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sábado, junho 20, 2015

Moçambique: Uma promessa económica que tarda em materializar-se

Moçambique tem as segundas maiores reservas mundiais de gás natural, mas tem também uma das maiores taxas de pobreza do continente, mostrando um país a duas velocidades e onde o crescimento de 7% ao ano exclui 80% da população.
As conversas com analistas, economistas, empresários ou decisores políticos ou monetários vão sempre parar ao mesmo ponto: Moçambique comporta-se como se já tivesse as receitas que hão de vir do carvão e do gás, mas na verdade é preciso esperar pelo menos até à próxima década para o dinheiro começar a entrar nos cofres do Estado.
Por enquanto, o país que apresenta a quarta maior taxa de pobreza do continente, com quase 70%, vai sobrevivendo à custa dos doadores internacionais e das grandes instituições monetárias como o Fundo Monetário Internacional ou o Banco Mundial, que quase ‘dia sim, dia não’ anunciam mais um empréstimo, uma linha de crédito ou um financiamento a fundo perdido para melhorar as infraestruturas, a educação, a eletricidade, o saneamento básico ou qualquer outro dos serviços básicos que o país não tem, mas que precisa como de pão para a boca para se desenvolver e deixar de depender tanto da ajuda internacional.
As grandes multinacionais, essas, estão em força no país, atraídas pela promessa de milhões, mas o panorama não é fácil: os preços internacionais do carvão e do gás estão baratos, arrastando para baixo a rentabilidade das explorações. A velha expressão norte-americana que diz que "é preciso gastar dinheiro para fazer dinheiro" nunca foi tão verdadeira, principalmente no gás, onde se investem verdadeiras fortunas antes de se conseguir vender o que quer que seja.
Que o diga a gigante mineira australiana Rio Tinto, que investiu milhares de milhões de dólares no país, e acabou por vender a operação por uns meros milhões de dólares, para evitar mais perdas, ou a brasileira Vale, que também já se desfez de parte dos ativos em Moçambique.
Do ponto de vista político, Moçambique é um país dividido, onde, como diz o investigador António Francisco em entrevista à Lusa, "não se sabe se amanhã os tiros vão voltar", o que pode não ser um travão para as multinacionais, mas é "profundamente desestabilizador para os pequenos e médios empresários nacionais".
Nada que impeça o FMI de projetar um crescimento de 7% para este ano, à semelhança do que tem acontecido no passado recente, mas o problema é que este crescimento está concentrado em meia dúzia de áreas, não havendo, pelo menos ainda, capacidade para transformar os investimentos na indústria extrativa, no gás e no carvão, em investimentos reprodutivos que melhorem a vida da população.
É que para quase 80% dos moçambicanos, os milhões do gás natural vão literalmente passar-lhes ao lado, em navios que vão para a Ásia, e para o Japão, China e Índia, principalmente, países sedentos de uma energia alternativa ao petróleo e à energia nuclear.


Fonte: LUSA – 20.06.2015

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