E devo dizer-te, Abudo, que estou com muito medo do que possa acontecer, nos próximos dias, na cidade de Nacala
Marco do Correio
Por Machado da Graça
Olá amigo Abudo
Como vão as coisas aí na província de Nampula?
Sei que nem tudo é fácil e que a vossa província é hoje um ponto quente na vida política nacional.
E devo dizer-te, Abudo, que estou com muito medo do que possa acontecer, nos próximos dias, na cidade de Nacala.
O facto de o Conselho Constitucional ter validado a vitória do candidato da FRELIMO às recentes eleições autárquicas pode criar enormes problemas, dada a posição intransigente que a RENAMO tem estado a apresentar.
Por um lado, eu acho que a RENAMO não pode pôr em causa a paz interna, indo contra toda a ordem constitucional estabelecida no país. Ao fazê-lo, torna-se culpada dos males que possam advir das suas atitudes.
Mas, por outro, também tenho que dizer que começo a estar farto de resultados eleitorais validados, apesar das irregularidades reconhecidas.
É que as irregularidades são sempre no mesmo sentido, isto é contra a RENAMO, e os culpados nunca são penalizados, por muito comprovados que estejam os seus actos criminosos.
E recordo o nome de um tal Albuquerque, apanhado com a boca na botija a falsificar votos a favor da FRELIMO, às centenas, na Beira, a quem nunca aconteceu nada. Acho que até foi promovido....
Portanto, as coisas não são tão claras como parecem.
O Conselho Constitucional, se não se quer tornar cúmplice deste tipo de situação, e das consequências a que pode levar, deve, na minha opinião, tornar muitíssimo mais severa a sua condenação das permanentes irregularidades eleitorais podendo/devendo ir mesmo até ao ponto de não validar eleições em que se tenham registado irregularidades graves, mesmo que estas não tenham tido reflexos directos nos resultados eleitorais.
Creio que a única forma de evitar que esta pouca vergonha continue é dizer aos infractores (sempre os mesmos) que, com irregularidades, a vitória não lhes é reconhecida, sejam quais forem os resultados contados em votos válidos.
Agora ouvir o venerando Dr. Rui Baltazar a dizer que em todos os processos eleitorais há irregularidades, como se se tratasse de uma fatalidade, é coisa que não esperava e me desilude. Será que na Suécia há irregularidades eleitorais? Será que em Portugal há irregularidades eleitorais? Será que na França há irregularidades eleitorais? Nunca ouvi falar...
Há dias uma pessoa amiga comentava que, para ela, não era importante a quantia que um dirigente corrupto e ladrão tenha desviado em seu proveito. O importante é termos no nosso país um dirigente corrupto e ladrão.
Pois eu acho que o mesmo se aplica a esta questão eleitoral. Não é importante se as irregularidades se traduziram em mais ou menos votos desviados.
Importa sim que, tendo havido votos desviados, a eleição, no seu conjunto, não pode ser considerada séria.
É verdade que a desproporção de votos num ou em outro candidato pode parecer demonstração clara da preferência do eleitorado.
Mas, se assim é, não há razão nenhuma para os previsíveis vencedores recorrerem à fraude. Se são os mais fortes esperem, calmamente, pelos resultados eleitorais.
Mas a coisa parece estar-lhes na massa do sangue. Se puderem, através da falcatrua, aumentar as suas probabilidades, não há escrúpulo moral que os detenha. Honestidade, seriedade, equilíbrio, vai tudo raso à sua frente.
Esperemos que tudo isto não vá fazer correr sangue em Nacala. Esperemos que o bom senso prevaleça e as coisas acalmem.
Mas, se os acontecimentos forem desaguar numa desgraça generalizada, não devemos procurar os culpados apenas entre os boçais militaristas da RENAMO.
Entre os pretensamente civilizados da FRELIMO também haverá muitas culpas no cartório.
Creio que foi o Papa João 23 que disse que “Justiça é o novo nome da Paz”. O que quer dizer que a Paz não é possível se as pessoas não sentirem que existe Justiça na forma como são tratadas.
Ora, não sendo eu simpatizante da RENAMO, tenho que reconhecer que não lhe tem sido feita Justiça em termos eleitorais.
Esperemos que não vamos pagar nós todos essa falta de Justiça gritante.
Um abraço do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ - 02.04.2009
Retirado na sua íntegra do Moçambique para todos, veja aqui.
Marco do Correio
Por Machado da Graça
Olá amigo Abudo
Como vão as coisas aí na província de Nampula?
Sei que nem tudo é fácil e que a vossa província é hoje um ponto quente na vida política nacional.
E devo dizer-te, Abudo, que estou com muito medo do que possa acontecer, nos próximos dias, na cidade de Nacala.
O facto de o Conselho Constitucional ter validado a vitória do candidato da FRELIMO às recentes eleições autárquicas pode criar enormes problemas, dada a posição intransigente que a RENAMO tem estado a apresentar.
Por um lado, eu acho que a RENAMO não pode pôr em causa a paz interna, indo contra toda a ordem constitucional estabelecida no país. Ao fazê-lo, torna-se culpada dos males que possam advir das suas atitudes.
Mas, por outro, também tenho que dizer que começo a estar farto de resultados eleitorais validados, apesar das irregularidades reconhecidas.
É que as irregularidades são sempre no mesmo sentido, isto é contra a RENAMO, e os culpados nunca são penalizados, por muito comprovados que estejam os seus actos criminosos.
E recordo o nome de um tal Albuquerque, apanhado com a boca na botija a falsificar votos a favor da FRELIMO, às centenas, na Beira, a quem nunca aconteceu nada. Acho que até foi promovido....
Portanto, as coisas não são tão claras como parecem.
O Conselho Constitucional, se não se quer tornar cúmplice deste tipo de situação, e das consequências a que pode levar, deve, na minha opinião, tornar muitíssimo mais severa a sua condenação das permanentes irregularidades eleitorais podendo/devendo ir mesmo até ao ponto de não validar eleições em que se tenham registado irregularidades graves, mesmo que estas não tenham tido reflexos directos nos resultados eleitorais.
Creio que a única forma de evitar que esta pouca vergonha continue é dizer aos infractores (sempre os mesmos) que, com irregularidades, a vitória não lhes é reconhecida, sejam quais forem os resultados contados em votos válidos.
Agora ouvir o venerando Dr. Rui Baltazar a dizer que em todos os processos eleitorais há irregularidades, como se se tratasse de uma fatalidade, é coisa que não esperava e me desilude. Será que na Suécia há irregularidades eleitorais? Será que em Portugal há irregularidades eleitorais? Será que na França há irregularidades eleitorais? Nunca ouvi falar...
Há dias uma pessoa amiga comentava que, para ela, não era importante a quantia que um dirigente corrupto e ladrão tenha desviado em seu proveito. O importante é termos no nosso país um dirigente corrupto e ladrão.
Pois eu acho que o mesmo se aplica a esta questão eleitoral. Não é importante se as irregularidades se traduziram em mais ou menos votos desviados.
Importa sim que, tendo havido votos desviados, a eleição, no seu conjunto, não pode ser considerada séria.
É verdade que a desproporção de votos num ou em outro candidato pode parecer demonstração clara da preferência do eleitorado.
Mas, se assim é, não há razão nenhuma para os previsíveis vencedores recorrerem à fraude. Se são os mais fortes esperem, calmamente, pelos resultados eleitorais.
Mas a coisa parece estar-lhes na massa do sangue. Se puderem, através da falcatrua, aumentar as suas probabilidades, não há escrúpulo moral que os detenha. Honestidade, seriedade, equilíbrio, vai tudo raso à sua frente.
Esperemos que tudo isto não vá fazer correr sangue em Nacala. Esperemos que o bom senso prevaleça e as coisas acalmem.
Mas, se os acontecimentos forem desaguar numa desgraça generalizada, não devemos procurar os culpados apenas entre os boçais militaristas da RENAMO.
Entre os pretensamente civilizados da FRELIMO também haverá muitas culpas no cartório.
Creio que foi o Papa João 23 que disse que “Justiça é o novo nome da Paz”. O que quer dizer que a Paz não é possível se as pessoas não sentirem que existe Justiça na forma como são tratadas.
Ora, não sendo eu simpatizante da RENAMO, tenho que reconhecer que não lhe tem sido feita Justiça em termos eleitorais.
Esperemos que não vamos pagar nós todos essa falta de Justiça gritante.
Um abraço do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ - 02.04.2009
Retirado na sua íntegra do Moçambique para todos, veja aqui.
Nota: O título não é original, mas escolhi entre as palavras do autor.
Isso so demonstra que nao existe separacao entre o poder judicial e governamental em Mocambique. Claro que quando ha irregularidades durante o processo eleitoral, e sempre a favor da Frelimo e em detrimento da Renamo. Alguem poderia esperar o contrario? Brevemente assistiremos o mesmo em relacao ao MDM. Se houve irregularidade, entao esses votos teriam de ser cancelados ou anulados, e os culpados levados a um tribunal imparcial, julgados e sentenciados, e as eleicoes canceladas ou a nao atribuicao do poder ao candidato vencedor. Quem faz parte desse tal Conselho Constitucional? Em que pais estamos vivendo, na Republica das Bananas? O Dr. Rui Baltazar deveria de ter vergonha de tentar enganar o povo mocambicano com o seu comentario. Em que livro ele leu isso, ou jornal, ou telejornal, ou revista? Isso e sua propria invencao? Acreditem que o povo nao esta a dormir. Maria Helena
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarRui Baltazar e o Conselho Constitucional agiram como Afonso Pilatos. Eles sabem que nao haverá penalizacão sequer a Amido Fernando, Antoninho Maia e Arsénio Geraldo Joaquim Nkabwebe, porque nem ao Albuquerque da Beira houve penalizacão. Se seguirmos o modelo do CC então nenhum aluno deve reprovar por ter sido apanhado com um papel de cábula, ao menos que seja o resultado de todos os exames em que o aluno foi submetido.
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