Editorial
Está intensa a movimentação política em Moçambique, nos últimos tempos. De há um tempo para esta parte, assiste-se a um dinamismo político sem paralelo nos últimos anos.
[28-04-2006]
O Presidente da República, Armando Guebuza, tem-se desdobrado em actividade política empolgante, juntando à sua volta milhares de cidadãos, nos distritos e localidades, a quem inspira a confiar em si próprios e a libertarem a sua iniciativa criadora para o sucesso do combate contra a pobreza absoluta em Moçambique.
Trata-se de uma acção pedagógica louvável, por parte do Presidente da República, o que, por seu turno, confere maior incentivo a outros dirigentes do Estado para se libertarem dos gabinetes e descerem ao terreno, para ver a quantas anda o País que têm a incumbência de dirigir.
Por seu turno, Afonso Dhlakama, líder do segundo maior partido político moçambicano, está a palmilhar o País, à sua maneira, falando para milhares de apoiantes e simpatizantes seus, a quem, igualmente, exorta a confiar no seu partido e a olharem criticamente para a governação da Frelimo e de Armando Guebuza, cobrando as promessas eleitorais. Ele também aborda, muitas vezes abertamente, a agenda nacional comum, ao apelar para a prevenção contra o HIV/Sida, e para o combate à pobreza através de pequenos projectos de desenvolvimento.
Apesar de a Frelimo tender para ser um partido-Estado, devido à sua esmagadora presença, sobretudo no Aparelho de Estado e nos centros urbanos, a Renamo continua a ser uma força política a ter em conta no terreno, sobretudo nas zonas rurais onde, gradualmente, vai mudando de discurso, abordando, cada vez mais, temas comuns ao processo de desenvolvimento nacional e, ao nível parlamentar, apresentando-se como uma bancada que lê os documentos submetidos a debate e como uma única voz realmente fiscalizadora do executivo àquele nível.
Tudo indica que a maratona política ainda vai no adro, a julgar pela azáfama de parte a parte caracterizada pela multiplicação de encontros sobre estratégia política dos maiores contendores políticos nacionais.
A Frelimo, pelos vistos, leva muito a sério os seus adversários políticos, usando, para os dominar, todo o tipo de estratégias e tácticas, incluindo o aceno de mão aos renamistas indecisos, os quais são aliciados a “ entregarem-se, para serem perdoados”.
Por seu turno, a Renamo, apesar dos aspectos positivos acima referenciados, continua a enfrentar sérias dificuldades de “trabalhar em equipa”, isto é, de pôr em funcionamento regular os seus diversos órgãos estatutários, incluindo a sua moribunda Comissão Política e o seu paralítico Gabinete de Assessoria Presidencial (GAP), cujo funcionamento episódico não passou de “sol de pouca dura”.
A Renamo tem um terrível problema de coordenação política, o que se repercute negativamente na sua capacidade operacional na base, já que tudo fica dependente da voz de um único homem, o qual, como ser humano que é, tem falhas e tem limitações diversas.
Mas, os sinais do dinamismo da vida política nacional sugerem que, nos próximos pleitos eleitorais, só os partidos bem organizados e batalhadores é que terão expressão, sendo aconselhável àquela parte da sociedade política débil, sem pilares nem alicerces suficientes, equacionar seriamente se vale a pena continuar a avançar sozinho ou juntar-se a um dos dois gigantes em campo. É que a Política não é uma actividade típica para os fracos e debilitados; a Política é uma actividade que exige muita robustez física e mental, premissas vitais para se alcançar a robustez económica e social, a fim de viabilizar um projecto de sociedade aliciante, para o povo votar.
Cada vez mais, está a ficar claro que não haverá, nos próximos tempos, uma terceira força viável no panorama político moçambicano. Está a ficar claro que o povo moçambicano está, politicamente, dividido em Frelimo e Renamo, e tudo indica que assim continuará por mais algum tempo, sobretudo em determinadas zonas do País.
O que nós apelamos aos dois maiores partidos, é a tolerância mútua e a demonstração da capacidade de coexistência pacífica, isto é, cooperação e colaboração para a viabilização de uma agenda nacional comum.
Quer dizer, que os partidos lutem politicamente, mas que não se desejem morte física, isto é, que não seja agenda da Frelimo acabar com a Renamo, e vice-versa, pois ambos são úteis para o País, cada um à sua maneira.
O avanço da democracia não é a morte dos actores principais, antes pelo contrário, um cenário democrático anima quando os intervenientes principais possuem a robustez política necessária para o espectáculo ter valor. Afinal de contas o objectivo do exercício político é ofertar à população possibilidades diferentes de gestão do bem comum, pelo que o pluralismo político é uma premissa básica para uma democracia representativa.
Assim, nós apelamos aos principais partidos políticos para que continuem a animar o cenário político nacional, sempre na perspectiva de encontrar melhores formas de oferecer um serviço público de qualidade superior ao povo moçambicano, dentro do espírito de tolerância política e grande abertura à liberdade de expressão do povo, valores preciosos para uma democracia saudável.
Apelamos, igualmente, aos partidos políticos ainda não posicionados para que aproveitem estes momentos de reflexão para equacionarem, friamente, a sua viabilidade social num cenário grandemente dominado pela Frelimo e pela Renamo. Vejam se vale a pena a sua continuidade isolada ou seria mais aconselhável agruparem-se em bloco, ou reforçarem, ainda mais, os dois gigantes da política moçambicana.
Portanto, bem-haja a intensa actividade política, que, ultimamente, caracteriza o País, mas devemos ter cuidado com a tendência de “monopartidarizar” a vida política nacional, tendência essa cada vez mais visível nos vários e sucessivos encontros que decorrem na Matola.
Salomão Moyana
Fonte: Zambeze
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