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sexta-feira, agosto 12, 2011

Tenho medo do futuro!

Por Lázaro Mabunda

Na verdade, estamos no alto mar, num barco avariado, incontactáveis. Só um milagre divino pode salvar-nos de um destino quase inevitável e certo.

O camarada Marcelino dos Santos, como carinhosamente quer ser tratado, veio, esta semana, a público, mais uma vez, manifestar a sua frustração com a forma como o país está a ser governado pelos seus companheiros do partido. Curiosamente, Marcelino dos Santos está a revoltar-se contra a direcção e Governo que ele mesmo apoiou e apelidou, pomposamente, no dia da tomada de posse do Presidente Guebuza, em Fevereiro de 2005, de “Governo de Povo”. Em Junho do mesmo ano, viria a replicar o slogan do “Governo de Povo”, em entrevista ao semanário O País, hoje diário com o mesmo nome: “(...) é um governo para fazer trabalho do povo, para respeitar os interesses das massas populares”, justificou, dando uma reprimenda ao governo de Joaquim Chissano: “(…) você entra num sistema e não é fácil sair de lá e, realmente, nós, na Frelimo, tivemos essa capacidade de que podemos transformar a situação pondo Guebuza lá para ser um homem da recuperação”.

Mais: “Era também sentimento nosso que para se efectivar uma real mudança, para permitir que o país passasse para a recuperação de muitos degraus perdidos, era preciso que mudássemos a direcção. Espero que nós assumamos finalmente o poder.”

Analisando as últimas declarações, podemos concluir, facilmente, que: (1) a frustração de Marcelino dos Santos reside no facto de ter sido iludido pelas aparências e apostado em puros capitalistas disfarçados de marxista-leninistas; (2) só mais tarde é que se apercebeu da real dimensão “ambicionista” dos seus companheiros; (3) tardiamente, descobriu que o Comité Central tinha sido amigavelmente constituído de forma a tornar-se um clube de amigos capitalistas; (4) muito tardiamente se apercebeu que a exploração do homem pelo homem, mais do que uma especulação, já era uma realidade. Aliás, ele próprio fez a questão de salientar, esta semana, que “quando os progressistas chegam ao poder começam a explorar o proletariado” e que “os estatutos da Frelimo dizem não à exploração do homem pelo homem”; e (5) só hoje descobriu, conforme disse, que “a riqueza de todos está nas mãos de alguns. É o que estamos a viver em Moçambique e o nosso povo tem consciência disso”.

O grito de Marcelino dos Santos vem provar que, de facto, jamais este país será túmulo do capitalismo, tal como se previa no primeiro hino nacional. Os socialistas que juravam que iriam sepultar o capitalismo, tornaram-se capitalistas puros que acabaram sepultando o socialismo na cova que havia sido destinada ao capitalismo. A riqueza está concentrada num grupinho de oligarcas, num país em que a maioria não tem sequer o que comer. Todos os impostos, desde os pequenos aos grandes, se associam contra o magro salário. Os oligarcas, porque controlam todo o sistema através do Governo que eles dirigem, fogem ao fisco. As importações que eles fazem estão isentos de direitos aduaneiros. Algumas das suas empresas, incluindo os lucros das mesmas, não são tributadas. Vivem não só de salários provenientes do Estado e das suas empresas, mas também de uma série de regalias e bónus proporcionadas pelo Estado, por eles definidas para eles mesmos. Com o seu poder económico passaram a controlar os restantes poderes, do executivo ao judicial, e do legislativo ao quarto – a imprensa. Este último passou a ser usado como simples reprodutor desse poder económico. Uma máquina exímia de lavagem de atolada imagem dos oligarcas.

Se alguém me perguntasse hoje, que futuro perspectiva para Moçambique, certamente não teria o mesmo optimismo de há um ano. O futuro de Moçambique assusta. Na verdade, estamos no alto mar, num barco avariado, incontactáveis. Só um milagre divino pode salvar-nos de um destino quase inevitável e certo. José Sócrates, ex-primeiro-ministro de Portugal, disse, durante o acordo da reversão de Cahora Bassa, em 2007, em Maputo, que tinha “saudade do futuro”. Eu não tenho saudade do futuro. Muito pelo contrário, tenho medo desse futuro. O nosso destino hoje já não depende de nós, depende, pois, de um grupinho de oligarcas.

Não sou profeta, nem conheço o nosso destino. Mas tenho uma certeza: num futuro breve, quase toda a imprensa vai passar a ser uma máquina de propaganda político-partidária. Se é que ainda não o é. Reproduzirá discursos políticos forjados no Comité Central. Passará a diabolizar toda a oposição e todos os críticos ao governo de dia.

Fonte: O País online - 12.08.2011

6 comentários:

  1. Este Mabunda, ia lucubra, pá.

    Zicomo

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  2. As Rolas Voam ! As Rolas Voam ! As Rolas Voam !

    'E A Selecção Nacional De Moçambique !

    A Voar !

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  3. Estamos mal e muito mal mesmo. As peessoas sao camaleonas. Fica-se quieto parecendo alguem do bem, mas depois, muita coisa acontece. Basta ter faca na mao. Sao inumeros exemplos desse comportamento. O que eu chamaria atencao 'e nao a gente se deseperar. Nao conheco muitas leis sociais, senao fisicas: mas sempre as caracteristcas sao comuns: sempre ha mudancas.

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  4. Sempre havera mudanca. Mudanca para pior ou para melhor. Nada e constante, alias a propria mudanca e que e a unica constante.

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  5. Combater a Opressão
    É certamente admirável o homem que se opõe a todas as espécies de opressão, porque sente que só assim se conseguirá realizar a sua vida, só assim ela estará de acordo com o espírito do mundo; constitui-lhe suficiente imperativo para que arrisque a tranquilidade e bordeje a própria morte o pensamento de que os espíritos nasceram para ser livres e que a liberdade se confunde, na sua forma mais perfeita, com a razão e a justiça, com o bem; a existência passou a ser para ele o meio que um deus benevolente colocou ao seu dispor para conseguir, pelo que lhe toca, deixar uma centelha onde até aí apenas a treva se cerrara; é um esforço de indivíduo que reconheceu o caminho a seguir e que deliberadamente por ele marcha sem que o esmoreçam obstáculos ou o intimide a ameaça; afinal o poderíamos ver como a alma que busca, após uma luta de que a não interessam nem dificuldades nem extensão.

    Agostinho da Silva, in 'Considerações'

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