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sexta-feira, abril 28, 2006

9.º Congresso do partido Frelimo adiado por causa do Ramadão

Filipe Paúnde e Aiuba Cuereneia poderão vir a ser os grandes emergentes e Luísa Diogo voar para Washington
Armando Guebuza um vencedor antecipado


(Maputo) O 9.º Congresso do partido Frelimo foi marcado para Quelimane, e deverá realizar-se entre 10 e 14 de Novembro do corrente ano, conforme decisão do Comité Central daquela organização política reunido na Escola do Partido na Matola na última 4.ª feira. A reunião de quadros decorrida no mesmo local no último fim-de-semana propusera que o Congresso se realizasse entre 10 e 14 mas, em Outubro e não em Novembro. O adiamento entre outras razões que se possam adiantar deveu-se essencialmente ao facto das datas primeiramente avançadas coincidirem com o Ramadão, mês de jejum dos crentes do Islão, que acontecerá de 24 de Setembro a 24 de Outubro.

A cidade de Quelimane é capital da província da Zambézia em que a Renamo sempre se impôs com larga vantagem à Frelimo em todas as eleições legislativas e presidenciais, mas o município da cidade capital é presidido por Pio Matos, um ex-militante da Renamo que se passou para a Frelimo “com forte apoio de alguns empresários locais que jogam nos dois tabuleiros”.

O Congresso chegou-se a adiantar que iria decorrer na Escola da Frelimo na Matola mas, na reunião relâmpago de quarta-feira do Comité Central, foi transferido para Quelimane e adiado um mês.

Hoje, no entanto, tem início na Cidade da Matola a reunião da Associação dos Antigos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (AACLLN), de que era suposto Afonso Dhlakama, presidente da Renamo, e outros, também fazerem parte não fora o facto da organização estar partidarizada.

O Município da Motola é mais um município do País que também tem como presidente um “desertor” da Renamo (Carlos Tembe) que em Lisboa, onde esteve exilado durante a guerra civil, integrou o seu Gabinete de Estudos.

Matola e Quelimane vão assim passar à História como os dois principais centros de discussão do Poder neste primeiro milénio com dois “desertores” da Renamo a servirem de cicerones vestidos com as suas novas capas que de tantos que ultimamente despem a de Dhlakama até já há quem ironicamente se interrogue se a Renamo não estará a preparar-se para tomar a Frelimo por dentro.

Joaquim Chissano é o presidente da AACLLN. No tempo em que governava era simultaneamente presidente do partido, da República e desta associação dos combatentes. Nessa altura os estatutos do partido Frelimo previam que o presidente fosse automaticamente o candidato a presidente da República, sendo a figura de Secretário Geral (SG), normalmente, uma figura da feição do presidente. No 8.º Congresso, no entanto, os estatutos foram modificados e os slogans também: do «futuro melhor» que não passou de ficção, passou-se a fazer soprar novos ventos: “a força da mudança”.

E a mudança foi radical. O SG passou, estatutariamente, a ser o candidato do partido às eleições presidenciais e Armando Emílio Guebuza (AEG) foi designado SG, continuando Joaquim Chissano (JC) onde estava há 18 anos.

Em declarações a uma rádio europeia Chissano chegou a declarar-se crente de que chegaria ao 9.º Congresso como presidente do p-Frelimo. Enganou-se, redondamente. Na primeira oportunidade após Guebuza tomar posse como p-República (PR) o Comité Central derrubou-o e AEGuebuza acumulou a presidência do partido com o cargo de SG.

O partido que tem formado os sucessivos governos do país desde que a Frente de Libertação de Moçambique proclamou a Independência, transformou-se em organização “marxista-leninista” em 1977. Mais tarde abriu-se de novo a outras correntes e hoje é uma amalgama onde o dinheiro passou a ter tanto poder que Graça Machel já disse na Academia Militar em Nampula que há quem está a comprar lugares no Comité Central.

No 9.º Congresso é de prever que venha a haver fortes crispações entre as alas, das quais são mais visíveis as de Chissano e Guebuza, apesar de haver outras correntes renovadoras de que fazem parte figuras mais jovens, neste compasso apenas à espera de momento mais oportuno para agarrar o poder na organização política até aqui mais estruturada de entre todas as outras – cerca de trinta – existentes em Moçambique.

Fontes do «Canal» indicam que a par da sucessão de Guebuza que estranhamente já começa a ser motivo de conversa em sectores do partido menos conservadores e com uma visão mais moderna para a sua organização e para o País, estão agora mais do que nunca em causa questões importantes no imediato. E estas relacionam-se com o 9.º Congresso, de 10 a 14 de Novembro, em Quelimane.

No Congresso, na esteira da sucessão de Guebuza, para já totalmente fora de contexto o que torna AEG um vencedor antecipado daquela magna reunião, estará no entanto a questão do poder que Guebuza vai querer apurar. Como órgão máximo do partido falta até hoje a Armando Guebuza a legitimização àquele nível. Ele nunca foi eleito por um Congresso. Foi designado pelo CC e num momento em que Chissano parecia já transformado no homem que ia entregar o poder à oposição pois já estava transformado num perdedor pela opinião pública e talvez também pelos números das eleições de 1999 ainda que as de 2004 também não sejam muito fiáveis se for levado em conta que os mortos também votaram em Changara, para mais não se dizer.

Guebuza, seguramente, só tem uma hipótese: continuar a alimentar o «bluff» de que é Macua nato pelo facto do seu cordão umbelical «jazer» em Murrupula (Nampula/Norte) e, conseguir alianças no Centro do país sem deixar de lado os seus amigos da infância em Lourenço Marques e ainda o indelével facto de ser fundador da Ngyana (Associação dos Rongas), etnia preponderante nas terras de Maputo e Kanfumo. E, por aí, parece que a lição está bem estudada, não sendo por acaso que o cenário que mais soa das catacumbas do partido falar objectivamente em três peças: Filipe Paunde (da Beira e actual Governador de Nampula) para SG; Aiuba Cuereneia (de Nampula e actual ministro do Planeamento e Desenvolvimento) para 1.º Ministro e Luísa Diogo (de Tete, actual PM) para representante de Moçambique junto do Banco Mundial em Washington. O resto faz o próprio presidente as vezes de...

As aspirações da ala renovadora que por enquanto se mexe mais dissimulada, à socapa e com os seus «pivots» a verem o filme por e-mail e em versão «www», lá de fora, bem de longe e bem distribuídos por tudo o que é continente, ficarão transferidas para mais tarde e com ela as de Graça Machel, asseguram-nos em «off the record», como virou moda nesta nossa democracia com máscaras em que o medo continua a ser a nota dominante.

(Redacção)

Fonte Canal de Mocambique (2006-04-28 10:43:00)

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