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sexta-feira, outubro 30, 2009

EXTRAS - Crime eleitoral

Por Pedro Nacuo

ANDAVA de telemóvel em telemóvel a mensagem que questionava se seria crime eleitoral um cidadão em plena bicha para a votação no largamente esperado dia 28 de Outubro, estivesse a comer uma maçaroca ou simplesmente levasse consigo, sendo que o símbolo da Frelimo é exactamente o milho, que se junta ao batuque… discutiu-se muito sobre se isso seria fazer campanha em plena votação ou não.

Em quase todas as discussões a que tive acesso, me parece ter-se chegado ao consenso de que ainda que não fosse crime verdadeiramente dito, a prudência e o lado moral aconselhava a evitar levar aquele produto no dia da votação. Fizeram-se outros exemplos, como, por exemplo, alguém a caminho do posto de votação, comprar um galo e lá ir com ele à mesa da assembleia de voto, ou ainda levar um pangolim, como animal de estimação, etc. etc.

Tudo girava à volta duma realidade que assentava na maneira como estas eleições foram esperadas, como os moçambicanos se prepararam para elas, a ansiedade que provocaram e todo um conjunto de cuidados que urgia tomar para que o processo não sofresse perturbação de qualquer espécie. Há-de ser, provavelmente, por aí que, desde já convém aceitar que a participação, desta vez, valeu muitos pontos. Os moçambicanos estão cada vez mais com vontade ou de mudar ou de não mudar, mas sobretudo, de participar na mais nobre decisão de escolher quem deve estar à sua frente e com que legitimidade…

Mas naquele tipo de discussão, ninguém se lembrou do que seria se em vez de milho trazido na bicha, aparecesse uma pessoa com esse nome, convenhamos, milho ou maçaroca (Português), Chimanga (Nyungué, Yao, Nyanja…), Námpethe (Chuabo), Maphiramanga (Massena), Mafruwela (Kimwane), Dindjele (Shimakonde), Chitsama (Ronga ou Changana) ou NACUO (em Emakwa).

Há muito que eu reclamava a presença do NACUO, no símbolo da Frelimo. Andei aí a dizer que estava a ser indevidamente usado, outros me gozam todos os dias por lhes estar a servir e bem! Uma vez brinquei dizendo que não devo pagar quotas porque estou permanentemente a desembolsá-las através do símbolo daquele Partido.

E acabei cometendo o crime eleitoral, ou seja, não evitando aquilo que o consenso havia desaconselhado. E levei à mesa de assembleia do voto, ali foram-me chamando os amigos e amigas, outros cumprimentavam-me em voz deliberadamente alta. Fiquei cúmplice e embaraçado.

Como se isso fosse pouco, eis que quando chego à mesa 1196, do bairro de Nanhimbe, onde ia votar, deparo com uma escrutinadora que pelo sotaque e as dificuldades que encontrou para me nomear, me parece uma compatriota do sul do Save, e em voz alta (ela também, começa a errar o meu nome).

- Senhor Pedro Macua!

-Minha senhora, sou Pedro NACUO

- Ok, senhor Pedro Macuo!

-Não, minha senhora sou Pedro NACUO

- Ok, senhor Pedro Nacua

- Senhora! Sou NACUO, NACUO, NACUO. Ouviu bem? NACUO!!! NACUO!!!!

Mas desta vez eu dizia sem me aperceber, senão instantes depois, que estava a gritar o símbolo da Frelimo que é o meu nome…

A sala gelou e eu a seguir tomei, contagiado, o comportamento da sala. Só não pedi desculpas porque é meu nome. Sendo assim, a discussão deve continuar, se levar o símbolo de um partido concorrente à bicha de votação é ou não crime. Eu sou Pedro NACUO e me desculpem aqueles que, como eu, ficaram embaraçados com o que aconteceu na minha mesa de voto.

Pedro Nacuo


Nota: Tenho dito que artigos do jornalista Pedro Nacuo, ex-professor (se pode ser?), são muito interessantes. Tenho medo que me chamem algo que não queria, mas só Pedro Nacuo de ou  Cabo Delgado e Mouzinho de Albuquerque de ou em Nampula me obrigam a visitar todos os dias o Notícias. Em termos da lei e justica, procuro lá saber a opinião de Castande (o jurista João Baptista Castande).

2 comentários:

  1. Viriato Diasoutubro 31, 2009

    É verdade Reflectindo,

    Eu também adoro os artigos de Nacuo, nem todos, mas na sua essência todos. O tipo faz o meu estilo. Um artigop tem que ter muita filosofia, muita papa, muita ciência, coisas dessas e não escrever por escrever. Lide amanhã, passa a publicidade "A PLOLIFERAÇÃO DE IGREJAS VERSUS IGREJAS PROLIFERAS".

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  2. Viriato Diasoutubro 31, 2009

    Grende artigo de facto Nacuo é um excelente cronista. Gosto da maneira que ele escreve, a forma como ele aborda as questões, a filosofia empregue nos artigos, enfim, toda aquela morfologia é, simplesmente, the best.

    Um abraço

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