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sexta-feira, maio 19, 2023

“O cerco está fechado” e “o inimigo está aflito”

“CIP Eleições” revela o esquema para excluir eleitores da oposição na Beira para beneficiar a Frelimo

A coordenação é feita no grupo do Watsaap denominado “STAE Supervisor Beira”, administrado pelo director distrital do STAE da Beira, Nelson Carlos do Rosário, cuja queixa-crime o MDM já deu entrada na Procuradoria Provincial de Sofala. Nas mensagens trocadas entre os elementos do grupo percebese que a morosidade no atendimento, algumas avarias de máquinas, a rejeição de testemunhas e de outros documentos oficiais, como a cédula ou declarações de bairros, são propositadas e fazem parte do esquema para cansar o eleitorado da oposição e beneficiar a Frelimo. É um filme com episódios grotescos.

O grupo de Watsaap foi criado pelo director distrital justamente no dia em que iniciou o recenseamento eleitoral (20 de Abril), mas só começou a adicionar os supervisores a partir do dia 24 de Abril.

A primeira medida de bloqueio aos eleitores da oposição foi tomada às 13.46 horas do dia 25 de Abril, quando o director distrital do STAE orientou aos supervisores para rejeitarem as reclamações dos fiscais da oposição. “Não assinem nem aceitem as reclamações dos fiscais, não podemos facilitar.” A orientação do director foi mesmo para dificultar, o máximo possível, o recenseamento dos que apelidam de “inimigo”. “A missão”, segundo Nelson Carlos do Rosário “é abater o inimigo”. O inimigo é o eleitor da oposição.

“Bater forte no inimigo foram as palavras do nosso chefe, estado-maior. Hoje estamos a aplicar”- comenta o supervisor Nhanombe TF, que propõe aos colegas que usem o esquema que ele já vem utilizando para bloquear aos que ele chama de “macacos”: “Para mim (é preciso?) reconhecer cédula, cartão de eleitor de todos os camaradas com confirmação de um dos fiscais da FRELIMO e dos membros da brigada. Dos macacos (oposição) um e outro, para não bandeirar, aceita, mas a maioria Para subscrever a edição em Inglês https://cipeleicoes.org/eng/ e a versão em português https://www.cipeleicoes.org/ Eleições 2023-2024 - Boletim Sobre o Processo Político em Moçambique 78 – 17 de Maio de 2023 2 não.” Ou seja, a sugestão de Nhanombe (o nome dele é Gito Tomás Nhanombe) é no sentido de os brigadistas apenas reconhecerem e receberem documentos provenientes da Frelimo e recusar os que são apresentados pelos eleitores da oposição. Aliás, aos membros e eleitores da oposição apenas se deve aceitar um e outro para não criar condições de espaço para contestação e tumultos.

Um dos supervisores adoptou um sistema só seu de bloqueio. O sistema consiste em exigir mais documentos aos eleitores do seu posto de recenseamento, localizado na zona Industrial. “Tenho até exigido cartão de trabalho para quem diz estar a trabalhar no Porto ou CFM” - congratula-se pela estratégia e afirma com orgulho: “O cerco está apertado” para oposição. A Gizela Patrício compara o método de bloqueio que usa às interrogações do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC): “No meu posto a entrevista fica a parecer que trabalhamos no SERNIC”.

Uma outra mensagem, escrita pela supervisora Linete Ucama, dirigida ao director do STAE e aos colegas, refere que apareceram no seu posto de recenseamento, “os ditos chefes de postos do MDM Manga sem crachás” a procura de “três formados do INE que já iam ao internato. Andaram com eles até no portão”. De seguida, acrescenta, “perguntaram: quem vos mandou recensear”, “se não apareceu um carro com jovens de Buzi” e se os jovens estavam hospedados no internato local. Nessa altura, vinha “um fiscal nosso (Frelimo). Ligou para o comandante e assim estão detidos”. Não está claro se os detidos são os chefes de postos ou os jovens.

A resposta do director distrital do STAE foi: “Bem feito. Família, estamos de parabéns, o inimigo está aflito, mas precisamos de continuar atacando” - e dá uma orientação: “aceitem testemunhas e cédulas só se for para nos beneficiar, caso contrário, não”.

Um outro interveniente alerta aos colegas para que estejam “sempre atentos e alinhados”, porque esta “é a nossa vez”. João Ernesto, outro membro do grupo, aprova a ideia e aplaude: “Isssoooo mesmo... Vamos a isso…na guerra não se atira rebuçados…pulga arranca-se e sangra. Vamos extrair matequenha. Agora somos nós…a força da mudança”.

Numa das mensagens, a supervisora Gizela Patrício manifesta preocupação por ter havido o recenseamento de um número considerável de eleitores num dos postos e desabafa: “Espero que que pelo menos 90% sejam nossos cdas (camaradas), que se recensearam, se for o contrário estamos lixados”.

Os supervisores e os respectivos directores chegam a celebrar os bloqueios que fazem aos potenciais eleitores da oposição. Um dos supervisores orgulha-se de ter devolvido cédula de um dos eleitores. Paulino Tato Luís comunica ao Director Distrital do STAE que “Quero mandar prender o secretário do 1º bairro Macuti. Está sempre a sondar o meu posto”. Em resposta, Nelson Carlos de Rosário autoriza: “Faça isso chefe”.

https://www.cipeleicoes.org/wp-content/uploads/2023/05/Boletim-das-eleicoes-78.pdf  


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