Abaixo vem um artigo dum professor publicado no Jornal Notícias. O professor José Manuel Andrade que se sente orgulhoso pelo sucesso dos seus alunos tem emoções iguais as minhas.
Sempre, eu disse que o meu orgulho está nos meus alunos porque são o resultado do meu trabalho. Não fiz tudo de bom na minha vida e até recordo-me do que não foi boa coisa. Recordo-me, por exemplo, que já expulsei alguns alunos da escola devido ao "mau comportamento" e, eu reconheço como o meu grande erro, embora eu tenha dificuldades de convencer nisso a muitos, sobretudo, a alguns professores. O que prova para mim que foi um erro, é pelo facto de eu ter feito o contrário com outros alunos e daí terem tido alcançado um resultado de que hoje me orgulho. Quando me recordo de pessoalmente ter ido buscar da casa dos pais, um aluno que frequentando a terceira classe havia desistido da escola, para depois vê-lo licenciado em psicologia e depois director provincial, aí reside o meu orgulho. Aliás, até foi o aluno que nunca se esquecia deste facto. Mas quando encontro um meu ex-aluno que não tenha obtido sucessos que me orgulhassem, pesa-me a culpa.
Eis o artigo retirado na sua íntegra do Jornal Notícias:
Por: José Manuel Andrade
Uma homenagem merecida ao professor moçambicano
SR. DIRECTOR!
Ficaria imensamente grato e feliz em ver publicado no prestigiado jornal que V.Excia dirige o trabalho a seguir apresentado em homenagem ao “professor moçambicano” pela passagem de mais um aniversário do seu dia – 12 de Outubro de 2008. Professor! Quem não conhece esta palavra? Quem não a sabe pronunciar? Ninguém! Ninguém!
O professor é o homem ou mulher; jovem ou adulto que instrui, forma e educa o homem. É aquela pessoa que de giz na mão e sabedoria vai abrindo as cabeças com a ciência, a técnica, a história, a moral.
O professor é a estrada por onde todos passam.
O que seria uma machamba sem a enxada?
O autor destas linhas tortas é professor. Vou narrar uma história passada comigo, ou melhor, passada com todo o professor moçambicano.
Alguns meus amigos quando estamos a conversar amenamente ou em convívios dizem:
- Zé Manuel, muda de profissão. O teu salário não chega para comprares uma cerveja. Bebe lá esta. Estás a ver. Nós ganhamos bem. Temos carro, e tu? Muda de profissão. O professor ganha mal, tem salário miserável. O Governo não reconhece o professor, a sociedade não vos liga. Tu, Zé Manuel, já dás aulas há muito tempo. O que tens? Nada. Vestes e calças “calamidade”, mal lanchas porque o teu mísero salário não chega para nada. Estes tipos de “batuque e maçaroca” não vos reconhecem. Estão se marimbando para vocês. Sempre prometem mas nunca cumprem. Olha para os batuqueiros: bem gordos, barriga para fora sem fazerem nenhum. Só reuniões, passeatas, congressos, cortes de fita e os professores na sarjeta (desculpem o termo). Não são só vocês. É todo o povo em geral.
Escuto, olho para eles e para mim mesmo, e digo que a cabeça deles está oca. Não sabem quão é importante e útil o professor na sociedade.
Depois de um bate-papo e uns copinhos, vou para a minha “toca” descansar porque a noite já era adulta. No banho, reflicto sobre a conversa que travei com os meus amigos e gravei na minha massa cinzenta as seguintes passagens: “o professor não é nada”. Ganha mal. Ele não é reconhecido pelo Governo e pela sociedade. Torno a pensar e desabafo:- Eu instruo crianças, faço delas homens do amanhã, ensino a ler, a escrever, a ciência, sei e vejo que a criança, o jovem, o adulto já sabem e aplicam na vida os conhecimentos adquiridos. Quando tempos depois reencontro com os meus alunos e pergunto-lhes o que fazem, surgem inúmeras respostas: estou a estudar na faculdade. Já sou técnico electrónico, enfermeira, director, extensionista, agrónomo, doutor, engenheiro, técnico de construção civil, etc, etc, fico tão emocionado que o meu coração bate com tanta força de alegria. E num ápice vejo que fui e sou útil; que fiz e faço alguma coisa para a sociedade. Sinto-me orgulhoso por este trabalho de ensinar, de educar.
Volto à ribalta da conversa dos meus amigos e em voz bem alta, digo: sou mais importante que eles. Sinto-me realizado porque transformo o homem. Um dia vou dar uma aula de verdade a eles.
É feliz, estimulante, honroso, gratificante, estar diante de 50, 60, 70 e até 80 crianças, muitas vezes sem condições materiais e com uma “voz de mãe” transmitir-lhes o saber para serem homens do amanhã.
Volto para cama mas não conseguia dormir: um bichinho roía-me os miolos. Levanto-me bêbado de sono e em voz bem alta para toda a sociedade ouvir, grito:
- Não vou vacilar. Continuo a ser “professor” para transformar a matéria-prima humana e produzir quadros para desenvolver esta nossa querida “Pátria Amada”. Melhores dias virão.
Parabéns professor moçambicano!
Sempre, eu disse que o meu orgulho está nos meus alunos porque são o resultado do meu trabalho. Não fiz tudo de bom na minha vida e até recordo-me do que não foi boa coisa. Recordo-me, por exemplo, que já expulsei alguns alunos da escola devido ao "mau comportamento" e, eu reconheço como o meu grande erro, embora eu tenha dificuldades de convencer nisso a muitos, sobretudo, a alguns professores. O que prova para mim que foi um erro, é pelo facto de eu ter feito o contrário com outros alunos e daí terem tido alcançado um resultado de que hoje me orgulho. Quando me recordo de pessoalmente ter ido buscar da casa dos pais, um aluno que frequentando a terceira classe havia desistido da escola, para depois vê-lo licenciado em psicologia e depois director provincial, aí reside o meu orgulho. Aliás, até foi o aluno que nunca se esquecia deste facto. Mas quando encontro um meu ex-aluno que não tenha obtido sucessos que me orgulhassem, pesa-me a culpa.
Eis o artigo retirado na sua íntegra do Jornal Notícias:
Por: José Manuel Andrade
Uma homenagem merecida ao professor moçambicano
SR. DIRECTOR!
Ficaria imensamente grato e feliz em ver publicado no prestigiado jornal que V.Excia dirige o trabalho a seguir apresentado em homenagem ao “professor moçambicano” pela passagem de mais um aniversário do seu dia – 12 de Outubro de 2008. Professor! Quem não conhece esta palavra? Quem não a sabe pronunciar? Ninguém! Ninguém!
O professor é o homem ou mulher; jovem ou adulto que instrui, forma e educa o homem. É aquela pessoa que de giz na mão e sabedoria vai abrindo as cabeças com a ciência, a técnica, a história, a moral.
O professor é a estrada por onde todos passam.
O que seria uma machamba sem a enxada?
O autor destas linhas tortas é professor. Vou narrar uma história passada comigo, ou melhor, passada com todo o professor moçambicano.
Alguns meus amigos quando estamos a conversar amenamente ou em convívios dizem:
- Zé Manuel, muda de profissão. O teu salário não chega para comprares uma cerveja. Bebe lá esta. Estás a ver. Nós ganhamos bem. Temos carro, e tu? Muda de profissão. O professor ganha mal, tem salário miserável. O Governo não reconhece o professor, a sociedade não vos liga. Tu, Zé Manuel, já dás aulas há muito tempo. O que tens? Nada. Vestes e calças “calamidade”, mal lanchas porque o teu mísero salário não chega para nada. Estes tipos de “batuque e maçaroca” não vos reconhecem. Estão se marimbando para vocês. Sempre prometem mas nunca cumprem. Olha para os batuqueiros: bem gordos, barriga para fora sem fazerem nenhum. Só reuniões, passeatas, congressos, cortes de fita e os professores na sarjeta (desculpem o termo). Não são só vocês. É todo o povo em geral.
Escuto, olho para eles e para mim mesmo, e digo que a cabeça deles está oca. Não sabem quão é importante e útil o professor na sociedade.
Depois de um bate-papo e uns copinhos, vou para a minha “toca” descansar porque a noite já era adulta. No banho, reflicto sobre a conversa que travei com os meus amigos e gravei na minha massa cinzenta as seguintes passagens: “o professor não é nada”. Ganha mal. Ele não é reconhecido pelo Governo e pela sociedade. Torno a pensar e desabafo:- Eu instruo crianças, faço delas homens do amanhã, ensino a ler, a escrever, a ciência, sei e vejo que a criança, o jovem, o adulto já sabem e aplicam na vida os conhecimentos adquiridos. Quando tempos depois reencontro com os meus alunos e pergunto-lhes o que fazem, surgem inúmeras respostas: estou a estudar na faculdade. Já sou técnico electrónico, enfermeira, director, extensionista, agrónomo, doutor, engenheiro, técnico de construção civil, etc, etc, fico tão emocionado que o meu coração bate com tanta força de alegria. E num ápice vejo que fui e sou útil; que fiz e faço alguma coisa para a sociedade. Sinto-me orgulhoso por este trabalho de ensinar, de educar.
Volto à ribalta da conversa dos meus amigos e em voz bem alta, digo: sou mais importante que eles. Sinto-me realizado porque transformo o homem. Um dia vou dar uma aula de verdade a eles.
É feliz, estimulante, honroso, gratificante, estar diante de 50, 60, 70 e até 80 crianças, muitas vezes sem condições materiais e com uma “voz de mãe” transmitir-lhes o saber para serem homens do amanhã.
Volto para cama mas não conseguia dormir: um bichinho roía-me os miolos. Levanto-me bêbado de sono e em voz bem alta para toda a sociedade ouvir, grito:
- Não vou vacilar. Continuo a ser “professor” para transformar a matéria-prima humana e produzir quadros para desenvolver esta nossa querida “Pátria Amada”. Melhores dias virão.
Parabéns professor moçambicano!
Um relato emocionante dum professor de verdade! E' de homens com este espirito de determinacao que o MEC precisa!
ResponderEliminarSem dúvidas que é este tipo de professores útil para o país.
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