Cidade da Beira, capital da província de
Sofala, tem em sua liderança o edil do MDM, Daviz Simango, candidato às
presidenciais. Nesta que é a segunda maior cidade de Moçambique, a disputa
eleitoral promete ser acirrada.
Em Beira, foi quebrada, pela primeira vez,
a hegemonia política da Frente de Libertação de Moçambqiue (FRELIMO), depois da
histórica vitória do candidato da oposição Daviz Simango nas primeiras
autárquicas no país, que mais tarde, em 2009, fundaria o Movimento Democrático
de Moçambique (MDM). Desde
então a FRELIMO nunca mais conseguiu recuperar as rédeas da cidade.
Nas eleições gerais de 15 de outubro
próximo, a cidade da Beira será palco do combate político mais renhido na
história de Mocambique, uma luta intensa entre as três principais forças
concorrentes: o partido no poder, FRELIMO; o maior partido da oposição, a
Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO); e a terceira maior força política do
país, o MDM.
"Queremos personalidades com coragem e
coração para levar o país para a frente." Este é um dos temas que os
adeptos do MDM cantam, nestes dias, apelando assim ao voto no seu partido, nas
ruas da cidade da Beira, cidade com 500 mil habitantes, a segunda maior cidade
de Moçambique.
MDM sonhando alto
Depois das autárquicas do ano passado, os
adeptos do MDM, partido que nasceu aqui na Beira, vivem dias de grande
otimismo, pois não só venceram as câmaras da segunda maior cidade, como tambem
outras importantíssimas câmaras no país: Quelimane, Nampula e Gurué.
José Domingos Manuel, membro do Comité
Político Nacional do MDM diz que essas vitórias poderiam ter sido mesmo mais
folgadas.
"Podia ter vencido mais, se fosse um
país verdadeiramente democrático. Tivemos sinais vivos na cidade de Maputo,
Matola, Chimoio, Mucuba, fora de algumas cidades que serviram de exemplo da
nossa vitória," afirma.
Agora avizinham-se as gerais e sonha-se
mais alto ainda no seio do MDM.
"O Movimento Democrático de Moçambique
é o mais favorito. Experiência de governação temos e, da experiência própria de
capacidade de governar, o Daviz Simango é o próprio e capaz de dirigir este
país. Esperamos que o povo fará justiça, porque chega de 40 anos sem produção,
chega de 40 anos derrabando a população," considera José Domingos.
Campanha da FRELIMO
incomoda
Passeando pelo centro da cidade, deparamos
com vários cortejos sobretudo do MDM. Mas, em termos de cartazes, quem manda,
como um pouco por todo o país, é a FRELIMO, partido no poder central, desde a
indepedência do país em 1975.
São enormes os cartazes, os chamados outdoors, com o rosto do
candidato Filipe Nyusi estampado, ao lado do símbolo da FRELIMO, a maçaroca e o
tambor. Alguns dos cartazes chegam mesmo a cobrir edifícios de quatro ou cinco
andares.
António Fernando, taxista, 35 anos de
idade, faz questão de nos dar a sua opinião sobre a situação na sua cidade e no
seu país. Para ele, o que conta não são os cartazes, mas sim os conteúdos.
"Cartazes por todos os cantos.
Cartazes com tamanho de prédio por aí. O Nyusi não tem dinheiro, o partido não
tem dinheiro para fazer aquilo tudo. Estão a usar o dinheiro do Estado para
fazerem cartazes. Amanhã ou depois, não têm dinheiro para aumentar os salários,
não têm dinheiro para os combustíveis, para a saúde, porque estão a gastar o
dinheiro com cartazes. Mas os outros estão aí sem cartazes, a fazerem
campanhas," reclama.
"Pessoas já lá vão. Não precisa gastar
tanto com cartazes, o que as pessoas querem é a mensagem," conclui.
António Fernando reflete a opinião de muita
gente na cidade da Beira, gente que é conhecida, alguns dias famigerada, por
ter quebrado com o passado. As pessoas aqui querem a mudança e não a
continuidade prometida nos cartazes pelo candidato da FRELIMO.
"Com essa continuidade que vai ser
destes dos 40 anos que vinham a fazer, nem vale a pena. É de esquecer o voto do
povo. O povo já está atento, o povo já está despertado. Não é o povo de 80,
agora a visão das pessoas é outra," diz o taxista.
Vamos então, no táxi de António Fernando, à
sede da FRELIMO na cidade da Beira, onde somos recebido pelo representante
local. Também ele se mostra muito otimista. A vitória é certa, afirma o homem
da FRELIMO e recomenda irmos ao bairro popular da Manga, onde neste momento
andaria a caravana do partido no poder.
De fato, a caravana da FRELIMO está no
terreno. Carros grandes, cartazes, bonés, t-shirts e uma quantidade de alunos a
correram atrás da caravana.
Maturidade na Beira
A maior atração é esperada, no entanto, no
domingo, dia em que Daviz Simamgo do MDM encerrará a campanha, na sua cidade.
Os adeptos do MDM só esperam uma coisa: que Simango desperte mais curiosidade
que o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, que no seu comício arrastou milhares de
curiosos na cidade da Beira.
Quem deverá estar à frente dos destinos de
Moçambique? Na cidade da Beira, a questão está longe de estar decidida. Aqui
não há favas contadas. Os cidadãos da Beira adquiriram uma maturidade
democrática não muito comum noutras regiões de Moçambique.
O taxista António Fernando é, nesse
sentido, um típico beirense, sem papas na língua.
"É um país democrático? Tem que haver
eleições livres, justas e transparentes, porque o povo está livre de escolher
aquele que achar para ser o seu dirigente ou Presidente futuro," espera.
Fonte: Deutsche
Welle – 10.10.2014
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