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sábado, janeiro 19, 2013

Chuva! Recuso-me a compreender…

Pensamento de Adelino Buque
Os danos causados pela chuva, na cidade de Maputo, são elevados, sendo contabilizadas mortes, destruições totais ou parciais de casas, inundações em residências, estradas e ruas destruídas, entre outros. Curiosamente, o presidente do Conselho Municipal da Cidade de Maputo, David Simango, veio, publicamente, pedir compreensão, alegadamente, porque ainda estamos no período da chuva.
Ora, senhor presidente, com todo respeito que tenho por si, recuso-me a aceitar o seu pedido; não quero compreender porque isto é consequência da falta de políticas municipais de urbanização; isto é falta de visão sobre o futuro da cidade; isto é pura falta de capacidade das pessoas de fazer uso das posturas municipais na persuasão dos munícipes para que não permaneçam em lugares potencialmente perigosos; isto é falta de punho dos dirigentes municipais. Pedir que eu compreenda isso é pedir-me demais, senhor presidente. Por isso, recuso-me a compreender!

Compreender que a Estrada Nacional Número 1 seja intransitável na zona do Zimpeto devido à erosão dos solos, arrastados por falta de drenagem das águas colectadas com a construção de infra-estruturas?
Onde está o plano de construção dessas infra-estruturas e qual seria o destino das águas colectadas em consequência da urbanização ou construção dessas infra-estruturas? Isto é assunto para compreender?
Compreender que mais de 1192 casas estejam inundadas? Estão inundadas porquê? Certamente porque não existem valas de drenagem nesses aglomerados habitacionais. Porquê isso?
Compreender que casas estejam total ou parcialmente devastadas por deslizamento dos solos. Acaso isso é alguma novidade?!
O que se fez no período seco para persuadir as pessoas a saírem desses lugares para locais seguros?
No caso de pessoas renitentes, que medidas o município tomou para evitar esta desgraça que é reportada pela comunicação social e confi rmada pelo presidente da edilidade de Maputo?
Houve transferências coercivas não reportadas?
Agora, com esta desgraça toda falar de compreensão é muita falta de respeito para com os munícipes, senhor presidente. O que se espera de si, perante tamanha desgraça, é vir a público e dizer: “Caros munícipes, obrigado pela confiança, mas não consegui, demito-me”. Salvo se houver melhor explicação para esta desgraça. Se existe, qual é?
Repare, caro presidente, não pode apresentar a teoria da construção desordenada. Explico porquê: existem infra-estruturas públicas que se encontram numa situação pior que a das casas. Para isto qual é a explicação? Fala-se de escolas que fecharam devido às enxurradas. Numa capital do país, fechar escolas devido às enxurradas?!
E as empresas, os serviços públicos e outros como ficam? Reconheço que aqui as responsabilidades não são exclusivamente do município de Maputo, apesar de acontecer neste território autárquico. Até há pouco tempo as escolas estavam sob tutela do Ministério da Educação, que tem um sector responsável pelas construções. Este sector que distribui gratuitamente livros escolares às escolas do 1.º grau do sector público e comunitário e se esquece que a mesma instituição licencia o sector privado a leccionar esses níveis, mas não os contempla com o livro escolar.
Depois diz que vender esse livro é crime. As crianças do ensino primário do sector privado onde irão adquirir o livro?
Mas voltemos às enxurradas na capital do país.
A comunicação social noticia que uma linha-férrea ficou suspensa por causa da erosão dos solos nas barbas da capital do país. Isto é aceitável?
Devemos compreender isto? Eu recuso-me, senhor presidente. Ao invés de pedir que os munícipes compreendam o sucedido, demita-se!

Fonte: CORREIO DA MANHÃ in Mocambique para todos – 18.01.2013

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