Rafael Marques vai divulgar através da Internet o livro do professor universitário Domingos da Cruz, que esteve na origem das detenções dos 15 ativistas angolanos em junho em Luanda.
“Eu conheço muito bem estes jovens, tenho boas relações com a maioria deles. Conheço bem o Domingos da Cruz e sabendo que havia este manuscrito pedi-lhe para ter a possibilidade de explicar à sociedade e de publicar o texto como prova de que se esses jovens cometerem algum crime foi o crime de estarem a discutir ideias não-violentas à sua maneira”, disse à Lusa Rafael Marques.
O livro “Ferramentas para destruir o ditador e evitar nova ditadura — Filosofia Política da Libertação para Angola” (183 páginas), do académico angolano Domingos da Cruz, está na base das detenções dos jovens ativistas, entre os quais o luso-angolano Luaty Beirão, que cumpriu 36 dias de greve de fome em protesto pela manutenção das detenções além do prazo previsto na lei em Angola.
De acordo com o despacho de pronúncia do Tribunal de Luanda, de 15 de outubro, os seminários de oito semanas na capital angolana tinham como objetivo “pesquisas, debates e discussões temáticas no manual ou brochura do professor universitário Domingos da Cruz intitulado ‘Ferramentas para destruir o ditador e evitar nova ditadura — Filosofia Política da Libertação para Angola'”.
O livro de Domingos da Cruz tem como base o pensamento político de autores que defendem ações não-violentas contra os Estados totalitários, nomeadamente as ideias do filósofo norte-americano, Gene Sharp.
“O livro só pode ser criticado ao nível da academia. Não é um trabalho de políticos. Só os académicos podem analisar o manual e aferir se está bem estruturado, se está bem organizado, mas essa é uma questão menor porque era um clube de leitura restrito que não passava dos 50 elementos, contando com os que foram passando nos vários seminários. Foram presos 15 mas colocando a hipótese que os grupos se renovavam ao longo de várias reuniões — não deviam chegar aos cinquenta”, explica Rafael Marques.
O jornalista e ativista angolano refere também que um dos 15 detidos, Benedito Jeremias, participou em apenas uma das reuniões organizadas por Domingos da Cruz.
“Se o Benedito sair dali ativista é um ativista criado pelo MPLA, pela injustiça. Não é um ativista inspirado pelo Luaty ou pelo Domingos da Cruz, mas pelo sofrimento que ele próprio passou por não ter feito nada. Por querer ir ouvir ideias. E o facto de não haver da parte do poder qualquer flexibilidade, tendo feito os interrogatórios, seria fácil perceberem que o Benedito não conhecia os outros, mas mesmo assim mantêm-no preso por uma questão de malvadez política”, conclui Rafael Marques.
Fonte: TIM – 29.10.2015
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