O doloroso suicídio de um jovem no desemprego conduziu à queda do homem que, com punho de ferro, dirigia a Tunísia há 23 anos. Mohamed Bouazizi é o mártir de uma revolução inédita no Norte de África.
Mohamed Bouazizi teria pouco mais de 20 anos e era um apaixonado pelas Ciências Informáticas (ao contrário do que foi inicialmente avançado, a imprensa francófona não garante que o jovem se tenha licenciado na área). Sonhava com uma carreira no mundo das novas tecnologias. Só não contava com a pena actualmente imposta a cerca de 60% dos diplomados tunisinos.
Num país onde o ditador Ben Ali e a sua família ainda controlam a economia após uma vaga pouco transparente de privatizações, o trabalho está reservado àqueles que têm sorte ou aos que gozam de relações privilegiadas com a diminuta e poderosa elite de Tunes. Na Tunísia, como em outros tantos países, não são as qualificações ou o mérito que determinam o sucesso. É antes o nome, o casamento ou a filiação partidária.
No desemprego, Bouazizi viu-se forçado a vender frutas e legumes nas ruas da sua cidade natal do centro-oeste, Sidi Bouzid, para alimentar a família. Mas não tinha a necessária licença de comércio, difícil de obter no labirinto da burocracia e corrupção tunisina. A 17 de Dezembro de 2010, a polícia confiscou-lhe a banca e a balança. Segundo testemunhos locais, terá sido agredido e humilhado pelas autoridades.
Nessa mesma sexta-feira, Bouazizi deslocou-se à autarquia de Sidi Bouzid para tentar regularizar a situação. Não conseguiu. Com o dinheiro que restava, comprou um litro de gasolina. Despejou o combustível sobre a cabeça e imolou-se pelo fogo.
Com ele, incendiou a revolta dos tunisinos. A notícia do radical protesto foi inicialmente censurada pela imprensa estatal, mas a história espalhou-se pelas redes sociais da Internet, como o Facebook, o Twitter e o YouTube. Milhares de jovens desempregados começaram a sair às ruas. Vários licenciados sem trabalho, como Houcine Néji, de 24 anos, seguiram o exemplo de Bouazizi e cometeram suicídio pelo fogo ou subindo a postes de alta tensão.
Apesar dos ferimentos graves, Bouazizi não morreu de imediato. Foi transferido para unidade de queimados do hospital de Ben Arous, nos arredores da capital tunisina Tunes. Quando o regime pensava ainda poder conter a vaga de contestação, o Presidente foi visitá-lo. Desejou-lhe as melhoras e prometeu prestar-lhe todo o auxílio possível.
Mas Ben Ali e Mohamed Bouazizi eram dois homens condenados que se olhavam mutuamente. O jovem de 23 anos morreu a 4 de Janeiro. Milhares compareceram no funeral, no dia seguinte. «Hoje choramos a tua morte, amanhã vamos fazer chorar quem te matou», era um dos slogans na cerimónia transformada em comício.
Não se sabe se Bouazizi se terá apercebido da revolta que despoletara. O que é certo é que não assistiu à sua conclusão. Ao fim de quase um mês de violentos protestos que vitimaram perto de uma centena de pessoas (pouco mais de 20, segundo o regime), o Presidente Ben Ali dissolveu sexta-feira o Parlamento e fugiu do país. Segundo as últimas informações, o ditador deposto encontra-se na Arábia Saudita. A Tunísia, pela primeira vez após séculos de colonialismo e décadas de autoritarismo, encontra-se entregue aos cidadãos.
Fonte: Sol - 15.01.2011
"Num país onde o ditador Ben Ali e a sua família ainda controlam a economia após uma vaga pouco transparente de privatizações, o trabalho está reservado àqueles que têm sorte ou aos que gozam de relações privilegiadas com a diminuta e poderosa elite de Tunes. Na Tunísia, como em outros tantos países, não são as qualificações ou o mérito que determinam o sucesso. É antes o nome, o casamento ou a filiação partidária."
ResponderEliminarOnde é que eu já vi um filme parecido?
Moçambique!!!
Eh verdade um filme identico em Mocambique mas com uma diferenciacao notavel. Em Mocambique a chamada classe intelectual eh totalmente diferente, nao usa a sua intelectualidade para combater o regime;a sociedade civil organizada em associacoes, tirando a Liga dos Direitos Humanos e mais umas ai isoladas sao do pro regime, quem tiver a duvida, eh verificar o perfil individual de todos que dirigem, orientam e organizam a chamada sociedade civil e vai ver que os lasos(lacos) partidarios sao umbicais; o nosso funcionario publico vive com medo. Mas acredito que um dia o povo dira basta, e este grito vira da Beira ou Pemba!
ResponderEliminarMohamed Bouazizi, fez o seu Jihad, e suicidou-se,
ResponderEliminarO Jihad nao 'e so "guerra santa" pela religiao, o jihad 'e tambem a luta pelo seus direitos, a luta pela sobrevencia, o nao aceitar injusticas ou humilhacoes,
'E um pouco tambem por isso que os paises arabes comecam a "temer" contagio,
Mohamed Bouazizi nao sei se pode ser considerado "Shahid" ( martir ) porque se suicidou, o Islam nao aceita o suicidio e nem mortes de inocentes, mas ele faz o seu "Jihad", pela recusa em aceitar a humilhacao e como protesto pela condicao social a que estava submetido.
As implicacoes da morte de Mohamed Bouazizi, e outros como ele, que se sacrificaram nesta luta social, economica e politica, fizeram o seu "jihad", nao sei se podem ser considerados "Shaids" ( martirs ) pelas suicidio que cometeram, e 'e mesmo por isso que o mumdo arabe "teme" o contagio.
E ainda que do ponto de vista Islamico esses jovens nao sejam considerados "shahid" ( martirs ), acredito que ao nivel humano ate pelos resultados dessa sua "luta" na Tunisia, sao SIM, Martires da Tunisia.
O caso dos Jovens como Mohamed Bouazizi, sera sempre um caso pra analise e reflexao no Islam, e principalmente pelos lideres e intelectuais islamicos.
Karim,
ResponderEliminarPenso que o Mohamed Bouazizi acontece em todos os países e mesmo em Mocambique. A diferenca é que este caso foi reportado. Vejamos que o ex-regime da Tunísia não queria que o caso se reportasse.
Eu não sou democrata, mas quando os democratas erram deviam ser mortos. Porque são falsos.
ResponderEliminarZicomo