Muitos professores que leccionam no ensino secundário são primários

Segundo o ministro da Educação, Zeferino Martins

O titular da pasta de Educação reconheceu, ontem, em conferência de imprensa, que os níveis de aprovação nos exames da 10ª e 12ª classes não são animadores e diz que algo está mal.

O ministro da Educação, Zeferino Martins, reconheceu, esta quarta-feira, que no sector que dirige existem sérios problemas na gestão escolar, facto que concorre para o baixo nível de aproveitamento que se regista, sobretudo, no ensino secundário.

Relativamente aos resultados dos exames escolares referentes ao presente ano lectivo, Martins disse que, embora ainda não estejam disponíveis os resultados globais, o aproveitamento a nível da 10ª classe não é animador, sendo que o mesmo varia de 37,5 por cento (na província de Maputo) a um máximo de 77 por cento – cifra conseguida na província de Nampula.

Para a 12ª classe, os números apontam para uma média global do aproveitamento, na ordem de 50 por cento de aprovações.

Contudo, o ministro reconhece que algo vai mal no sistema de educação e ressalva: “Temos que olhar para estes resultados dentro do contexto porque, se olharmos fora do contexto, a nossa análise será deficitária (...). Nos últimos anos, o crescimento no nível secundário varia de 12 a 20 por cento por ano, portanto, é a área que mais cresceu nos últimos 10 anos”, descreveu a fonte.

Segundo a constatação do titular da pasta de Educação, em todas as províncias, as escolas primárias completas vêm sendo transformadas em ensino secundário, em detrimento da frequência para o ensino primário.

“Como o nível secundário está a crescer com algum descontrolo, não se tem previsto um número suficiente de professores qualificados para acompanhar este rápido crescimento do ensino secundário, e o resultado é que os professores formados para o ensino primário são chamados a migrar para o ensino secundário, sem domínio das matérias leccionadas naquele nível”, observou Martins.

Outra preocupação apresentada pelo ministro tem que ver com a instalação de delegações da Universidade Pedagógica em todas províncias e até distritos. É que muitos professores já são estudantes da UP “e, por isso, faltam às aulas”.

“Temos sérios problemas nas turmas, no funcionamento das escolas. Temos problemas de gestão das instituições de ensino, verificamos que os professores não cumprem com o programa, e isso deve ser da responsabilidade dos directores das escolas e/ou dos adjuntos pedagógicos, que devem verificar estas situações”, afirmou o ministro.

Na sua locução, o ministro explicou que, muitas situações negativas na educação secundária surgem pelo facto de, em algum momento, ter havido a necessidade de satisfazer uma pressão no ensino secundário, nunca antes vista e superior às capacidades do sector da educação. “E, os resultados não desmentem, daí que temos que trabalhar para a contenção do ensino secundário no país, e vamos fazer um debate com a sociedade sobre a matéria”, anunciou.

Falando durante a conferência de imprensa, cujo objectivo era dar a conhecer o balanço das actividades da Educação durante o ano lectivo de 2010, o ministro da Educação disse que, contudo, em 2010, o sector manteve a tendência de expansão verificada ao longo dos últimos anos, sendo que o número de alunos que frequentam o ensino geral, da 1ª a 12ª classe, aumentou globalmente em 5.2 por cento, entre 2009 e 2010, atingindo a cifra histórica de 6.3 milhões de alunos, incluindo os do ensino privado. (Benedito Luís)

Fonte: O País online - 23.12.2010

Reflectindo: Considero positiva esta chamada ao debate.