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quarta-feira, setembro 27, 2006

Afinal o problema são as riquezas absolutas!

Canal de Opinião por Celso Manguana
Maputo (Canal de Moçambique) - Espantoso! Nem dá para crer. Afinal, Moçambique não é um país tão pobre como parece ser. A pobreza é só uma serenata para seduzir as comunidades internacionais. Mas vamos aos factos e deixemo-nos de espantos. Um relatório do governo sul-africano (a fonte é insuspeita) apresentado ao respectivo parlamento, refere que os moçambicanos foram os que mais contribuíram, no ano passado, para o turismo no país de Mandela. Os moçambicanos gastaram, o ano passado, em terras de Mandela, qualquer coisa como “1,2 Biliões de Euros”, ou seja 1,5 mil milhões de dólares americanos!!!...
Na África do Sul foi gasto o equivalente a quase o dobro da soma da ajuda internacional que Moçambique recebe anualmente. Cerca de 600 mil moçambicanos, mais precisamente “596.462” gastaram em média “1.956 Euros” cada só em 2005 na África do Sul. Acrescente-se mais 30% e aí está o que gastaram em USD. Qualquer coisa como 2.600 USD.
Dá para crer que um dos países mais pobres do mundo gaste em turismo os valores acima referenciados?
Dá para crer que está em causa um país onde 70% da população, vive com menos de 1 Dólar por dia?
– Dá para crer, sim, porque a fonte é insuspeita. Mas exige que se comece a questionar o que se passa cá por Moçambique. Dá para começarmos a interrogarmo-nos sobre o tal patriotismo da elite que anda a semana toda a pedir ao mundo para ajudar os moçambicanos a vencerem a pobreza absoluta e depois vai com essa ajuda ao outro lado da fronteira, ao «John» deleitar-se com o dinheiro dos contribuintes que caíram na esparrela de passar montões de dinheiro para as mãos de gente, pelos vistos, sem escrúpulos.
Diz o relatório do governo sul-africano – entenda-se do ANC – sobre o Turismo naquele país só em 2005, só no ano passado – num ano apenas – em 12 meses – em 365 dias apenas – só em 2005 – o equivalente a duas vezes o que o mundo amigo dos moçambicanos dá em cada ano de ajuda ao Orçamento Geral do Estado. Ou seja o que o mundo dá, em dois anos, aos 20 milhões de moçambicanos foi gasto a passear por apenas 600 mil. Dito de outra maneira: 3% dos moçambicanos gastaram num ano (2005), a passear, só no «John», sem falar dos outros passeios pelos países africanos e do resto do Mundo, duas vezes o que o governo de Moçambique pede de sacrifício aos cidadãos do Mundo para suprir o deficit orçamental do Estado de apenas um ano. Num país em que 70% são absolutamente pobres e vivem com menos de 1 usd por dia para viverem como “vão morrer assim”, é escandaloso!
Mas quem foram esses 600 mil moçambicanos que andaram na regabofe pelas “terras do Rand” ? 600 mil e quiçá talvez menos, porque alguns terão ido ao «John» mais do que uma vez no ano pelo que terão sido contados mais do que uma vez. E há ainda a ter em conta que muitos dos contados terão ido apenas na «Panthera» apanhar ar e ver luzes.
É a dita elite a quem se afirma competir ter a patriótica missão de tomar conta do país, claramente pendurada na miséria dos de cá, e no sacrifício dos de lá.
Será que isto não dá uma dimensão dos apetites dos abutres?
Isto não explicará porque os dados estatísticos da chamada boa governação estão em dissonância com a realidade aos nossos olhos?
Mais de 15 milhões de moçambicanos vivem na pobreza absoluta. Os restantes 4 milhões serão remediados.
Alguns, não poucos (ainda que nem todos, porque, evidentemente, alguns terão ganho o que gastaram com todo o mérito pessoal), dos que muito contribuíram para o turismo sul-africano em 2005, serão os mesmos que em nome da «luta contra a pobreza absoluta» andam pelos corredores das diversas comunidades internacionais a pedir dinheiro. Dinheiro esse que, depois, gastam em farras na África do Sul desviado do destino que deveria ter tido. Claro está: preferem gastar o dinheiro longe dos olhares dos “pobres absolutos”.
Com esta dos sul-africanos não contavam. Esqueceram-se que os seus gastos entram para estatísticas do país onde gastam. As estatísticas na África do Sul é de supor que pelo menos neste caso não sejam falsas. Não há nenhum benefício aparente que possa sequer abrir uma brecha de hipótese de os sul-africanos precisarem de mentir quanto a cifras de turismo.
Os tais gastadores do erário público moçambicano percebe-se agora melhor porque andam sempre tão ansiosos a quererem inaugurar com os seus nomes ou dos que lhes asseguram a continuidade do pasto, aquilo que é feito com o suor dos apelidados de «estrangeiros» sempre que convém exercitar a exclusão para tirar proveito da obra dos outros. São os mesmos que andam preocupados com o «neocolonislismo»... Com estes números cai-lhes a máscara. Obrigado ANC por este óptimo serviço prestado aos pobres de Moçambique!!!..
(Celso Manguana) - CANAL DE MOÇAMBIQUE – 27.09.2006

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