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sexta-feira, outubro 09, 2009

"São estes abusos, estas faltas de respeito, estas trafulhices eleitorais, que retiram votos à FRELIMO"

MARCO DO CORREIO

Por Machado da Graça

Bom dia Julião

Como estás tu e a tua família? Do meu lado tudo bem, felizmente.
Hoje queria comentar contigo uma coisa a que acho muita piada: a propaganda que a FRELIMO faz com base em pessoas de outros partidos que passam a filiar-se no partidão.
Hoje são seis aqui. Amanhã são vinte acolá. No outro dia são mais 15 num outro sítio e por aí adiante.
E os órgãos de informação que lhe são afectos, isto é, os do sector público, pagos por todos nós, dão grande relevo a essas mudanças de partido.
O que nunca é referido é o processo em sentido contrário: os que passam da FRELIMO para outros partidos.
Ora aqueles que, como eu, viveram os tempos imediatamente a seguir à independência nacional sabem que, nessa altura, toda a gente era da FRELIMO.
Se não eram 100% dos moçambicanos, pelo menos mais de 90% eram.
Hoje, se avaliarmos os resultados dos vários processos eleitorais que já decorreram, há milhões de moçambicanos que votam em outros partidos que não a FRELIMO.
Para dizermos a verdade, nas últimas eleições gerais os votos na FRELIMO foram de uma reduzida minoria. A maioria absteve-se ou votou na oposição.
Porque será, então, que se fala tanto numas dezenas de pessoas que se passaram para a FRELIMO e nada se diz sobre os milhões de pessoas que saíram desse partido?
Não haverá aí um grande desequilíbrio? A mim parece que sim.
Vamos ver, depois da próxima votação, em que é que param as modas. Se continua a haver a mesma alta tendência para a abstenção e, caso não haja, para que lado se inclinam os que antes não votavam e agora passaram a votar. Isso nos dará uma ideia mais clara de qual é a tendência de evolução do eleitorado.
Não serão aqueles poucos cidadãos, apresentados nos comícios, que serão significativos para compreendermos o fenómeno. Nem sequer a nível local, quanto mais a nacional.
Mudando de assunto.
O Presidente da República, igualmente candidato da FRELIMO à sua própria sucessão, elogiou, recentemente, a actuação da Polícia no decorrer da campanha eleitoral ao dar posse ao novo Reitor da ACIPOL.
E é compreensível esse elogio, mais do candidato Guebuza do que do Presidente Guebuza.
E ilustro com um exemplo:
No sábado passado havia, como é normal, uma longa bicha de carros junto do “ferry” que faz a passagem entre Maputo e a Catembe.
A certa altura aparece um carro da Polícia que interrompe a bicha e faz passar à frente de toda a gente uma coluna de carros da campanha eleitoral de um determinado partido. Qual partido?
Acertou, amigo leitor, foi mesmo da FRELIMO.
E assim lá se foi o “ferry”, levando a coluna de viaturas da FRELIMO e deixando ficar do lado de cá uma série de carros que estavam na bicha e teriam entrado se não fosse a arbitrariedade da Polícia em apoio do “batuque e maçaroca”.
Imagina lá, meu caro Julião, quantos possíveis votantes na FRELIMO não terão mudado de opinião naquele momento.
Eu diria que, mais do que o que fez ou não fez o seu Governo, são estes abusos, estas faltas de respeito, estas trafulhices eleitorais, que retiram votos à FRELIMO, que lhe retiram o apoio de uma parte significativa do eleitorado que não gosta de ver o jogo democrático falseado.
Nos dias antes do início da campanha eleitoral foram feitos vários debates sobre a cobertura, pelos órgãos de informação, da campanha. Um mesmo na Rádio Moçambique.
Pois se tu ouvires qualquer exemplo do Diário da Campanha daquela emissora verás que todas as edições começam com notícias da FRELIMO e do seu candidato. Depois começam a percorrer as variadas províncias e, em cada uma delas, as notícias começam também, sempre, pela FRELIMO e por Guebuza.
Isto para não falar no tempo que é dedicado a cada candidato e até mesmo da qualidade sonora dos apontamentos.
Há dias, noticiando de Tete, falou Armando Guebuza. Na notícia logo a seguir falou Maria da Luz Guebuza e, na seguinte, a delegada da FRELIMO naquela província. Só depois houve escassas notícias sobre os outros partidos.
Será por acaso isto? Não é, obviamente.
Só não percebo por que andaram a gastar tempo e dinheiro a fazer os tais debates.

Um abraço para ti do

Machado da Graça

CORREIO DA MANHÃ – 09.10.2009

Fonte: Mocambique para todos

9 comentários:

  1. Maria Helenaoutubro 10, 2009

    O título deste artigo explica exactamente o que tem sido a Frelimo ao longo destas décadas, e que continuam na mesma.
    O abuso de poder e o desrespeito pelo povo, tem sido uma constante neste governo da Frelimo.
    Por um lado, ainda bem que isto está acontecendo. As pessoas que ainda tinham dúvidas, agora têm mais certezas e os olhos mais abertos.
    Que eles perderam muitos votos com esta atitude, disso não tenho a mínima dúvida.

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  2. Viriato Diasoutubro 10, 2009

    É por isso que ainda hoje defendo um regime ditatorial, igual ao da China ou do Zimbabwe do meu ídolo Mugabe, porque fingir à democracia é que não dá.

    Um abraços

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  3. Mano Viriato

    Mesmo Mugabe é obrigado a fingir a democracia e deves saber porque. MOLA, MOLA, MOLA do ocidente. A China encontrou com o sucesso o seu sistema comunismo-capitalista o qual é muito útil para eles para os países africanos sem decisão certa e muito interessados na MOLA, assim vão fingindo.

    Bom fim de semana

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  4. Cara Maria Helena

    Se hoje com muitas vozes a denunciarem o uso do poder, tudo acontece a céu aberto, só podemos imaginar o que acontecia antes. Mas na mesma me questiono sobre o que lhes faz continuar com tudo isto? Ou seja, porquê não têm medo que os eleitores os possam sancionar? O quê confiam?

    Bom fim de semana!

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  5. Viriato Diasoutubro 10, 2009

    Meu amigo Reflectindo,

    Obrigado, bom final-de-semana para si também.

    Um abraço

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  6. Boa discussao por aqui. Isso chama-se abuso de poder. Os jornalistas que assim cobrem esses abusos sao chamados analfabetos intelectuais. Mas que se acautelem. A historia e irreversivel. Como disse Machado da Graca se em 1975 100% dos mocambicanos eram da Frelimo e hoje a Frelimo ronda nos 50%. Cuidado que em 2014 "desapareca" da cena politica nacional, como aconteceu com a UDF e MCP no Malawi,o PAIGC na Guine Bissau.
    Ai sim, esses jornalistas terao saudades desses tempos de trafulhices eleitorais.

    Na historia da humanidade, nao ha registos de um partido politico que tenha ficado no poder por mais de 100 anos.

    Nao havia nada de temivel no mundo que Hitler, Staline ou George Bush. Esses jornalistas devem exactamente saber sobre os recentes Winds of Change

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  7. a dias no diário da campanha da TVM, em Sofala, o Alberto Chipande disse perante a população que:

    ESSES PARTIDOS( da oposição)NÃO TEM HISTORIA,E QUE DAQUI NÃO SAÍMOS DAQUI NINGUÉM NOS TIRA, NEM COM AS ELEIÇÕES NEM COM A DEMOCRACIA.

    pena o homem do 1º tiro não puder viver a eternidade, e ja devia saber disso porque há duvidas se realmente ele foi o tal Homem do 1º tiro, alias , ele mesmo tem duvidas,o colono escravizou 500 anos, mas fugiu,um dia O PARTIDÃO DESAPARECE,e não me chamem do apostolo da desgraça.

    Machado da Graça, directo ao assunto como sempre, por acaso postei um comentário no diário do Carlos Serra , onde mencionei a outra opinião dele, e aqui no reflectindo ´´esta quente´´ com outra opinião, o Homem vive com os pés no chão, no mundo real. Parabens

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  8. Caro Leo

    Todo o jornalista ao serviço do regime não tem glórias. Lembro-me dos jornalistas da Jugoslávia de Milošević.

    A verdade diz que mudanças em Moçambique já estão concebidas e ninguém as travará.

    Abraço

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  9. Mano Chauque

    Chipande é o revelador da batota.

    Abraço

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