quinta-feira, abril 05, 2007

Em memória da Mãe

CELINA MUCHANGA SIMANGO

Mártir da Indepência Nacional e da Liberdade em Moçambique, Símbolo de todas as outras Mulheres Moçambicanas Mártires anónimas que perderam a vida durante e após o processo de Luta de Libertação Nacional para a edificação do Estado de Direito.

“ A necessidade mais premanente de um ser Humano ‘e tornar-se ser Humano”

A historia procura especificamente ver as transformações pelas quais passaram as sociedades humanas. As transformações são a essência da historia; e quem olhar para trás na história da sua própria vida compreendera isso facilmente. Nos mudamos constantemente e isso é valido para o indivíduo e também para a sociedade.
Não se passa pela vida sem deixar marcas. Um objecto, uma obra, uma carta, uma hipótese formulada. “Todo e qualquer vestígio do passado, de qualquer natureza” define o documento histórico.
Quantas vezes, porém, não foi tentada a falsificação de documentos históricos? Heróis fictícios, heroínas por conveniências, peças com atribuições alteradas de origem, tempo e uso?!... Informacoes sem fontes!...
A historia deve ser escrita como ela se passou na realidade, senão, corremos o risco de passar falsidades as gerações vindoras.
Quem foi a Mama Celina Simango? Muito difícil para mim escrever ou investigar algo sobre esta ilustre Senhora dotada de uma coragem incomparável até aos dias de hoje. A sua herocidade e coragem num momento conturbado da nossa história que custou a sua vida e a de muitas outras mulheres e homens que, já nessa altura, tinham a visão de um Moçambique de hoje, livre da ditadura após o facismo Português, ainda está por escrever.
Nos meus “vai e vens” a procura de informação sobre esta grande nacionalista notei que existe ainda muita verdade para ser contada, como também existem pessoas que viveram esses tempos e que não o fazem por medo! Medo de que? Infelizmente de serem mortos ou preteridos no banquete do bem estar reservado a alguns nos dias de hoje.
Não pretendo aqui e agora levantar essas questões, mas uma coisa é certa: há ainda muito para contar. É que aos que estão no banquete de hoje interessa-lhes escamotear á historia para perpectuar o seu bem estar. É como me dizia um amigo a respeito de um discurso que ouviu numa cerimónia literária recente: “até a idade das fontes históricas passou a ser o cavalo de batalha para a negação de factos vividos neste país!”. Afinal, – lamentava-se o dito amigo – “se a idade das fontes historicas é fundamental para não ferir susceptibilidades nos protagonistas da história recente de um povo, com que bases os historiadores moçambicanos escreveram a história oficial que vilipendea outros neste Moçambique?”.
Este reparo é interessante por partir de uma pessoa mediatizada pela sua frontalidade. E não interessa dizer quem é. O que interessa é que neste mês de Abril me veio à cabeça um nome: Celina Simango.
Segundo reza a história, a Clã Muchanga veio de muito longe, enfrentando várias guerras, vitorias e derrotas, até atingir o centro de Moçambique.
Da tribo guerreira dos Muchangas nasce a mama Celina Muchanga a 4 de Maio 1938 em Matire-Buzi, ‘e a segunda na família.
Foi aprimeira geracao das meninas a estudar na antiga Rhodesia, na Missao Monte Silinda, depois de ter concluído a quarta classe na cidade da Beira.
Esta missão protestante, gerou ideias Nacionalistas para a libertacao do Zimbabwe, e ‘e la onde conheceu Uria Simango, também estudante na altura.
Formou-se como Professora, passou a sua mocidade na Beira, Mutare e Salisburia (hoje Harare e capital do Zimbabwe.
Na Beira, antes de contrair o matrimónio pertenceu aos núcleos de contestacao ao regime colonial, tendo promovido a educacao das raparigas.
Mais tarde, torna-se esposa do Reverendo Uria Simango, Vice Presidente da FRELIMO, um dos mártires da revolução Moçambicana e do Nacionalismo Africano.
Faço a mesma pergunta como muitos outros o fizeram e que muitos mais outros o farão: que crime cometeu a mãe Celina Simango?
Mulher com ideais, mãe, esposa, guerrilheira até com outros bons atributos que não conchecemos, e que não nos deixam conhecer, foi vítima da luta de libertacao nacional.
Segundo testemunhas do seu tempo, a mama Celina Simango foi a Presidente do LIFEMO (Liga Femenina de Moçambique), precursora da hoje conhecida OMM (Organização da Mulher Moçambicana). Á pergunta que qualquer um faria é: Quantos membros dessa agremiação social estão a par desse dado histórico? Quantos dos nossos filhos nos dias que correm sabem disso? E se são poucos, como certamente o leitor imaginará, de quem é a culpa?
Discursando no preiodo das comunicacoes antes da ordem do dia no Parlamento, numa das celebrações do 7 de Abril na II legislatura multipartidária V para Assembleia da República, a deputada Margarida Talapa, reconhecia que a origem da OMM, criada a 16 de Março de 1973, partia da LIFEMO. E as perguntas renascem: até onde a primeira secretária geral da OMM, a senhora Deolinda Simango (de apelido Guezimane por casamento), ilucidou aos demais membros daquela organização sobre a história daquela organização? Terá ela algum dia ligado á LIFEMO à sua fundadora, Celina Simango? pois Margarida Talapa, “esqueceu-se” de mencionar também o nome da presidente Celina Simango na sua intrevencao. Não me causaria surpresa se este pequeno artigo criasse surpresa nos actuais dirigentes e membros da OMM de hoje.
Creio, sem duvida alguma, que um dia a História reconhecera o seu nome como uma das pioneiras na primeira organização politica feminina na luta anti-colonial em Moçambique e em Africa. Também, quero acreditar que haverá muitas outras Celinas, mártires em toda a África, ignoradas por conveniências políticas.
Segundo dados apurados, em 4 de Março de 1968, é extinta a LIFEMO e criado o D.E.F. (Destacamento Feminino da Frelimo) do qual, mais tarde Josina Muthemba Machel viria a participar como dirigente (?!...), vindo a falecer em 7 de Abril de 1971, em Dar-es-Salaam no Hospital Chinês de Kurassine.
O mais sentimental da passagem desta parte da nossa história, foi a coragem da mama Celina Simango ter acompanhado o seu esposo,cumprindo fielmente a jura celebrada no casamento cristão:
“Ate que a morte nos separe” juntamente com outros mártires a um destino que até hoje os Moçambicanos desconhecem oficialmente. Uma accao perpetrada pela Frelimo, anti defensor de um Estado pluralistas apos a queda do regime colonial Português em Mocambique.

No dia das Mulheres Moçambicanas, resgato a memória da mama Celina Simango, mãe humilhada, torturada e vilipendiada somente por não renegar o seu marido, Reverendo Uria Simango, então Presidente Interino da FRELIMO após a morte de Mondlane em 3 Fevereiro de 1969.
Faço minhas, as palavras do único sobrevivente do grupo de Nachingweia, meu amigo João Craveirinha, que tive a grande oportunidade de conhecer:
“Na figura dessa MULHER, Esposa, Mãe, Celina, se resgatam todas Mulheres Moçambicanas ou Mocambicanizadas que foram caluniadas, presas e enviadas a fatídicos campos da morte por Moçambique fora e em Niassa, nas diversas operações produção desde 1975. Mulheres violentadas na condição humana, e, outras na fuga, devoradas por leões ou mortas por metrelhadoras kalashnikovs”.
Exigimos a reposição da verdade da nossa Historia na condição de mulher que foi Celina Mulhanga Simango.

Dedico este pequeno artigo aos seus filhos, Lutero e Davis Simango, esposas e netos, como também as futuras geracoes.

Ps. Em muitas partes do Mundo onde existiu o totalitarismo politico, deixou-se vestígios, sequelas e mas recordacoes que são difíceis de se esquecer enquanto continuarmos vivos neste Mundo.
Moçambique, não foge desta regra.
Passados 32 anos apos o Pais ascender a Independência, existem muitos Mocambicanos, conhecidos e desconhecidos, que transportam dentro de si, as consequências das amarguras e sofrimento do então regime monopartidario stalinista.
Uma verdadeira reconciliacao, requer reconhecimento dos erros cometidos contra os direitos cívicos, políticos, e a vida.
Fazendo isto, permitira ao povo reencontrar com a verdadeira historia.
Papa João Paulo II foi um exemplo no Mundo ao pedir perdão dos erros cometidos pela Igreja Católica.
Perdoar não ‘e esquecer!
Mas perdoar ‘e a melhor forma de estar da espécie humana para o reencontro das famílias e convívio entre os Homens no Mundo.

Linette Olofsson
7 Abril 2007

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