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quarta-feira, janeiro 18, 2017

Dhlakama alerta que violações estão a diluir o peso da trégua em Moçambique

O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, alerta que as "provocações em violações da trégua" em Moçambique estão a diluir o peso do cessar-fogo de dois meses, iniciado a 03 de janeiro, e apela para um compromisso do Governo.
Numa avaliação do primeiro período da trégua, o líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) disse, em declarações por telefone à Lusa a partir da Gorongosa, que não houve registo de violações por confrontos militares, mas denunciou novos casos de raptos e assassínios de membros do seu partido, o que tem fragilizado o compromisso.
"Quero apelar para que haja colaboração de facto", afirmou o líder da oposição, referindo que já abordou o assunto com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, para que "comece a aprender e a corresponder também com aquilo que a Renamo e o Dhlakama estão a fazer".
Além de vários casos denunciados nos primeiros dias da trégua pelo seu partido, o líder da Renamo disse que, na semana passada, quatro desmobilizados do braço armado da oposição, que se deslocavam desarmados dos distritos de Ile e Lugela para Morrotone, província da Zambézia, foram raptados após terem desembarcado de um autocarro próximo de uma base das Forças de Defesa e Segurança e estão desaparecidos desde então.
Segundo Dhlakama, ainda em Morrotone, próximo da mesma posição das Forças de Defesa e Segurança, desapareceram outros habitantes locais.
Na Gorongosa, prosseguiu, nas zonas de Lourenço, Nhataca e Mucodza, a leste da vila-sede, na província de Sofala, algumas famílias e simpatizantes da Renamo estão desaparecidos, depois de terem sido intercetados quando se deslocavam para fazer compras de alimentos.
Já em Nhacafula, distrito de Tambara, província Manica, disse Dhlakama, na sexta-feira, um professor foi morto por militares das Forças Armadas, supostamente por ter ligações com a Renamo, e o corpo também está desaparecido.
"Isso está a diluir o peso da trégua", afirmou Afonso Dhlakama, avisando que o cessar-fogo "não foi feito apenas para facilitar que os membros da Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique, partido no poder] andem livremente, ou as ‘fademos' [referência a membros das Forças Armadas de Defesa de Moçambique] saiam de Maputo para Gorongosa e Nampula de carro, isso é para toda gente andar".
De acordo com Dhlakama, as alegadas violações à trégua têm ainda provocado mal-estar no seio da população e na ala militar do seu partido.
"Parece que o Dhlakama deu a liberdade de a Frelimo fazer e desfazer as populações. Membros, simpatizantes, comandos militares da Renamo, já não se estão a sentir bem, estão a criticar-me", referiu o líder do partido de oposição.
A trégua, destacou, permitiu que a governadora de Sofala, Helena Taipo, passasse a 300 metros do local onde vive, para fazer distribuição de alimentos a deslocados de guerra e de seca na Gorongosa.
Permitiu igualmente que um secretário da Frelimo na Zambézia e o comandante provincial da Polícia executassem trabalhos em Morrotone, nas zonas sob controlo da Renamo.
Também em Manica, assinalou ainda Dhlakama, o governador local, Alberto Mondlane, deslocou-se a Tambara, onde há recentes relatos de raptos e sequestros de membros da Renamo, e trabalhou e pernoitou naquele local.
"Até visitaram posições das ‘fademos' e os meus [combatente da Renamo] a ver tudo e a dizer que é provocação e eu disse que é paz, e ordenei para que ninguém disparasse, porque ia prender quem disparasse", relatou o líder da Renamo, insistindo na colaboração do executivo na manutenção da trégua.
Dhlakama dirigiu-se também aos "radicais da Frelimo", apelando para que "deem liberdade ao Presidente [Filipe] Nyusi, no esforço que ele está a tentar fazer para a paz" e na tentativa de criação de confiança.
O centro e norte de Moçambique estão a ser assolados há mais de um ano pela violência militar, na sequência da recusa da Renamo em aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, exigindo governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.
As partes voltaram ao diálogo em Maputo, na presença de mediadores internacionais, mas não foram conhecidos resultados.


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