Por Machado da Graça
Muitas pessoas afirmam não conseguirem
compreender a razão do permanente impasse no processo de diálogo entre o
Governo e a Renamo no Centro de Conferências Joaquim Chissano.
Ora a mim a razão parece-me bastante clara.
Trata-se de um jogo de poder em que nenhum dos lados quer ceder perante o
outro.
Por um lado temos o poder do partido Frelimo que
se manifesta através do seu controlo absoluto sobre a totalidade do Estado,
desde os orgãos do executivo aos do legislativo e do judicial.
Por outro lado temos o contra-poder da Renamo que
se manifesta através dos homens armados que mantém, em prontidão combativa, e
que podem causar uma muito séria desestabilização do país.
E nenhuma das partes parece com vontade de
desistir das suas vantagens.
Numa altura em que estavamos pertíssimo de
começar, de novo, aos tiros, o Governo assinou um memorando sobre a
despartidarização do Estado.Mas, diminuida a tensão, o partido Frelimo (ou quem
manda neste momento no partido Frelimo) deu ordens para fazer marcha atrás e
congelar esse documento, na medida em que ele punha em causa algum do poder que
mantém sobre o Estado.
Pelo seu lado a Renamo, enquanto o Estado
continuar capturado pelo partido Frelimo, não abdica de manter a sua força de
pressão militar/psicológica e não entrega a lista dos seus homens armados. Não
diz quem são nem sequer quantos são ou onde estão. Sem confiança no Governo,
não aceita integrar os seus homens nas forças armadas, com receio de que eles
sejam colocados em posições de nenhum poder militar real, passando a ser meros
ornamentos (eventualmente bem pagos) mas sem capacidade de contrariar as ordens
do partido Frelimo.
E assim, batendo duro contra duro, vão saindo
faiscas mas não vamos ter, nunca, uma paz definitiva e sustentável.
Só teremos paz com uma despartidarização efectiva
do aparelho de Estado. Quando os cidadãos acreditarem que as instituições estão
ali para servir igualmente a todos e não a uma pequena camada que se esconde
por trás do seu cartão vermelho.
Quando a Renamo confiar em que pode desarmar os
seus homens sem correr o risco de ser esmagada no dia seguinte pelas forças de defesa
e segurança ao serviço do partido Frelimo.
E isso, infelizmente, não parece estar para
breve...
Fonte: Savana - 17.07.2015
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