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quarta-feira, junho 03, 2009

QUEM TEM MEDO DA PRAÇA ANDRÉ MATSANGAISSA?

Por Noé Nhantumbo

Será recusa à reconciliação?

Beira (Canal de Moçambique) - É preciso dizer de boca cheia que os que receiam o nome daquela praça na cidade da Beira são os mesmos que não conseguem ver heróis senão nas suas hostes.
O discurso de reconciliação nacional que não passa pelo respeito aos heróis dos outros, é algo que não tem sentido e reflecte uma teimosia que só prejudica Moçambique e os moçambicanos. O frequente sentido de Estado que alguns dizem possuir é factualmente desmentido pelo facto dessas mesmas pessoas não conseguirem entender e mostrar aos moçambicanos que a sua luta e preocupação são este país e seu povo. As horas que foram consumidas procurando deitar a baixo uma resolução da Assembleia Municipal da Beira sobre o nome de uma praça reflecte o que na essência são os partidos políticos que temos…
Querer reconciliar a família moçambicana jogando para a lata do lixo uma parte importante dos moçambicanos que contribuíram com o seu empenho, saber e até sangue é algo que não pode ser aplaudido nem aceite pois representa uma negação autêntica dos esforços tendentes a normalizar a vida do país e lançar os alicerces para o seu desenvolvimento multifacetado.
A teimosia de impor um modelo político unilateral e visando obliterar a contribuição de compatriotas na criação de condições para que o país conquistasse a sua independência vai continuar a ser a preocupação primordial de alguns dinossauros políticos nacionais que com estas atitudes ainda não perceberam o quanto começam hoje a cair no ridículo.
Há gente que não consegue conceber que os outros também são moçambicanos e que possuem igualmente direitos sobre o que o país pode oferecer aos seus.
O combate que se trava na Beira sobre o nome André Matsangaice deve ser visto como algo mais abrangente. Aceitar tal nome para uma praça faz ou provoca arrepios a alguns políticos porque no seu entender seria abrir um precedente. Se admitirem isso terão que algum dia admitir que Uria Simango, Joana Simeão sejam considerados heróis com direito a nome em ruas, avenidas e praças. É isso que alguns “camaradas” temem mais que a morte. Julgam que ceder na Beira seria abrir a “caixa da Pandora” ou a garrafa onde está aprisionado o espírito.
Esta situação que deveria ser tratada de maneira politicamente adulta através de um diálogo que envolvesse todos os moçambicanos, está sendo evitada a todo o custo porque existem pessoas no partido no poder (Frelimo) que não conseguem trazer elementos novos para tal diálogo.
Somos moçambicanos e não há que ter medo ou qualquer receio em abordar a questão dos heróis com a profundidade requerida.
Deixemos para trás as considerações dos tempos do monopartidarismo e conceitos estreitos. Mesmo na Rússia, o último Czar foi reabilitado.
Já não há lugar para algumas manifestações estalinistas como de algumas pessoas que continuam a supor-se especiais e únicas.
Julgo que também há algum jogo de bajulação e elogios infundados para algumas figuras da luta de libertação nacional promovidos por alguma comunicação social. Engorda o ego dessas pessoas quando afinal até a sua filosofia, marxismo-leninismo é contra tais cultos de personalidade…
Deixem André Matsangaice descansar em paz e reconheça-se que o seu papel foi instrumental para que agora Moçambique seja politicamente pluralista…
O que realmente interessa aos moçambicanos é uma reconciliação efectiva onde cada um respeite os outros.
Essa mania de que existem moçambicanos especiais e que é necessário a Assembleia da República ratificar a heroicidade segundo critérios determinados por uma Comissão Política do partido no poder, como alguém procurou fazer entender, não faz sentido pois o povo moçambicano sabe de facto quem são os seus heróis.
Não há departamento de informação e propaganda algum que possa criar ou produzir heróis duradouros na memória popular…

Fonte: Canal de Moçambique

2 comentários:

  1. Afinal, sao so herois os 'vigaristas' da Frelimo ou os lambe-botas? Qual o verdadeiro conceito de HEROI? J. Simeao e U. Simango sao herois Mocambicanos, independentemente da sua afiliacao partidaria, ou ate diria martires, se falassemos em termos religiosos, pois sempre tiveram os interesses da Patria e dos Mocambicanos acima dos seus proprios. Maria Helena

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  2. Cara Maria Helena

    Uma das coisas que me deagrada neste país é o facto de serem poucos académicos que levantam a questão de heróis.Já muitas vezes vi o sociólogo Carlos Serra a provocar o tema sobre a heroicidade, mas fico logo desiludido pelo facto de muitos considerarem de assunto encerrado.

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