terça-feira, julho 16, 2013

Ricos como a cerveja tirada à pressão num instante mas a maior parte é só espuma - Mia Couto

Lisboa - Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro» dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele. A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos “ricos”. Aquilo que têm, não detêm. Pior, aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados.


Necessitariam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por os lançar a eles próprios na cadeia. Necessitariam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.

O maior sonho dos nossos novos-ricos é, afinal, muito pequenito: um carro de luxo, umas efémeras cintilâncias. Mas a luxuosa viatura não pode sonhar muito, sacudida pelos buracos das avenidas.

O Mercedes e o BMW não podem fazer inteiro uso dos seus brilhos, ocupados que estão em se esquivar entre chapas muito convexos e estradas muito côncavas. A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza Uma riqueza que servisse a cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento da cidade e da sociedade.

As casas de luxo dos nossos falsos ricos são menos para serem habitadas do que para serem vistas. Fizeram-se para os olhos de quem passa. Mas ao exibirem-se, assim, cheias de folhos e chibantices, acabam atraindo alheias cobiças. O fausto das residências chama grades, vedações electrificadas e guardas privados. Mas por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam o receio das invejas e dos feitiços que essas invejas convocam.

Coitados dos novos ricos. São como a cerveja tirada à pressão. São feitos num instante mas a maior parte é só espuma. O que resta de verdadeiro é mais o copo que o conteúdo. Podiam criar gado ou vegetais. Mas não. Em vez disso, os nossos endinheirados feitos sob pressão criam amantes.

Mas as amantes (e/ou os amantes) têm um grave inconveniente: necessitam ser sustentados com dispendiosos mimos. O maior inconveniente é ainda a ausência de garantia do produto. A amante de um pode ser, amanhã, amante de outro. O coração do criador de amantes não tem sossego: quem traiu sabe que pode ser traído.

Os nossos endinheirados-às-pressas não se sentem bem na sua própria pele. Sonham em ser americanos, sul-africanos. Aspiram ser outros, distantes da sua origem, da sua condição. E lá estão eles imitando os outros, assimilando os tiques dos verdadeiros ricos de lugares verdadeiramente ricos.

Mas os nossos candidatos a homens de negócios não são capazes de resolver o mais simples dos dilemas: podem comprar aparências, mas não podem comprar o respeito e o afecto dos outros. Esses outros que os vêem passear-se nos mal-explicados luxos. Esses outros que reconhecem neles uma tradução de uma mentira. A nossa elite endinheirada não é uma elite: é uma falsificação, uma imitação apressada.

A luta de libertação nacional guiou-se por um princípio moral: não se pretendia substituir uma elite exploradora por outra, mesmo sendo de uma outra raça. Não se queria uma simples mudança de turno nos opressores. Estamos hoje no limiar de uma decisão: quem faremos jogar no combate pelo desenvolvimento? Serão estes que nos vão representar nesse relvado chamado “a luta pelo progresso”? Os nossos novos ricos (que nem sabem explicar a proveniência dos seus dinheiros) já se tomam a si mesmos como suplentes, ansiosos pelo seu turno na pilhagem do país.

São nacionais mas só na aparência. Porque estão prontos a serem moleques de outros, estrangeiros. Desde que lhes agitem com suficientes atractivos irão vendendo o pouco que nos resta. Alguns dos nossos endinheirados não se afastam muito dos miúdos que pedem para guardar carros.

Os novos candidatos a poderosos pedem para ficar a guardar o país. A comunidade doadora pode irás compras ou almoçar à vontade que eles ficam a tomar conta da nação. Os nossos ricos dão uma imagem infantil de quem somos. Parecem criancas que entraram numa loja de rebuçados. Derretem-se perante o fascínio de uns bens de ostentação.

Servem-se do erário público como se fosse a sua panela pessoal. Envergonha-nos a sua arrogância, a sua falta de cultura, o seu desprezo pelo povo, a sua atitude elitista para com a pobreza. Como eu sonhava que Moçambique tivesse ricos de riqueza verdadeira e de proveniência limpa! Ricos que gostassem do seu povo e defendessem o seu país. Ricos que criassem riqueza. Que criassem emprego e desenvolvessem a economia. Que respeitassem as regras do jogo. Numa palavra, ricos que nos enriquecessem. Os índios norte-americanos que sobreviveram ao massacre da colonização operaram uma espécie de suicídio póstumo: entregaram-se à bebida até dissolverem a dignidade dos seus antepassados. No nosso caso, o dinheiro pode ser essa fatal bebida.

Uma parte da nossa elite está pronta para realizar esse suicídio histórico. Que se matem sozinhos. Não nos arrastem a nós e ao país inteiro nesse afundamento.


PUBLICADO AOS 20 JUNHO 2013

In Dialogo sobre Mocambique,  16.07.2013

9 comentários:

Anónimo disse...

E pena que nos os novos ricos sofremos invenja dos frustados e pobres .sera mal ser rico ?

Afro-NewEra disse...

Porque vocês novos ricos são exactamente o que o Mia descreveu numa das linhas acima. A vossa MEDIOCRIDADE é revelada pela vossa INFATILIDADE, daí o vosso desejo bem alojado lá no vosso SUBCOINSCIENTE de serem INVEJADOS em vez de serem ADMIRADOS e ou como REFERÊNCIAS aos olhos da sociedade...

Anónimo disse...

Oh , se o Sr deseja me invejar, entao primeiro inveje o meu trabalho arduo e industriosidade e nao somente os frutos disso

Anónimo disse...

Oh , se o Sr deseja me invejar, entao primeiro inveje o meu trabalho arduo e industriosidade e nao somente os frutos disso

Anónimo disse...

Oh , se o Sr deseja me invejar, entao primeiro inveje o meu trabalho arduo e industriosidade e nao somente os frutos disso

Anónimo disse...

Voces novos ricos dormem paupermos e acordam ricos quando sao questionados dizem que e inveja. Ladroes dos recursos publicos e traficantes d droga, um dia serao penalizados, idiotas, asasinos do povo camafulados de empreendedores

Anónimo disse...

Penso que esse novo rico tem razao a inveja e uma doenca que mata a industriosidade. Em vez de lamentar, Deveriamos arregassar as mangas e comecar a trabalhar. Homens, cada um de nos tem 2 maos e maos a obra. Recordo me na universidade quando todos ficavam satisfeitos se tivessem tido 2 e todo o mundo tivesse tido 2. mas quando aparecia um 4 ou 5 todos refilavam e resmungavam cheios de inveja. Irmaos e tempo de trabalhar e nao de pedir esmola. QUEM VAI SUSTENTAR AS VOSSAS FAMILIAS? O Governo???um terceiro????? nao! acordem e maos a obra deixem de tagarelices. Novos ricos, pobres etc isso nao interessa que cada um seja o Ferreiro do seu destino. Avante e forca Irmaos

Anónimo disse...

Vocês novos ricos trabalham? Onde é que vocês trabalham? Tanto quanto sabemos vocês são contrabandistas, vendedores de drogas, ou a receberem comissões pela venda de bens do país como é Cabora Bassa, etc.

Anónimo disse...

Mentalidade de pobre. E de que o rico e sempre ladrao, desonesto, mafioso. Uma coisa e certa pobresa e uma doenca mental, so se e pobre se a mente e de pobre. Voces tambem podem acabar com essa pobreza mental e fazer algo por vos proprios, e algo de bom