancuabe. Levou consigo a “mola”!

Em todos estes casos fica difícil saber como serão justificados os valores levantados, mas é fácil saber que eles o foram ao gosto de quem montou esta engenhosa estratégia. Não se chama a isso, desorganização? Merece outro nome?

O administrador?! Sereno e impávido corre a dizer que está com a consciência limpa. Que correm processos. O disciplinar, entretanto, tem como instrutor um beneficiário destas falcatruas, o director distrital da Saúde, que igualmente faz parte do grupo dos funcionários públicos confiados pelo Conselho Consultivo Distrital para produzir comida, gerar emprego e rendimento.

Para dar razão às suspeitas populares, há oito meses que o processo disciplinar não é concluído, nem o instrutor é punido pelo incumprimento dos prazos processuais, conforme mandam as normas e demais regulamentos. É, por outro lado, sintomático, que a Frelimo tenha entrado neste caso, denunciando os desvios e ajudando, inclusive, por via do seu comité de verificação, os prejudicados.

Seja o que seja, tendo em conta os objectivos do dinheiro de investimento às iniciativas locais, estamos perante uma orgia que não parece ter sido planificada por curiosos. Por isso, tem lugar a pergunta: o que é isto?

Fonte: Jornal Notícias

3 comentários:

Unknown disse...

Um artigo Interessante. Este e' o modus vivendi da Frelimo. Gosto a forma 'liberal' e cheio de pimenta como o Pedro Nacuo retrata os assunto. Digo liberal pk ele faz esforco de fugir as premissas da Corte republicana. Recortei-o para o meu blogue. Bom sabado! Temos que falar na proxima semana. Pode ser ao longo da semana.

Reflectindo disse...

Para Pedro Nacuo os factos são importantes.
Dede, é só dares-me o sinal. Aliás hoje escrevo-te 1 e-mail.

Ximbitane disse...

Não sei porque insistem em dizer que esse valor é para o beneficio dos distritos.

Chamem os bois pelos nomes: o dinheiro é para a gentinha da nomemklatura!