domingo, maio 07, 2017

O Presidente Nyusi declara criminosas as pessoas que discordam com ele e o Dhlakama

Roberto tibana (6/Maio/2017)

Durante as suas visita a Cabo Delgado o Presidente Nyusi fez duas declarações extremamente inapropriadas e perigosas vindas de um chefe de Estado em Moçambique. As declarações foram transmitidas pelo serviço informativo da Stv na noite de Sábado (6 de Maio de 2017). O Presidente Nyusi disse aos camponeses de Cabo Delgado que as pessoas que discordam com a maneira como ele e o Sr. Afonso Dhlakama estão a conduzir as discussões para o fim da instabilidade política e da violência armada em Moçambique são: 1) agitadores para que haja violência em Moçambique, e 2) criminosos.
Tal e qual. Está lá para quem quiser ir ouvir outra vez!
Isto é extremamente grave vindo de um chefe de Estado de um país que se diz ser de direito democrático e onde a liberdade de expressão e o debate de ideias são encorajados. Nós que discordamos sentimo-nos na mira ou de autoridades para nos prenderem por sermos criminosos assim catalogados, ou de execuções extrajudiciais na medida em que é óbvio que tal acusação não caberia em nenhum sistema judicial que se prese de um país de direito.
E assim mais uma vez chegamos ao ponto mais baixo de fazer política em Moçambique, quando cães de guerra são atirados contra aqueles que discordam. Eu pessoalmente, sendo um daqueles que discordam com o Presidente Nyusi e o Senhor Dhlakama no que estão a fazer com o país, sinto-me diretamente lesado e verdadeiramente ameaçado por este ato inflamatório do Presidente da República.
Discordar nunca deve ser visto como crime. Discordar situa-se ao nível do debate de ideias. Quando o Presidente proclama que quem discorda com ele é um criminoso, isso só revela que no íntimo deste homem reside uma alma verdadeiramente antidemocrática. É a mesma atitude de sempre. Vai aos camponeses acender as chamas do ódio e da violência. Agora que conseguiu meter a RENAMO no seu bolso, as armas viram-se contra os outros “criminosos”, os “criminosos das ideias”.
É este exemplo que dá o homem que duas semanas atrás disse aos militantes do seu Partido na Matola que (já) não há inimigos em Moçambique, que os moçambicanos devem conviver pacificamente, deixar de se perseguir uns aos outros. Tudo falso como no discurso de tomada de posse que enganou muitos.
Mas temos que perceber isto em pelo menos três dimensões. Primeiro, o leopardo nunca mudou de pele! O Presidente Nyusi está simplesmente a revelar aquilo que é e sempre foi. Não é nem democrata nem tem a possibilidade de o ser na essência. Se nos pudesse calar a todos de uma vez nos cavala. Estamos a atrapalhar demais. Há negócios que foram mal feitos e convinha que tudo fosse enterrado. E há negócios também mal feitos ainda por andar e todos os escolhos devem ser removidos para que isso aconteça. Por isso todas estas exigências de transparência, inclusão e democracia estão a atrapalhar, e se calhar até a irritar. Sobretudo quando vêm de pessoas que não podem ser cooptadas pelo sistema.
A segunda dimensão na qual enquadrar esta diatribe do Presindete Nyusi contra os que pensam diferente dele, é relacionada com o relatório sobre as dívidas ocultas que, por muito que seja adiado um dia será fechado, e algo dele terá que vir cá fora. E desse relatório (ou do resumo dele com que nos irão torturar mentalmente) o Presidente Nyusi não sairá nada limpo. Na altura ele era o Ministro da defesa, e alguns dos dinheiros que foram secreta e ilegalmente procurados pelo governo de quele era parte foi para comprar armas. Mais ainda, ele já era presidente quando o seu governo andou a dizer que não existiam dívidas secretas e ilegais, governo esse que depois foi obrigado a reconhecer que essas dívidas existem.
Em outros sistemas democráticos ele já não estaria a operar como Presidente da República neste momento. Ele teve alguma responsabilidade (e não pequena) nesse processo que hoje traz grande sofrimento ao povo moçambicano e crious um desprestígio imerecido do país perante a comunidade internacional. Pode ser que isso não venha a ter consequências materiais para ele como Presidente da República neste tipo de regime em que vivemos, em que a constituição, leis e tribunais são letra morta. Mas tudo o que ele possa fazer para desviar a atenção da sociedade e do mundo sobre esse relatório vai ser feito. E por isso também vale sair de Maputo para ir inflamar as chamas da violência no seio dos camponeses. Até acontecimentos muitos dramáticos ou espectaculares nesta semana derrareira podem ser engendrados, tudo para criar fumaça sobre os resultados das investigações sobre as dívidas secretas e ilegais, que se espera venhma a ser revelados nao mais tarde que o dia 12 de maio (proximo fim de semana).
A terceira razão, e também não menos importante, é o pleito eleitoral que se avizinha. O Presidente Nyusi e os que na FRELIMO estão a trabalhar com ele nestes processos, sabem que o adversário principal a derrota nas próximas eleições não é a RENAMO. Quando chegar o momento das eleições a RENAMO estará completamente neutralizada e ineficaz como adversário de valor para FRELIMO. O Presidente Nyusi sabe que o seu verdadeiro adversário (e da FRELIMO) nas próximas eleições são esses mais de 50% de Moçambicanos que não votarem nele (e na FRELIMO) e no Sr. Dhlakama (e na RENAMO) em 2014. São esses que irão as urnas em 2018 e 2019 juntarem-se a outros que votaram nele mas já se desiludiram com ele e com a FRELIMO, mas que também não irão votar na RENAMO pelas mesmas razões que não o fizeram da outra vez e por mais razões que se acrescentaram depois disso. São esses que discordam do que ele e o Sr. Dhlakama andam a fazer, que é a adiar a solução de fundo dos problemas do país, que começam com os defeitos da Constituição da República, do sistema eleitoral, do modelo de governação administrativa e económica, da organização e gestão das forças de defesa e segurança, emperrados por uma corrupção generalizada e quase institucionalizada pelo governo da FRELIMO.
Nos mesmos comícios com camponeses o presidente da República disse que as pessoas só criticam e não dizem o que querem. Pode ser que não sejamos daqueles pessoas que o Presidente gosta de ouvir porque não lhe mentem. Prefere viver e falar com os que lhe mentem e bajulam. Agora por favor oiça mais uma vez, Senhor Presidente: queremos inclusão no debate dos assuntos nacionais. Não queremos a ditadura, seja ela de que tipo fôr (de voto maioritário geri-comandado), ou de conluio entre duas organizações que usam a força das armas para se imporem contra a vontade do resto da sociedade. E esperamos que os diplomatas que estão consigo nesse exercício também tomem nota e vos ajudem (a si e ao Sr. Dhlakama) a entenderem isto, porque os governos passam, mas os povos ficam e têm memória.
Pelo direoto de ser independnte!
Em nome da cidadania activa!
Roberto Tibana

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