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sábado, julho 17, 2010

ATAQUES À COABITAÇÃO POLÍTICA OU CUMPRIMENTO DE UMA AGENDA POLÍTICA ÓBVIA?

Canal de Opinião,

Por Noé Nhantumbo

Sedes dos Bairros Voltam a Ribalta com Decisões Judiciais à Mistura na Beira

Está claro e é por demais evidente que a Frelimo jamais engoliu com prazer as sucessivas derrotas eleitorais no município da Beira. Também não é de estranhar que a mesma justiça que condena o CMB se diga incapaz de julgar desmandos e crimes a que estão acusados alguns membros da Frelimo que antes ocupavam lugares cimeiros no Conselho Municipal da Beira.
Que estamos perante um facto claro de ataque à coabitação política tão necessária para o desenvolvimento da cidade e benefício dos seus municípes não restam dúvidas. Nunca alguns dos mentores do partido único e agora feitos à força “democratas” quiseram compartilhar o poder e as possibilidades económicas deste país. A utilização do aparelho judicial para resolver uma disputa que não beneficia os cidadãos tranformou-se numa agenda enquadrada perfeitamente naquilo que os estrategas do partido Frelimo entendem como caminho para conquistar o governo da cidade nas proximas eleições. Muita coisa ainda vai ser ensaiada e entre tudo o que se prevê vamos decerto ter as restrições orçamentais como modo de agir nos próximos tempos. Querem aparecer como sendo aqueles que conseguem resolver os problemas das populações. Todos os beirenses sabem o que foi feito no passado pelos diversos governantes municipais filiados ao partido Frelimo. Também está claro para os beirenses que do lado da Frelimo tem havido uma recusa permanente em aceitar e admitir que outros que não eles também sabem fazer coisas e governar.
Não queremos desmentir que existem coisas que não estão sendo bem feitas pelo actual elenco municipal. Também não queremos recusar que existem funcionários aos mais diversos níveis aproveitando-se de seus cargos no Município para resolverem problemas de pessoas e privados.
A fome que afecta a maioria também se infiltra no Município como em outras esferas governativas do país e deixa as suas marcas. Enriquecimento rápido e ilícito à custa de posições municipais é assunto abertamente abordado pelos beirenses e isto não acontecia no tempo em que a Frelimo governava a cidade. Dirão que os tempos eram outros, dirão também que era a natureza do poder daqueles dias. Mas dificilmente dirão que era tudo fruto de uma ditadura feroz e cruel que não se poupava a meios para ver a sua agenda implementada sem restrições. Hoje todos querem se apresentar como democratas quando bem se sabe que a sua democracia só está na boca e nos jornais que lhes são favoráveis. São e foram sempre pessoas que queriam e querem o poder para elas próprias porque se julgam especiais e proprietários em absoluto do país. Não admitem que quem não foi camarada da luta armada de libertação também é moçambicano com direitos constitucionais. Por isso atropelam a lei e impõem um modo de vida em que tudo aquilo que são estruturas, parlamento, sistema judicial e executivo devem obedecer sem questionar ao que é determinado por uma suposta infalível equipa. Agora a ordem ou instrução foi dada e já há decisão judicial ainda que aparentemente não transitada em julgado. Ou não será isso?
Queremos, no entanto, frontalmente afirmar que as motivações do partido Frelimo ao conduzir o caso das sedes dos bairros da Beira para as instâncias judiciais visa resolver por essa via aquilo que não conseguiu na mesa de votos. A maioria dos habitantes da Beira colocou a Frelimo fora do poder executivo municipal e isto é um facto confirmado em duas ocasiões consecutivas. Inconformados com a vontade popular agora pretendem lutar pela manutenção do seu status através da utilização de uma máquina que lhes é clara e abertamente favorável, ainda que viciosamente. Julgo que ninguém de bom senso pode negar esta afirmação.
Há muito que se diz que não existe coabitação política sã entre os diversos níveis do poder na Beira e em Sofala. Governadores chegam e vão tentando sempre ganhar proeminência na Beira quando a questão é trazer desenvolvimento para a Beira assim como para a província. O debate institucional que deveria existir é substituído por aparições esporádicas em conjunto para a comemoração de datas festivas. Não se discute o que trava o desenvolvimento e o que atrasa os investimentos. Não se procura unir esforços e tornar a Beira em local privilegiado de realização de actividades económicas. Jamais ouvimos de dirigentes governamentais aos diversos níveis dizerem algo sobre preços e competitividade portuária na costa oriental de África. Afinal o que é governar senão trabalhar no sentido de ver as necessidades dos governados satisfeitas? Queremos emprego e quem nos governa não oferece soluções. Agora querem levar a discussão para outros domínios numa tentativa de nos iludir e nos fazerem esquecer que temos fome e necessidades básicas por satisfazer desde que somos governados pela Frelimo. É preciso começarmos a dar às coisas os seus nomes pois só assim é que aprenderemos a resolver os nossos problemas.
Toda a cidade está sofrendo de uma crescente ruralização e proliferação de práticas de comércio nocivas mas que as estruturas governamentais nos diversos níveis não abordam os assuntos com a consequência necessária e decisiva. Há problemas graves de transporte de passeiros com viaturas sem condições mecânicas, encurtamento de rotas nas barbas das autoridades, crise no abastecimento de energia eléctrica e outros problemas que não são atempadamente resolvidos e agora querem trazer o problema das sedes como se isso fosse problema.
Querem ganhar protagonismo prejudicando os cidadãos e nesta perspectiva tudo o que conseguem por via judicial ou outra e bem-vindo.
Julgo que o destaque que alguns órgãos de comunicação social estão a dar ao caso da vitória judicial da Frelimo no que se refere as sedes dos bairros é sintomática e mais do que esperada.
Não se vão cansar de noticiar o mesmo mas ao mesmo tempo se calando propositadamente no que se refere a casos que realmente afectam a vida sócio-económica da cidade.
Não é segredo para ninguém que a história recente da democracia moçambicana tem sido construída à custa da manipulação fraudulenta da vontade popular e que a fraude tem sido muitas vezes cozinhada nos mais diversos níveis por zelosos funcionários de certos partidos políticos. A questão que já deveria ser óbvia para determinados estrategas políticos é que enquanto não tiverem um candidato com o perfil desejado pelos beirenses a história das derrotas eleitorais continuará.
Podem ganhar casos judiciais com a facilidade verificada e podem impedir que a justiça atinja os seus membros implicados em escândalos e crimes mas nem por isso vão ter a tarefa facilitada de conquistar e assumir o poder na Beira. Que o digam os investimentos efectuados em eleições passadas.
O eleitorado beirense está crescendo no seu entendimento do que é politica e do que são os diferentes partidos políticos.
Pode parecer que é fácil enganar o povo mas jamais será fácil enganar os beirenses...

Fonte: CanalMoz - 2010-07-16

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