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sábado, janeiro 28, 2023

Debater I

Pode ser que antes eu sabia debater com os amigos, mas já que não era de forma organizada e muito menos numa reunião com moderador, prefiro chamar de discutir. Debater na verdade aprendi no centro de formação de professores primários de Momola, em 1978 e agradeço muito por ter tido aquela oportunidade. Ali e pelo menos naqueles primeiros cursos forjava-se o homem para saber construir opinião e argumento.

Tínhamos frequentemente reunões de grupos, de turma e gerais. Discutíamos casos de violação de regulamento tanto pelos alunos (instuendos) como pelos formadores (instrutores) de forma aberta em reuniões gerais, quando fosse necessário. Havia vezes que esse tipo de reunião começava às 19:00 ou 20:00 horas, se bem que me recordo, para termirar às 7:00 do dia seguinte, altura que Isaias Mahache, o director (responsável político) dizia com o seu sotaque: “No meu “lerógio” são sete holas”.

O mais interessante é que as nossas particularidades, os nossos espíritos, se notabilizavam nesse processo de formação de um professor novo, em particular e de um cidadão, em geral. Havia alunos e muitos que aprendiam e aperfeiçoavam o sentido crítico, havia os que pareciam indiferentes ou com receio de manifestar as suas opiniões sobre alguns assuntos, havia os chamados reguilas ou indisciplinados e por último, outros em número muito pequeno, mas muito visíveis e barulhentos que tudo que diziam estava bem estudado para agradar à direcção do centro. Estes últimos são do tipo que hoje em dia chamamos de bajuladores, embora esta palavra não seja nova. O mais notável bajulador, era o J.P., um que falava tipo o Mafundisse da RM e nós sabiamos o que ia dizer sempre que levantasse, daí que se gritava “Lééénine”. Se ele pensava que era elogio porque estava à altura do político Vladimir Lénine, para nós era o mesmo que dizer: bajulador, lambebota. Já que nunca havia relação de proximidade entre os instrutores e instruendos, os primeiros deviam ter pensado que viamos o J.P., como um cidadão politicamente formado ou maduro.

Havia um outro, J.T. que quando fosse sobre alguma violação do regulamento propunha medidas severas como a de cavar trincheira. As violações mais notáveis eram de ir à população e comprar mandioca e ou amendoim para comer, colher laranja ou mesmo abandonar (fugir) o curso ou namorar. Namorar era raro porque praticamente não havia oportunidade. Quem fugisse do curso devia evitar de ser visto na cidade de Nampula para não ser recolhido ao centro com ajuda da polícia. Uma vez, trouxeram de volta, um colega que por sinal era do grupo de Nacala, o meu. Na reunião de apresentação do fugista, J.T. sugeriu as medidas muito severas como de rapar-lhe o cabelo, tendo em conta que naquela altura era estranho ver alguém com cabeça rapada, e, cavar trincheira. Uma semana depois, era o próprio J.T. a fugir para sempre.

Os reguilas, faziam tudo por tudo para serem expulsos do centro de formação, mas era a coisa impossível naquele tempo. No lugar de expulso era ser reprovado por indisciplina e obrigado a repetir o ano. Os, mais notáveis eram o P.T. e T. o T. até negou de dar aulas na escola anexa. P.T. que havia repetido o ano por insdiciplina era muito alegre para com os colegas, mas sempre dava respostas secas aos instrudores.

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