MARCO DO CORREIO
Por Machado da Graça
Olá Luís
Como vai essa saúde? Do meu lado tudo bem, felizmente.
Lembrei-me de te escrever porque, como sabes, dentro de poucos dias o partido FRELIMO vai iniciar as comemorações do seu 50º. aniversário. Só que eu fico na dúvida sobre quem é, de facto, o aniversariante.
Será aquele movimento de libertação, formado maioritariamente por jovens, que lutou para conquistar a independência do nosso país, mas também o fim da exploração do homem pelo homem?
Ou será o actual partido em que os próprios dirigentes são o exemplo acabado de capitalistas exploradores?
Será a FRELIMO de Mondlane e de Samora que, após o II Congresso, se afirmava já socialista e, no terceiro, adoptou abertamente o marxismoleninismo, ou será o actual partido em que aquele tipo de ideologia foi completamente abandonado para dar lugar ao mais desbragado enriquecimento de uns poucos à custa de todos os demais?
Quem irá soprar as velas já todos sabemos. Mas será que todos os que estavam lá, quando esses cinquenta anos começaram, se sentirão abrangidos pela festa? Tenho algumas dúvidas.
A sensação que tenho é que a FRELIMO é como um ser humano. Começa jovem e cheio de força, cheio de ideais e de alegria para os conquistar e depois, com o passar dos anos, vai decaindo, física e psicologicamente, perdendo os ideais, à medida que lhe caem os dentes podres, até se tornar um velho apenas preocupado em aumentar a sua barriga, já enorme, à custa de tudo aquilo a que consiga deitar a mão.
A memória, que o Alzeimer lhes desgasta, prega-lhes a partida de já nem sequer se recordarem de que foram jovens e idealistas. Eles próprios, não outros, de outras gerações.
Transformados agora naquilo que, há 50 anos, combatiam, que vão eles comemorar? O passado ou o presente?
Ou será que vão tentar comemorar as duas coisas, misturando alhos com bugalhos numa salada de duvidoso aspecto e ainda pior sabor.
A juventude estão a perdê-la a cada dia que passa. Foi a juventude que saiu à rua em 1 e 2 de Setembro passado, no Maputo. Foi, essencialmente, a juventude que correu com eles do município de Quelimane. E, se queremos saber o que pensa a juventude, é bom lermos a extensa entrevista de Eric Charas ao “Canal de Moçambique”, em que ele nos fala, com clareza, de como os jovens estão fartos de ser desgovernados por esta FRELIMO cinquentenária.
“Está na hora de nos libertarmos dos nossos libertadores”, é uma frase que ele repete várias vezes.
Enfim, veremos como a festa decorre.
Com a sensação, é óbvio, de que vamos ser todos nós a pagar o champanhe e as chamussas.
Um abraço para ti do
Machado da Graça
Fonte: CORREIO DA MANHÃ in Moçambique para todos – 27.01.2012
Nguiliche
ResponderEliminarTudo o que o povo pode aplaudir, serve. No tempo de Samora,era suficiente para algumas pessoas aplaudiam seus discursos bastando aplicar uma expressao de uso nao corrente. Hoje em dia algumas pessoas continuam a aplaudir o "gongorismo". Patos=Povo.