sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Frelimo distancia-se das declarações de Marcelino dos Santos

A Frelimo, através do seu secretário-geral, Filipe Paúnde, distanciou-se, terça-feira, das declarações do antigo vice-presidente deste partido, Marcelino dos Santos, segundo as quais o capitalismo e o comércio privado podem atentar contra a unidade nacional.

“Se nós não tivéssemos percebido isto (o perigo do capitalismo e comércio privado), teríamo-nos dispersado, cada um para o seu canto. Logo que surgiram as primeiras zonas semi-libertadas, proibimos o comércio privado e criámos lojas do povo, que serviam apenas o interesse da população”, argumentou Marcelino dos Santos.

“Aquelas são declarações pessoais do camarada Marcelino dos Santos e não reflectem o posicionamento do partido”, disse Filipe Paúnde, citado pelo diário “O Pais”, adiantando que a Frelimo é um partido coerente nas suas decisões e guia-se pelos seus estatutos e pelo seu programa.

Confrontado com o facto de Marcelino dos Santos não ser um “militante qualquer” no partido, por ser um dos fundadores da Frelimo, vice-presidente deste partido, e actualmente membro da Comissão Política e do Comité Central, maiores órgãos desta organização política, Paúnde afirmou que este facto não faz com que as declarações sejam vinculativas.

“Não importa se é ou não um militante qualquer ou um dos fundadores do partido, o facto é que não obedeceu aos comandos para aquilo que disse, isto porque o nosso partido é democrático. Por exemplo, quando o partido quis avançar com a revisão da Constituição, deu-se orientações para a chefe da bancada divulgar isso e assumimos”, disse.

“Nós temos porta-voz do partido e órgãos com declarações vinculativas e não um militante”, acrescentou.

Por causa desta “grandeza” de Marcelino dos Santos no partido, o Paúnde diz estar indignado por este nunca se ter expressado contra o capitalismo e o comércio privado.

“É isto que me deixa admirado. Há pouco tempo, tivemos a V Sessão do Comité Central, e o camarada Marcelino não disse nada daquilo e aprovou, e bem, as directrizes do partido”, referiu.

Para justificar este posicionamento a Frelimo, na voz do seu secretário-geral, diz que, para além de promover o comércio privado, tem nos privados os maiores parceiros para a prossecução dos objectivos do partido na sua governação.

“Nós estimulámos o sector privado, inclusive temos a Confederação das Associações Económicas (CTA), a Fematro, entre outras associações económicas, como maiores parceiros do Governo da Frelimo” disse Paúnde, acrescentando que “nós estamos numa economia de mercado e, por isso, precisámos do sector privado”.

O secretário-geral da Frelimo explicou ainda que, pela dinâmica da economia nacional e transnacional, não há espaço para o proteccionismo e conservadorismo económico.

“Hoje, estamos no século XXI e não podemos continuar a pensar como se estivéssemos nos anos 70. Não faz sentido! A sociedade moçambicana não é uma ilha, sofre efeitos internacionais também”, defendeu.

Filipe Paúnde defendeu que a inclusão do sector privado nas prioridades de governação, não é coisa nova, trata-se da continuação dos programas do primeiro presidente de Moçambique independente, Samora Machel, aquando do Programa de Reabilitação Económica (PRE).

“Os ideais de Samora continuam a ser seguidos. Tal como definiu o plano de eliminação da pobreza em 10 anos, hoje estamos engajados na luta contra a pobreza e privilegiamos o sector privado e estatal”, finalizou.

Fonte: Rádio Mocambique - 09.02.2011

6 comentários:

JOSÉ disse...

Paúnde não teve coragem para se distanciar das declarações de Marcelino sobre Uria Simango e outros "reacionários".

Reflectindo disse...

É interessante no que a Frelimo se distancia e quando se distância, isto embora pelo texto do país eu não tenha compreendido sobre o que Marcelino dos Santos quis dizer em relação o capitalismo e comércio. Referia ele aos membros da Frelimo (partido da esquerda/socialista) que não deviam ser capitalistas ou praticar o comércio ou era para todos os moçambicanos? Marcelino dos Santos se insurgia contra a Economia de Mercado ou contra governantes empresários (para evitar conflitos de interesse)?

Alguma coisa não me parece certa ou mesmo clara. Não me parece que os jornalistas tenham procurado aprofundar a questão tanto de Marcelino dos Santos como de Filipe Paúnde. Mas a lembrar fica: a Economia de Mercado foi introduzida quando Marcelino dos Santos estava na política activa - era Presidente da Assembleia Popular. Também, mesmo em Economias de Mercado, cada partido político tem o seu perfil (esquerda ou socialista, centrista, liberal, conservadora, verde, etc)...

Eu seria grato se alguém me ajudasse a entender do que Marcelino dos Santos e Filipe Paúnde estão a dizer.

V. Dias disse...

Ainda vao se morder.

Zicomo

Anónimo disse...

Paunde nao entendeu o Marcelino. primeiro ele fala do periodo imediatamente pos independencia. Nessa altura, de facto isso aconteceu, e o presidente samora vincou essa politica na sua governacao. há quem diga que ele morreu pela politica na altura. os camaradas queriam ser empresarios e ele nao deixava. A enveredar-se pelo capitalismo em 75 claro que o povo se sentiria enganado. o gradualismo que se empreendeu valeu. lembrem-se o deixe andar e agora o corre corre 4x4.

Anónimo disse...

Se essas lojas do povo que criaram após a independência eram assim tão boas, porque o Senhor Marcelino não as frequentava e fazia lá o seu rancho? Para os membros do partido, haviam outras lojas e só pessoas com cartão de membro da Frelimo tinha acesso a elas.
Maria Helena

V. Dias disse...

O velho Marcelino já percebeu que as coisas estão a cheira mal. O velho Marcelino não é burro. Ele, contra todos os ódios que lhe apontam, é coerente. Eu gosto de gente assim: coerente. Sabe o que diz e não se engana.

Sabe que os 'chifanhanas' dos Macuácuas, etc, serão os primeiros a fugir do país quando as "coisas" voltarem à escalar Maputo e Moçambique em geral, porquanto eles já estão na 6 idade. Ele sabe disso.

O Paúnde anda desorientado. É analfabeto. Sabe política e mais nada. Deixei-o.

UMA COISA, PORÉM, É CERTA: O PROXIMO CONGRESSO DA FRELIMO VAI TER MORTE. QUEM QUERERÁ GOVERNAR O PAÍS?

Zicomo