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terça-feira, novembro 09, 2010

Republicanos recuperam Câmara dos Representantes, mas falham Senado

Por Bayano Valy

Os norte-americanos ofereceram duas coisas aos Republicanos: uma vitória avassaladora e um cálice envenenado. Até ao fecho desta edição o partido Republicano detinha uma maioria na Câmara dos Representantes (239 contra 183) e por pouco capturava o Senado dos Democratas (46 contra 51), com ainda 13 assentos na Câmara dos Representantes e três no Senado por declarar.
O número de assentos ganhos (58 sem incluír os que ainda estavam a ser contados) pelos Republicanos na Câmara dos Representantes ultrapassa os 52 que o partido ganhou nas eleições de 1994 enquanto Bill Clinton esteve na presidência.
A vitória dos Republicanos foi conseguida em larga medida devido à onda de descontentamento dos norteamericanos com as políticas do Presidente Barrack Obama dois anos depois do seu triunfo eleitoral. O descontentamento foi simbolizado pelos activistas do Tea Party, um grupo diversificado de dissidentes Republicanos muito à direita do partido, que de forma extremista souberam tirar proveito da preocupação dos norte-americanos com o estado crítico da economia, forte oposição à agenda Democrática sobre a reforma de saúde e um governo visto como despesista.
Todavia, o reverso da moeda é de que os norte-americanos não tanto endossaram as políticas dos Republicanos como votaram contra Washington e o habitual status quo - os eleitores continuam tão zangados com os Republicanos como estavam contra os Democratas, comentando à boca da urna que viam os dois partidos com o mesmo descontentamento.
Muitos republicanos reconheceram esse ponto de vista durante os seus discursos de vitória. “Cometemos um grande erro se pensarmos que os resultados desta noite são em alguma medida um abraço ao Partido Republicano,” disse Marco Rubio, um dos grandes favoritos do Tea Party que ganhou em Flórida. “O que são é uma segunda chance; uma segunda chance para os Republicanos fazerem o que disseram que faríam há pouco tempo.”
O provável próximo presidente da Câmara dos Representantes, John Boehner, também comungou da mesma opinião a partir da sede dos Republicanos, cuja celebração não parecia tão eufórica como nos festejos das vitórias passadas. “Este não é o tempo de celebrações. Este é o tempo para arregaçarmos as mangas e irmos trabalhar,” disse Boehner, acrescentando que os resultados eram “um repúdio a Washington, um repúdio ao governo despesista e um repúdio aos políticos que recusam-se a escutar o povo.”
Talvez Boehner tenha-se apercebido de que os problemas que entregaram a vitória aos Republicanos ainda continuam. As sondagens à boca da urna mostram eleitores com graves preocupações sobre a economia, ansiedade sobre o aumento da taxa de desemprego (rondando os dez porcento) e um receio generalizado de que a nação não sairá do burraco tão cedo. Por isso, quase tanto Obama sentiu a pressão de apresentar resultados logo após ter sido investido, os eleitores norte-americanos desta feita colocaram as suas expectativas nos Republicanos para arranjarem soluções aos problemas do país.
Analistas argumentam que não será tarefa fácil. Aparentemente a maioria que passam a deter na Câmara dos Representantes não é suficiente para constituir um claro mandato para elaborar políticas. O que significa que os dois
partidos terão que encontrar áreas de compromisso ou continuar com o duelo que até aqui tem caracterizado tanto a
Câmara dos Representantes como do Senado, caracterizado pelo obstrucionismo dos Republicanos.
O que também poderá complicar a tarefa dos Republicanos é a presença dos activistas do Tea Party. Apesar de Boehner e muitos Republicanos terem estendido mensagens conciliatórias aos Democratas na noite eleitoral, facções do partido, notavelmente os que se alinham estreitamente com o Tea Party. Duas figuras líderes deste movimento, Sarah Palin, a candidata Republicana à vice-presidente em 2008 e actual comentadora em talk-shows, e o senador da Carolina do Norte, Jim DeMint, insistem que os resultados são mais do que qualquer coisa um argumento o compromisso. “O GOP (Grand Old Party) deve compreender, a máquina deve entender, não estamos a enviar Republicanos à DC para cantarem Kumbaya com Obama,” disse Palin à apresentadora conservadora de um talk-show, Laura Ingraham. “Estamos a enviá-los para pararem Obama!” Aliás, os Republicanos já falam que irão trabalhar no sentido de repelir a reforma de saúde de Obama.
Palin parece ser uma das vencedoras nestas eleições sobretudo por considerável número de activistas do Tea Party a quem ela apoiou, ter vencido as suas batalhas eleitorais, embora uma das mais destacadas figuras, a excêntrica Christine O’ Donnell, tenha perdido e um outro candidato não ter conseguido derrotar o então presidente da Câmara dos Representantes, o Democrata Harry Reid de Nevada.
A mensagem dela poderá encontrar eco no seio dos Republicanos, mas poderá não encaixar com os eleitores que estão desiludidos com Washington. Os eleitores esperam que os Republicanos façam jus às suas promessas de melhorar a economia e mudar Washington e irão virar-se a Boehner para liderar os Representantes Republicanos rumo à uma rota de consensos.
Aliás, como se viu em 1994 com Bill Clinton, ter a maioria nas câmaras não significa vitória garantida nas presidenciais. Clinton foi capaz de navegar a oposição Republicana para ganhar um segundo mandato. Se Obama se mostrar um hábil político e os Republicanos continuarem a obstruir a aprovação das suas propostas de políticas nas duas câmaras, o povo americano poderá culpá-lo por isso e re-elegerem-no em 2012.
Em termos de mudança de políticas, os Republicanos poderão votar contra iniciativas de ajuda internacional ou reduzí-la o máximo possível. Ironicamente, uma área em que possivelmente até aumentem as despesas do governo será no financiamento ao exército.
Uma área em que a política externa norte-americana poderá sofrer alterações, embora o Presidente tenha mais poderes, será no Médio Oriente, onde os Republicanos opor-se-ão a qualquer tentativa de se forçar o Israel a fazer concessões aos palestinianos. E os Estados Unidos poderão endurecer a sua posição com relação ao que se passa no seu tradicional quintal, a América Latina.

Fonte: Savana - 05.11.2010 in Diário de um sociólogo

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